sexta-feira, 29 de julho de 2011

A COMPETIÇÃO PELA APARÊNCIA

As mulheres com polegadas a menos numa parte do corpo - sobre a qual recai a preferência nacional - têm agora o problema resolvido. Com a invenção do bumbum postiço, uma peça de vestuário que confere à usuária a ilusão de possuir um traseiro carnudo. Ora, mas isto apenas vem a se juntar ao já vasto arsenal das mistificações femininas, dentre as quais já se encontram: os cílios postiços, as lentes de contato coloridas, a cinta etc. Além de algo que está sendo prometido para breve, o sutiã "vamp", o qual, ao nível ilusório, deverá resolver o problema dos seios mirrados.
E ficaremos os homens de fora dessa competição pela aparência? Pois, salvo o caso do calvo que se defende com uma peruquinha, com o cuidado de que ela não seja óbvia, pouco lançamos mão de tais artifícios? Inclusive os rotulamos de "coisas de mulher", quando sobejam as provas de que a vaidade não é um apanágio feminino. Então, por que o escrúpulo de não participar desse jogo?
Guerra é guerra.
Podemos reeditar a moda dos poulaines, sapatos compridos que foram muito populares na Idade Média. Havendo-os até com o formato de pênis. Na Batalha de Nicópolis, em 1396, cruzados franceses foram obrigados a cortar as pontas de seus poulaines... para que pudessem fugir. Mas não é certo de que foi isso o que levou um papa a proibi-los.
Como também podemos trazer de volta o codpiece, que foi moda no século 18. Consistindo este em uma parte saliente da calça onde o homem podia aninhar o órgão sexual. Com bastante enchimento, claro, para dar a impressão de que teria um órgão em permanente ereção. Além disso, com cores berrantes, fitas vistosas, ouro e pedraria. Tudo o que pudesse chamar a atenção para o ponto em questão.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

EM CIMA DO MURO

Tem um conhecido político cearense que, em se tratando de viver em cima do muro, ganha longe do calango. Por isso, não me perguntem as artimanhas que eu usei para que a enigmática figura me concedesse esta entrevista, obtida no melhor estilo pinga-fogo.
Leiam-na. Foi um autêntico muro... er, furo de reportagem.
- Um lugar que conhece?
- Wall Street?
- Lugares que gostaria de conhecer?
- China (Muralha da China) e Israel (Muro das Lamentações).
- Como viu a queda do Muro de Berlim?
- Pela televisão.
- Não vale. Tem que dizer como se sentiu ao ver?
- Consternado. E botei o meu muro de arrimo no seguro.
- Gosta de Fortaleza?
- Assim, assim. Ô terra de muro baixo!
- Música favorita?
- Daqui não saio...
- O que levaria para uma ilha deserta?
- Tijolo, cimento e areia grossa.
- O que não dá certo?
- Duro com duro. Não faz bom muro.
- Animal de estimação?
- Pela sadia convivência, o gato.
- Coisas que detesta?
- Cerca elétrica e pega-ladrão.
- Uma qualidade que possui?
- O equilíbrio.
- Agora, sobre essas frases aí ...
- Eu não picharia o meu próprio muro.
- E quando vai sair dele?
- Não resolvi. O chão me dá vertigem.
- Obrigado pela entrevista.
- De nada.Vai sair no "Fantástico"?
- Não. É para a TV Muro.

Sobre a TV Muro
É uma pequena organização produtora de televisão localizada na cidade de Sabará, em Minas Gerais, a 17 quilômetros da capital Belo Horizonte, considerada a menor rede de televisão do mundo.
De cunho comunitário e sem nenhum registro na Anatel, opera como uma emissora de TV de baixissima potência, cobrindo apenas a rua Costa Rodrigues, do perímetro da igreja a no máximo uma quadra.
Criada por Francisco Dário dos Santos, o Chiquinho, está no ar desde 1997 com um programação totalmente própria. WIKIPÉDIA

