sábado, 30 de novembro de 2019

BUFÕES

O pequenote Percheo
Em Heidelberg, cidade que integra a rota romântica da Alemanha, um ponto turístico imperdível é o Castelo de Heidelberg. É uma das mais famosas ruínas do país e símbolo da cidade.
Chega-se a este castelo por uma estrada ou, de uma maneira mais interessante, tomando-se o funicular.
Uma das atrações do Castelo de Heidelberg é o Fassbau (Edifício do Barril).
Foi mandado construir entre 1589 e 1592, especificamente para acolher o famoso Grande Barril. Estava diretamente ligado ao Salão do Rei, de forma a permitir, durante as celebrações, o acesso direto ao vinho contido no barril.
Percheo e eu
No Fassbau, o visitante se depara com a estátua de Perkeo (no alto da foto), o bufão da corte, símbolo do consumo de vinho, ali colocado por Carlos Filipe III para guardá-lo. Carlos Filipe trouxera Perkeo de Innsbruck, onde tinha anteriormente o seu trono como regente. imperial do Tirol, para a corte de Heidelberg. O rei tinha aprendido a tirar prazer do pequeno tamanho do bufão e de suas piadas espirituosas.
Conta-se que Carlos Filipe III lhe teria perguntado se conseguia beber o conteúdo de um barril sozinho. A resposta parece ter sido "Perché no?" (o que significa "porque não?", em italiano), o que daria origem à sua alcunha: "Perkeo".
E o rei: "Vem comigo para Heidelberg. Nomeio-te cavaleiro e camareiro do barril do rei. Na adega do meu castelo está o maior barril de todo o mundo. Se o beberes, a cidade e o castelo serão teus".
O vinho devia ser a única bebida que Perkeo conhecia desde a sua infância. Quando, em sua velhice, adoeceu pela primeira vez, o seu médico aconselhou-o a beber vinho com urgência e recomendou-lhe que bebesse água em abundância. Apesar do ceticismo, Perkeo seguiu o conselho do médico e morreu na manhã seguinte.
Perkeo era uma criatura digna de pena e tinha – como Victor Hugo mencionou – que consumir diariamente quinze garrafas de vinho, caso contrário era açoitado.
Original: EM, 15/03/2017
Triboulet
Os deveres de um bobo da corte medieval eram divertir o rei, sua corte e quaisquer visitantes que o rei quisesse divertir. Ele também era utilizado para animar o monarca (quando o monarca estava deprê), para atuar como confidente e, às vezes, como mensageiro. O termo "bobo da corte" só foi cunhado algum tempo mais tarde (antes disso, eles eram chamados de bufões). Mas o bufão tinha que ser esperto o suficiente para saber que era tênue a linha de separação entre provocar risos e ofender os que tinham poder sobre ele. Essa foi uma linha que o famoso bobo da corte Triboulet (na gravura) cruzou algumas vezes quando serviu Luís XII e Francisco I, reis da França.
Diz a lenda que, entre Francisco I e o Triboulet, aconteceu uma ríspida conversa, na qual ele disse ao rei que um dos membros da corte havia ameaçado matá-lo. O rei supostamente respondeu a isso: "Se ele o fizer, eu o enforcarei um quarto de hora depois". Ao que Triboulet supostamente brincou: "Ah, senhor, não é melhor então que fosse um quarto de hora antes?"
Certa vez, Triboulet não conseguiu se conter e deu um tapa no traseiro do monarca. O rei perdeu a paciência e ameaçou punir Triboulet. Um pouco mais tarde, o monarca se acalmou e prometeu perdoar Triboulet se o bobo pudesse pensar em um pedido de desculpas ainda mais ofensivo do que o desrespeito praticado. Alguns segundos depois, Triboulet respondeu: "Sinto muito, majestade, por não ter reconhecido você! Confundi-o com a rainha!"
Em outro exemplo famoso, ele enfureceu o rei por tirar sarro da rainha, após o que sua execução foi ordenada. No entanto, diz a lenda que, devido a seus anos de bom serviço, ele foi autorizado a escolher o modo de sua morte. Depois de refletir sobre isso, Triboulet disse ao rei: “Bom pai, pelo bem de Saint Nitouche e Saint Pansard, patronos da loucura, eu escolho morrer de velhice". Isso divertiu tanto o rei que ele optou por banir Triboulet em vez de executá-lo.
O mais famoso dos bobos das cortes medievais, Triboulet passou para história com o título de "bobo do rei e rei dos bobos".
Original: EM, 30/10/2019

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