quarta-feira, 30 de julho de 2014

VULCÕES NO BRASIL

Se você depende da crença de que não existem vulcões no Brasil para sustentar algum tipo de ufanismo vai se decepcionar com o que eu vou afirmar. Existem vulcões no Brasil.
Como o Pico do Cabuji, também conhecido como Peito de Moça, que fica no município de Angicos, Rio Grande do Norte. No caminho entre Natal e Mossoró, e há quem diga que ele, com seus 590 metros de altitude, é o verdadeiro Monte Pascoal. Bem, como é um Peito de Moça que já mirrou (desde o Holoceno), é melhor eu seguir viagem.
À ilha de Trindade, que tem numerosos centros vulcânicos. A cerca de 1200 quilômetros da costa do Estado de Espírito Santo, e com íngremes paredões, essa ilha só pode ser visitada de helicóptero. E uma pequena guarnição da Marinha brasileira que vive por lá diz nunca ter visto sinais de atividade vulcânica. Precisaria ter residência fixa na ilha há 40 mil anos para ter pisado na lava ainda quente.
Ah, o Vulcão de Nova Iguaçu! Situado no município de mesmo nome no Rio de Janeiro, este vulcão está completamente extinto. Aliás, pode até não ter existido. As comunidades acadêmicas estão divididas e mantêm há anos acaloradas discussões sobre a realidade do vulcão, indo das placas tectônicas ao fluxo piroclástico. Etc. A mim pouco importa que grupo vá ganhar a contenda, eu não preciso deste vulcão para acendrar (sinônimo de limpar com cinzas) a alma do meu Brasil varonil.
Não muito longe de Nova Iguaçu, mais precisamente na capital do Estado, é onde eu encontro finalmente o meu argumento a fortiori. Ocorre no Rio de Janeiro a maior concentração de vulcões do mundo. A cidade tem centros vulcânicos para islandês nenhum botar defeito. Disfarçados de bueiros da Light, eles explodem a todo instante pela cidade, inquietando a população. E basta uma centelha num desses hot points para garantir a sua ignição.
Ler também: Agora é cinza e Um vulcão sem o guardião.


PS – Surgiu no RJ um movimento para mudar o nome da cidade para "Bueiros nos Ares". FOTOGALERIA

Original: EM, 15/07/2011

quarta-feira, 23 de julho de 2014

LACÔNICAS

1 A história sobre o Dr. Abernethy e uma de suas pacientes é um clássico. Ele era um homem de poucas palavras e a paciente, uma senhora de meia idade, sabia disso.
Entrando em seu consultório, ela descobriu o braço e disse, simplesmente, "queimadura".
"Um emplastro", indicou-lhe o médico.
No dia seguinte, ela retornou, mostrou-lhe o braço e disse "melhor".
"Manter..."
Alguns dias se passaram até Dr. Abernethy vê-la outra vez. Então, ela disse:
"Ótimo. E seus honorários?"
"Nada", respondeu o médico, explodindo numa loquacidade incomum. "Você é a mulher mais sensata que eu já conheci em minha vida!"
(William Walsh Shepard, Handy-Book of Literary Curiosities, 1892)

2 Uma ordem religiosa incluía entre suas exigências o voto de silêncio. Um adepto só podia quebrá-lo uma vez a cada dez anos. Nessa ocasião, ele procurava o superior da congregação, dizia duas palavras e, em seguida, ficava calado por mais dez anos.
Um deles fez as quebras permitidas de silêncio, nas três vezes a que teve direito, com as seguintes palavras: "cama dura", "comida ruim" e "vou embora".
"Vá mesmo, você não se adaptou aqui nestes trinta anos", respondeu-lhe o superior.
Foi uma resposta meio longa para o padrão da ordem, reconheço, mas se tratava de se livrar de um espírito por demais rebelde.

3 Lacônico é o que é dito em poucas palavras, de forma breve, resumida, sintética. Homens de poucas palavras, quase taciturnos e algos rudes eram os antigos habitantes da Lacônia, parte do Peloponeso, de que Esparta era a capital. Diz-se, para exemplificar, que um ateniense enviado como arauto levou-lhes esta advertência: "Se chegarmos a essa cidade, nós a arrasaremos." E a resposta foi meramente esta: "Se..."
(apud Raimundo Magalhães Jr.)

4 Em 1741, Euler chega a Berlim depois de um mês de viagem marítima e terrestre a partir de São Petersburgo para se tornar diretor de matemática na recém-formada Academia de Ciências de Frederico, o Grande. Tendo suportado a intriga política e o regime brutal da Princesa Anna, Euler evitou a cena política ao imergir no trabalho. A mãe de Frederico, Sophia Dorothea, reclamou com Euler porque ele era tão lacônico. A resposta de Euler foi: "Senhora, acabo de chegar de um país onde todas as pessoas que falaram foram enforcadas".
(John Derbyshire, Prime Obsession, p. 59-60)

quarta-feira, 16 de julho de 2014

GRAVIDEZ DE ALTA DURAÇÃO

A maioria das gestações na espécie humana dura cerca de 9 meses e os médicos decidem induzir o parto se a gestação continua por mais tempo. No entanto, é possível uma mulher permanecer grávida durante um ano inteiro. A mais longa gestação do mundo durou 375 dias e o bebê tinha ao nascer um pouco mais de três quilos.