sexta-feira, 15 de julho de 2011

DR. ASDRÚBAL E A DICOTOMIA NA MEDICINA

O refinado Dr. Asdrúbal, em se tratando de erguer o moral de um paciente, tem uma técnica infalível. Costuma aplicá-la em quem, receoso de estar apresentando uma grave patologia, ameaça entrar em estado de pânico.
Ele, simplesmente, convida o paciente a acompanhá-lo em um raciocínio de clareza solar.
- Ainda não formei o diagnóstico, quanto a isto vou recorrer a exames complementares. Mas já se vê que estamos diante de duas possibilidades: higidez ou doença. Se for a primeira, ótimo, você não tem nada, mas se for a segunda possibilidade, nem assim haverá motivo para se desesperar. Porque poderá ter uma doença simples, auto-limitada, para a qual nem sequer prescreverei medicamentos. Como também poderá ter a alternativa, qual seja, estar você portando uma doença realmente séria. Calma aí. A medicina hodierna já consegue curar muita doença com esse rótulo, o que poderá acontecer perfeitamente no seu caso. Ou não, caso esteja a apresentar uma doença considerada atualmente incurável. E daí?!  Se, aliviado dos sintomas por conta de um tratamento paliativo, você ainda poderá ter, daqui para frente, uma qualidade de vida razoável. Se bem que eu não possa descartar a outra opção que aqui se coloca: estarmos lidando com uma moléstia que, além de grave e incurável, é inteiramente refratária a qualquer medida de alívio. Bem, você tem religião? Ah, é cristão!... Porque agora vai ser das duas, uma: você, logo que morrer, irá para o Céu ou... para o Inferno. Ir para o Céu será ótimo, já que é a suprema aspiração de quem se diz cristão.
Segundo sei, Dr. Asdrúbal sempre para neste ponto. Por considerar uma redundância mandar para o Inferno quem já apresenta uma doença grave, incurável e de grande padecimento.
O Barão de Itararé não racionalizaria melhor.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

DR. ASDRÚBAL E O CLIENTE COM "AQUILO ROXO"

Já está fora de moda falar atualmente em "aquilo roxo". A expressão entre aspas remonta aos tempos da República das Alagoas, quando o presidente Collor, em momento de destempero verbal, usou-a para designar os seus "países baixos".
No entanto, em sua pujante vida profissional, Dr. Asdrúbal chegou a assistir um paciente que tinha "aquilo roxo". Literalmente falando.
Era um cidadão, aí pelos cinquenta anos, que compareceu em seu consultório acompanhado da esposa. Ele veio muito preocupado... por estar apresentando a genitália com a cor modificada. Roxa, sem que o cidadão estivesse a apresentar sintomas e outros sinais que fizessem suspeitar de alguma doença conhecida.
O Dr. Asdrúbal examinou-o, num primeiro momento considerando se achar diante de um grande desafio diagnóstico. Pois essas situações de desconforto, mais do que as grandes doenças, costumam ter uma elucidação diagnóstica mais difícil.
Após examinar o paciente, verificou, porém, que... um pouco da coloração arroxeada tinha passado às suas mãos! Dr. Asdrúbal valorizou esse detalhe. E, virando-se para a esposa do paciente, fez uma série de perguntas que mostraram toda a sua percuciência.
- A senhora vem usando algum método contraceptivo?
- Sim, doutor. O diafragma.
- Somente isso?
- Acrescento uma geleia espermicida.
- Sabor uva, não é?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

FALAR FINO É UMA DESGRAÇA

Em princípio, falar fino é um desgraça. Quando o dono da voz é homem e, por motivo profissional, muito depende dela em seu relacionamento público. O caso de Valdemar, que é um político.
De sua adolescência, guardava uma triste recordação: o bullying que sofrera. Ninguém da turma se dirigia a ele que, por pura gozação, não fizesse a voz em falsete.
Para agravar a situação, Valdemar fora batizado com o nome do protagonista do "Boi da cara preta". Uma marchinha composta por Paquito e cantada por Jackson do Pandeiro, que teve enorme sucesso em 1959 e nos anos seguintes.
Mas o que dizia a tal marchinha de carnaval? Isto:
"Coitado do Valdemar,
Tá dando o que falar,
Comeu carne de boi, falou fino
E deu pra se rebolar.
Mas que azar!"
Mas que azar mesmo! O político Valdemar, qual o xará da marchinha, era uma finura de voz. Podia fácil, fácil entrar para um coro de castrasti - sem necessidade de sofrer mutilação. Quanto a rebolar, é que não!
Ah, bem que ele tentara - inutilmente - a solução de sua deficiência vocal! Numa peregrinação que durou anos por consultórios de badalados otorrinos e fonoaudiólogos de sua cidade. Já tomara inclusive umas aulas de empostação com a Glorinha Beutenmüller, sem que, como se prognosticava, conseguisse pegar o famoso timbre "global".
E Valdemar continuou a falar fino por esse mundo afora. Num palanque, então, sua voz era um estorvo. Logo aparecia um engraçadinho para gritar:
- Fala grosso senão eu te janto!
Intervenções jocosas desse tipo vinham acontecendo cada vez mais em suas aparições públicas. Provocando zombaria na plateia e, por via de consequência, comprometendo o seu projeto político.
Foi um cabo eleitoral que resolveu o problema: "Dr. Valdemar, de tarde coloque um copo d'água ao sol pegando o mormaço. Aí, beba que isso dá uma laringite danada, garanto que engrossa a voz. Para o caso de passar da conta, o senhor chupa umas sementes de romã."
Graças a esse macete, é que a voz de Valdemar tem ficado mais encorpada. Há momentos até em que ele se sente o próprio Estentor.
Mas... como tudo tem limites: Valdemar já sabe que nunca vai ter aquela voz de Noriel Vilela, o baixo dos Cantores de Ébano.