sexta-feira, 25 de junho de 2010

ERA LONDRES E CHOVIA

A história da invenção das palavras cruzadas contada "comme il faut"
Certa vez o "que possui milhões" Vitor Orile, encontrando-se em "cidade à margem do Tâmisa", recebeu convite para jantar na casa de um "pessoa com afeição recíproca". Orile foi. Porque chovia torrencialmente, "sexta nota musical" pelas tantas, depois de servido o "infusão feita com o fruto do cafeeiro", o "aquele que recebe convivas à sua mesa", lhe perguntou:
- O que se pode fazer em uma noite de "precipitação atmosférica sob a forma de gotas" para matar o "medida de duração dos fenômenos"?
- Um destes "dois elevado ao quadrado" entretenimentos, respondeu Orile. Jogar "ponte, em inglês", contar "narrativa curta e picante", fazer "ações de adivinhar" e tocar "instrumento musical que sucedeu ao cravo".
Mas, enquanto falava, Orile, com o "articulação que reúne o braço e o antebraço" apoiado na mesa, se entretinha rabiscando letras e quadrículas nos pedaços de uma "lâmina delgada feita de celulose". De repente, exclamou:
- Enganei-me. Podemos fazer "o número de sentidos do corpo" coisas. Acabo de inventar um novo "ocupação ligeira e agradável".
Foi como Orile inventou as palavras cruzadas.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

TEM REMÉDIO?

Para que tudo fique bem claro começarei do PRIMODIAN. VALDA e eu, muito além daquele chavão de onde cabe um CAMBEM dois, juntos vivíamos. Éramos um casal PLENUM de amor. Como se a vida, em vez de um VALIUM de lágrimas, fosse apenas um CONMEL. TANTUM que nada abalava a nossa felicidade, nem mesmo uma rara e casual BRIDINA. E eu só podia GABAX quão afeiçoado um ao outro éramos. SIRBEN que, entre nós, a mútua renúncia não fosse a condição SINEQUAN para nada.
Mas, eis que um dia, numa praia de grande movimento, ela se decidiu por INOVAL. E, ante a um monte de olhares lascivos, fez um despudorado TOPLEXIL. Eu REAGIN, evidentemente (o que viria depois, o nu FRONTAL?). E, durante dias,lhe fiz um grande SERMION de advertência, sem que - detalhe CAP-TAL - ela se mostrasse uma MADALEN arrependida. Pois ficou em SILENCIUM, só ouvindo como se não fosse, DIABETAL, com ela a reprimenda.
Ah, eu devia ter entendido aquele seu MUTIL como um deixe ESTAC! Pois logo, logo ela partiu PARALON. SOBEE inclusive que foi para viver uma nova experiência, uma NOVARRUTINA. Não pensando em entrar para o teatro BESEROL, mas porque eu lhe havia cansado a BELEXA. E que o UVILON disso tudo fora a minha incompreensão. Como se um homem INTAL situação não devesse reagir, devesse SERTAL um desfibrado que tudo suporta calado.
Ora, não foi porque eu possuísse um humor LABEL, eu fiquei fulo porque ela DESOBESI-M. Ao armar COFASOL na praia, um lugar onde as pessoas de boa índole vão apenas FLANAX. Mas o importante é que hoje eu tento ser FORTEN, me libertar desse maldito COMPLEXO B. E procuro cair na REALAN, o que não é FA-CYL no transe em que me acho. Porém é preciso, antes que me venham ideias de DUOCIDE, já que desaprovo as soluções violentas. Por natureza, sou MANSIL de espírito e tenho de sobra o NOBRIUM sentimento do perdão.
É ESSEN o meu compromisso: quando um ser FEMINIL aprontar outra, haja o que houver, eu vou me conservar SERENIUM. TOTALENS. Isto é, pelo menos enquanto não VOLTAREN os meus incontroláveis ciúmes...

Crônica publicada em "O POVO - CULTURA", em 20/05/89, e no "JAMB", em data incerta. Alguns dos remédios citados no texto não são mais produzidos pela indústria farmacêutica.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