Gestações de um ano ou mais já deram à luz personagens da mitologia e da literatura. O fato é justificado pela necessidade de a mãe gerar uma obra-prima, muitas vezes destinada a fazer proezas. Com efeito, diz Homero que, tendo Netuno engravidado a Ninfa, esta só deu à luz um ano depois. Como informa Aulo Gélio, tão longo tempo era exigido pela majestade de Netuno, a fim de que o filho fosse formado com perfeição. Pelo mesmo motivo, Júpiter fez durar quarenta e oito horas a noite em que dormiu com Alcmena. Embora aqui se trate de uma fecundação, em menos tempo Júpiter não teria podido forjar Hércules, que limpou o mundo de monstros e tiranos.
Já Gargantua (na gravura acima, de Gustave Doré), personagem principal do romance homônimo de Rabelais, passou onze meses no ventre de sua mãe. E, por causa do inconveniente de ter ela comido tripas quando grávida, é que o bebê Gargantua passou por entre "os cotilédones superiores da matriz, entrou na veia cava e, subindo pelo diafragma até ao alto das espáduas, onde aquela veia se ramifica em duas, encaminhou-se para a esquerda e saiu pelo ouvido".
– Bem, saiu pelo ouvido e quem quiser que conte outra.
Original: EM, 16/06/2011

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A PARÁBOLA DO CHUPIM

O chupim (Molothrus bonariensis) é conhecido pelo hábito de colocar seus ovos nos ninhos de outras aves para que as mesmas possam chocá-los, criá-los e alimentá-los como filhotes. São diversas as espécies de que o chupim se aproveita para essa forma de materno-infantil de parasitismo, mas o tico-tico (Zonotrichia capensis) é a sua vítima favorita.
A vandalização dos ninhos do pequeno tico-tico pelo chupim, caso aquele não atenda aos propósitos deste, é talvez a grande razão para o tico-tico se deixar explorar pelo chupim - sem piar!
CiênciaHoje: os ovos castanhos e maiores são do chupim 
Dentre outras aves de igual sina, o que ainda não se sabia era que o tucano podia ser uma delas. Mas isso aconteceu de fato, uns vinte anos atrás, quando um chupim decidiu botar um ovo no ninho de um tucano-de-bico-duro (Ramphastos nando cardosus). Se bem que um chupim nunca fosse páreo para um tucano, ave maior e que tem um bico que intimida.
Só que esse tucano tinha certas preocupações, como a de um dia poder reinar sobre as demais aves da floresta. Não queria escândalos. Então, entrou em cena a chamada "turma do abafa": dois tucanos - Tucão e Serrão - além de um observador de pássaros, que, a respeito daquela desavença, garantiu o silêncio de si próprio e de seus companheiros de hobby and lobby.
Dentre as providências tomadas, a trinca mandou o inconveniente chupim ir chocar o seu ovo na Espanha.
Que é uma parábola?
É uma narração alegórica na qual o conjunto de elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior.
Quanto custa uma parábola?
Neste caso:
  • A isenção da CPMF para todos os meios de comunicação. 
  • O PROER da Mídia, que custou entre US$ 3 e US$ 6 bilhões aos cofres públicos. 
  • A mudança da Constituição para permitir que a mídia brasileira, então falida, pudesse contar com 30% de capital estrangeiro. 
  • A autorização para que o BNDES fizesse um empréstimo milionário à Globo.
Original: 30/06/2011

quarta-feira, 2 de julho de 2014

GERÔNIMOS

Porque se diz "Gerônimo" quando se pula de paraquedas?
O costume surgiu nos Estados Unidos em 1940.
Um pelotão de paraquedistas do exercito americano teria que fazer uma demonstração de salto, até então inédita, em Fort Benning, Georgia. Seria a demonstração da possibilidade de um ataque maciço de tropas com muitos paraquedistas saltando quase simultaneamente. Para isso, precisariam de muitos paraquedistas, e os saltos teriam de ser feitos rápida e sucessivamente.
No dia anterior à demonstração, alguns soldados estiveram assistindo a um filme de faroeste. Um filme sobre o lendário chefe apache Gerônimo (Geronimo,  de 1939). Estavam todos apreensivos com a missão. Depois de algumas cervejas, o soldado Aubrey Eberhardt, encorajado pela bebida, disse que o salto do dia seguinte seria como outro qualquer.
Os colegas duvidaram da coragem de Eberhardt. E este, injuriado, fez a promessa de que estaria tão tranquilo que ia se lembrar de gritar "Gerônimo!", em alto e bom som, para que todos ouvissem.
De fato, tanto os colegas que estavam dentro do avião, como os que já haviam saltado e estavam por perto, como ainda alguns colegas que estavam em solo ouviram o grito de Eberhardt ao saltar. Ele havia cumprido a promessa e, naquela ocasião, nascia o famoso grito de guerra (e de sorte) dos paraquedistas militares e civis.
Original: EM, 01/06/2013

Porque se escreve "Gerônimo" quando se comunica a morte do inimigo
"Geronimo - EKIA (enemy killed in action)."
Com esta curta mensagem, enviada pelo general Custer para a Casa Branca, um período de dez anos de buscas e repreensões chegou ao desfecho.
O governo dos Estados Unidos conseguiu, finalmente, pegar Geronimo (foto), o lendário chefe apache que tanto aterrorizava o pacífico povo do país.
O índio passara à condição de renegado desde que iniciou uma coleção de escalpos ianques em substituição aos genéricos mexicanos.
Um acordo tácito, que o índio fez com as autoridades do país, autorizava-o a participar de um animado hide-and-seek.
Ao ser divulgada a informação de que ele fora enfim encontrado, os skinheads estadunidenses, em estado de euforia, saíram às ruas para fazer um carnaval fora de época (embora não façam isso em época alguma).
Tudo saiu como estava previsto. Na fronteira com o México, quando era levado para os Estados Unidos, aproveitando-se de um momento de distração de seus captores, o corpo enorme inerme do líder apache decidiu assumir seu próprio destino e se jogar nas águas revoltas do Rio Grande.
Morto, Geronimo não é mais o inimigo público # 1 da nação, agora é o seu mais novo wetback.
Original: EM, 09/05/2011