quinta-feira, 30 de outubro de 2025

PARÓDIAS

(parte 2 da trilogia CANÇÕES, PARÓDIAS E VIRUNDUNS)
Entre os recursos da intertextualidade estão as paródias. Nestas, há sempre uma melodia feita anteriormente, cuja letra é modificada a fim de produzir humor, uma vez que o objetivo da paródia é divertir.
Exemplo de paródia de fácil compreensão (em que se utilizou da conhecida canção de "Parabéns pra Você", versão de "Happy Birthday to You"):
Parabéns pra você
Eu só vim pra comer
E o presente que é bom
Esqueci de trazer.
Lei 9610 de 19/02/1998 - Art. 47. São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da obra originária nem lhe implicarem descrédito.
Recorremos, para tanto, a Bakhtin, que define a paródia como um "híbrido premeditado", para ressaltar a impossibilidade de separarmos as duas vozes e/ou consciências que a paródia, enquanto enunciado, carrega simultaneamente. Bakhtin faz notar, ainda, que a diferença entre a paródia e o texto fonte pode estar evidenciada pelo gênero, isto é, que normalmente os gêneros paródicos são diferentes dos gêneros parodiados, já que estes não raro são decadentes, desgastados pelo uso e, por isso mesmo, alvo das deformações.
Assim é que já circularam entre nós recriações com efeito humorístico de algumas canções. Dentre as mais lembráveis, as paródias de 1) "Máscara Negra" (de Zé Kéti e Pereira Matos, gravada pelo próprio Zé Kéti e depois por Dalva de Oliveira), sem título certo ao ser recriada, e de 2) "O Trovador" (de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, sucesso na voz de Altemar Dutra), que foi convertida para "O Trocador".
1) Quantos tiras!
Oh, quantos gorilas!
Mais de mil milicos em ação!
Estudante está apanhando pelas ruas da cidade
Gritando por liberdade.
[...]
Vou gritar, agora!
Não me leve a mal
Fora o Marechal!(bis)
O Marechal era Castello Branco.
2) Sonhei que um dia eu era um trocador
Dos velhos bondes que não voltam mais.
Passava assim a toda hora:
– Olha a ficha, senhor.
– Olha a ficha senhora.
Tinha uma mocinha que sentava atrás,
Não pagava porque a brecha era demais.
Nos anos 1960, também surgiu a paródia de um samba de Ataulfo Alves. Assim que circulou um boato (falso como quase todos) da prática de necrofilia por uma conhecida pessoa da sociedade cearense. Nos versos seguintes, reconhece-se facilmente onde foram buscar (ô raça!) a fonte inspiradora:
Quando morrer
Me enterrem nu'a cova bem funda
Que é pro (aqui a gente fazia um "L")
Não mexer na minha bunda.
O "Sovaco de Cobra". Na década de 1970, Fortaleza teve um bar com esse nome. Situado no Mucuripe, era um bar modesto, com cardápio mnimalista e classificável como luar-dependente (devido à econômica iluminação da casa).
Dentre as mesas disponíveis, uma delas se destinava a Maciel e os músicos.
Esse era o ponto: o Maciel, além de proprietário, era a grande atração da casa com seu imenso repertório de chistes, canções fesceninas e paródias obscenas. Uma destas, "José Meu Mano", era uma releitura de "Cortando Pano", do repertório de Luiz Gonzaga: 
Comprei pinico pra José meu mano
Mas devolvi porque houve engano
Eu não sabia que José meu mano
Tinha o cu tão grande feito americano.
- Ai, ai, que boca estreita que o penico tem!
Quando ele caga, o pau fica de fora
Quando ele mija, o cu fica também. (bis)

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