DOM FULANO X DOM BELTRANO

Há os que defendem a monarquia de um modo equivocado desde o início. Propondo o nome de Dom Beltrano para ocupar o trono do país, caso o plebiscito realmente decida que o Brasil vai virar reino. E que, com isso, lesam os interesses de Dom Fulano, o qual, na linha da sucessão, tem precedência. Ainda que Dom Fulano, força é reconhecer, seja um que se perde pelo nome. O que ele tem não condiz com a pompa e a circunstância do cargo real, é demasiado vulgar.
Se é pelo passado de dedicação à TFP, também vence Dom Beltrano. Cuja militância em prol da Tradição e da Propriedade, fê-lo até esquecer a Família. A ponto de Dom Beltrano, apesar de madurão, ainda não ter um descendente - e isso é mau! Na medida em que a dinastia para ir em frente vai ficar na dependência de primos, cunhados e outras lástimas.
Bem, a culpa disso cabe ao próprio Dom Beltrano que, em algum lugar do passado, fez voto de castidade. Não sabendo ser, naquele momento, sábio como Salomão foi. Embora se diga que Dom Beltrano tende hoje a revisar a antiga decisão. Quer dizer, se é para ganhar a coroa ele topa encarar uma outra - de carne e osso. Mandando buscar essa coroa de sangue azul lá "nas Oropas", para o bem da Casa de Bregança Bragança.
E por falar em coroa, como anda a coroa real? Dizem que, numa oficina de reparos, desfalcada dos brilhantes que foram doados para acabar de vez com a miséria do Nordeste. Agora, que a hora de colocá-la na cabeça já se aproxima, justo é que ela fique outra vez "joinha". Pois Dom Beltrano promete usá-la, em grande estilo, no primeiro baile que houver na Ilha Fiscal. Para provar inclusive que é melhor anfitrião do que o seu antecessor na época do Brasil império.
Como palavra, plebiscito soa desagradavelmente: evoca plebe. Mas, paciência, é através dessa forma popular de consulta que o Brasil pode voltar a ser monarquia. E integrar o fechado clube onde já se encontram Lesoto, Tonga, Nepal, Suazilândia... Com essas nações o Brasil tem muito a aprender. Por exemplo, conseguiria o brasileiro sobreviver caso tivesse uma renda anual per capita de 170 dólares? Não? Pois o nepalês consegue isso e ainda saúda o seu rei.
Mesmo detestando a carcomida república, Dom Beltrano não pretende discriminar quem o serve lealmente. A prova é que ele carrega, no bolso do colete, o nome do ex-ministro Magri para o cargo de bobo da corte. Magri, que acredita piamente que do céu chovem dólares, está compenetradíssimo. Em conversa reservada com o futuro monarca, já lhe prometeu não inventar neologismos. Só arcaísmos, daqueles que nos façam lembrar os bons tempos d'antanho.
(rascunhado em 1993 e reescrito em 2010)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

JÁ FOI ASSIM

Para dissipar umas nuvens monárquicas que estão a se formar no horizonte, bata (com cetro, não) na madeira três vezes.
Se isto não der resultado, e tivermos de suportar pompas, circunstâncias e tais, que o anacrônico sistema de governo deverá trazer para o país, sem que em contrapartida algo de bom advenha, oportuna será a seguinte sugestão:
A Corte, por ocasião de sua reinstalação, começar pelo baile da Ilha Fiscal. Era o que estava fazendo quando, para a felicidade geral da nação, foi-lhe dado em 1989 o vade retro.
* * * * *
O monarca representava o Poder Moderador. E, como tal, indicava os nomes que iam compor o Conselho de Estado e o Senado - este último em caráter vitalício - aos quais competia apenas dizer o que o soberano queria ouvir. Ele também indicava o primeiro-ministro que, por sua vez, montava o Gabinete que ia governar o país.
Havia eleições. Nestas, apenas uma diminuta parte da população votava, a fração constituída pelos grandes proprietários de terras e de escravos, cujos representantes alternavam-se no Poder Legislativo como as duas faces da mesma moeda.
Poder Judiciário tampouco merecia ter este nome, pois os magistrados podiam ser suspensos e demitidos.
E acrescentem-se estas outras mazelas: uma Constituição outorgada; uma população material e intelectualmente desassistida; a tolerância com o câncer social da escravidão; Estado e Igreja imiscuindo-se mutuamente; as reclamações das províncias resolvidas manu militari; uma economia baseada no modelo agrário exportador; a pouca expressividade de sua área científica etc.
Cair na real é constatar que o Brasil já foi assim.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

AO REI, NADA

Vote no rei e não vote nunca mais. É como deveria ser, a bem da verdade, o slogan inteiro dessa fajuta campanha monarquista. Pois não consta que existam, nos países onde a anacrônica forma de governo ainda medra (epa!), súditos votando em reis. Quanto ao símbolo, que os monarquistas andam utilizando na campanha televisiva, mais parece "chupado" do logotipo do McDonald's. E, não bastando o enchimento de paciência, ainda deram de passar o pires, digo, a coroa.... pedindo doações. Ora, vão gastar um pouco daquilo que já arrecadaram com os laudêmios de Petrópolis!
Leitorado, 17/03/1993

Sobre a suposta neutralidade do rei, ocorrem-me algumas dúvidas: O rei não fede nem cheira? Não toma partido de nada exceto da TFP? Está descarregado e com isso não se deixa influenciar por campos magnéticos? Decide ele da forma salomônica, o que inclui naturalmente algumas criancinhas cortadas ao meio? Ou, então, o rei já vem com a roupa suja lavada a sabão neutro? Enquanto não me esclarecem, vou apenas torcendo... não, não é a roupa do rei. É para que não venha a nós o vosso reino.
Leitorado, 19/03/1993

No finado império havia uma lei fixando em 50 o número máximo de chicotadas que o escravo podia levar por dia. Apesar desse tabelamento, por ordem do patrão ou por simples entusiasmo sádico do leitor feitor, era comum o escravo ser chicoteado até à morte. Encurtando assim uma vida útil no eito que poderia durar dez, quinze anos... para prejuízo do desavisado patrão que, desgraçadamente, de arrependimento não morria. E publica-se uma pequena relação dos instrumentos, além do já citado chicote, que eram na época usados para a aplicação de castigos corporais nos escravos: correntes, gonilha, gargadeira, tronco, viramundo, algemas, peia, máscara, anjinho, palmatória, ferro de marcar etc. A informação é dada em atenção a Sandra de Sá, Macalé, Neuma da Mangueira e outras personalidades da raça negra que possam estar atualmente envolvidas na campanha da monarquia. Escravidão e monarquia no Brasil foram as duas faces (azinhavradas) da mesma moeda. Quando uma acabou, a outra idem.
Leitorado, 02/04/1993