quinta-feira, 31 de outubro de 2019

PONTOS DE VISTA

PREFÁCIO
Ao compulsar os originais de "Pontos de Vista", que Marcelo me fez chegar às mãos a fim de apensar o prefácio, meu pensamento voou ao distante ano de 1980. Quando um grupo de médicos (em data não exatamente lembrada) reuniu-se no auditório do Centro Médico Cearense (CMC) - a hoje Associação Médica Cearense -, para discutir a ideia da publicação de uma obra literária. O CMC encontrava-se na gestão do Dr. José Aguiar Ramos (1980-1981), que sucedeu ao profícuo período do Dr. Paulo Marcelo Martins Rodrigues (1978-1979), em que foi criado o jornal "CMC Informa" e reformulada a revista "Ceará Médico".
O médico Dr. Emanuel de Carvalho Melo, que vinha exercendo o cargo de diretor cultural da instituição, foi convidado por Aguiar Ramos para implantar a editora do CMC. Com o surgimento desta ferramenta cultural, um grupo de esculápios acorreu à entidade com a intenção de publicar uma coletânea. Dez médicos, com suas produções literárias e a escolha consensual do título "Verdeversos" para uma antologia exclusivamente dedicada à poesia. O professor Adriano Espíndola, que teve o tempo de uma vida para escrever sua "Poesia Presente", honrou-nos com a apreciação dos textos. Então, demos a entrada do calhamaço na Imprensa Oficial do Ceará (IOCE).
Imaginem o que é acompanhar a edição de um livro naqueles tempos em que o setor gráfico não dispunha dos recursos da informática. Numa semana, Emanuel comparecia na IOCE, com os bicos de pena que havia desenhado para as ilustrações. Na outra, era a minha vez. Para conferir se os erros tipográficos anteriormente detectados tinham sido corrigidos. Ou se, à maneira de "memes", haviam se multiplicado. Somos gratos ao funcionário e hoje cineasta Rosemberg Cariry, que condignamente nos recebia nas visitas ao parque gráfico da IOCE.
Lançado o "Verdeversos", em uma noite de autógrafos, muitos autógrafos, na sede do Centro Médico Cearense, seguiriam-se em anos posteriores outros livros: "Isto não se aprende na escola" (1982), com temas médicos, "Encontram-se" (1983), de prosa e poesia, "Psiquiatria Básica" (1984), de Gerardo Frota Pinto, "Temos um pouco" (1984), de prosa e poesia, e "Nomes e expressões vulgares da medicina no Ceará (1985), de Eurípedes Chaves Jr.
O CMC, após o lançamento de "Verdeversos", foi também o palco das articulações para a criação da Sobrames Ceará. Tendo como seu idealizador o Dr. Francisco Dionísio Aguiar, e corporificada ao longo de 1982, ela contou com o apoio de uma comissão de médicos escritores coordenada pelo Dr. Francisco Nóbrega Teixeira, que contribuiu com a elaboração dos estatutos. Autodeclarando-se não escritor, mas empenhando-se a fundo na criação da Sobrames Ceará, Dionísio "sonhou um sonho por nós", no dizer da saudosa Dra. Celina Côrte Pinheiro.
Em 4 de novembro, com a presença do presidente da Sociedade Brasileira dos Médicos Escritores (Sobrames Nacional), Dr. Odívio Borba Duarte, em uma sessão solene realizada no CMC, tomou posse a primeira diretoria da Seção do Ceará da Sobrames. Após a posse, seguiram-se algumas reuniões em que foram estabelecidas metas e tomadas decisões importantes para a consolidação da entidade. Uma delas, a merecer destaque, foi a decisão de que todos os autores de duas coletâneas, "Verdeversos" (publicada em 1981, anteriormente à criação da Sobrames-CE) e "Encontram-se" (1983), seriam considerados seus sócios fundadores.
O colega Emanuel, ao tempo em que foi responsável pela Editora do CMC, foi também o primeiro presidente da Sobrames Ceará (1982-1984). Tendo prosseguido, no período seguinte (1984-1987) em que eu estive como presidente da entidade, como membro de sua segunda diretoria. Por haver Emanuel coordenado, como editor do CMC, as primeiras edições das antologias dos médicos-escritores, sucedeu serem estas chanceladas pelo Centro Médico Cearense e pela Sobrames Ceará (a partir da criação desta última).
Sim, a medicina nos permite a esses voos do espírito em que, dedicados à literatura, criamos histórias, simulamos vidas, transfiguramos a realidade e até inventamos universos autônomos (a partir de verdades que não podem ser medidas pelos mesmos padrões das verdades factuais). Temos um entendimento com a palavra (aliança secreta, diria Cortázar) para não desvanecermos. E, nessa árdua luta para vencer a poeira do tempo, por isso, escrevemos. Existe um caminho de volta que nos leva da fantasia à realidade e esse caminho é a arte, como assinalou Freud.
Assim é que chegamos a 2019, ano em que é dado a lume "Pontos de vista". Um alentado livro de 350 páginas organizado e apresentado pelo Dr. Marcelo Gurgel, com a arte de capa do cirurgião e artista plástico Dr. Isaac Furtado, e contendo poemas, contos, crônicas, causos, ensaios, artigos, reminiscências, discursos e reflexões de seus 64 autores. Destes, 60 são médicos e 4 são sobramistas oriundos de outros ofícios. Suas minibiografias são apresentadas na sequência deste introdutório. Nesta 36.ª antologia da Sobrames Ceará, há autores antigos, novos e um, digamos, "neoantigo". Trata-se de Winston Graça, um dos dez esculápios que estiveram, nos idos de 1981, em colóquio com as musas da poesia nas páginas de "Verdeversos", onde tudo começou.
Que "Pontos de Vista" lhes propicie uma agradável leitura!
É como prefacio.
Webgrafia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Associação_Médica_Cearense
http://preblog-pg.blogspot.com/2007/11/verdeversos.html
http://preblog-pg.blogspot.com/2015/12/antologias-da-sobrames-ceara.html
http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2015/04/por-celina-corte-sobrames-regional.html

Dr. Paulo Gurgel Carlos da Silva
Ex-Presidente da Sobrames-CE
Fortaleza, 9 de outubro de 2019

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