quarta-feira, 26 de junho de 2013

DIETAS

“Eis a vossa comida que vem chegando!” Hans Staden 
(obrigado a se anunciar assim pelos tupinambás que o aprisionaram)
Regra geral os seres irracionais seguem dietas monótonas. O bicho-da-goiaba, por exemplo. Ele, o tempo todo, regala-se unicamente do fruto da goiabeira, o qual, a propósito, lhe dá o nome. Ele é ele e suas circunstâncias. Em sua subsistência, o bicho vai conseguindo, ainda, que a casa fique cada vez mais espaçosa. E a coisa é assim desde o bicho-da-goiaba primordial até seus descendentes atuais. Nenhum deles, que eu saiba, já foi visto tomado de cacho pela bananeira.
Pela razão e pela ração, o homem é o grande contraste. Porque  temos arte (culinária) e engenho (de cana) criamos, para nós, inúmeros regimes alimentares, muitos deles contrariando os decretos-leis da Natureza. E, malgrado os destemperos, vamos abrindo cada vez mais o leque das opções alimentares. Num futuro próximo, cardápio de restaurante deverá ser algo parecido com catálogo de autopeças. Cada prato (a feijoada, quem diria) terá um número de cinco dígitos, mais dígito verificador.
Contudo, em defesa do onivorismo a que chegou, o homem tem lá seus argumentos. Que vão do epicurismo à terapêutica e do modismo à elegância, abrigando-se nesta última categoria os argumentos mais ponderáveis. Existe, no tocante ao assunto dieta, um caldeirão de (como diríamos?) motivações. E nele, com o perdão dos nutrólogos, eu meto a colher sem medo de engrolar.
Dieta zero – A dieta terceiro-mundista. Seus seguidores um dia irão à forra com os pantagruélicos ou não me chamo História Universal. Os pantagruélicos, por sua vez, já devem estar botando as barbas no molho, obviamente tártaro.
Dieta zero à esquerda – É a dieta zero com ortodoxia. Aqui caldos de caridade não entram. Seus adeptos, na corrida para esganar os pantagruélicos, talvez cheguem antes.
Dieta vegetariana – Nem é carne nem é peixe, mas é onde o sectarismo está presente. Uma incongruência, não?
Dieta rígida – Levada ao extremo pode ocasionar rigidez no seguidor. A tal rigidez cadavérica.
Dieta da lua – Vem sendo indicada para quem nasceu com a boca virada para a lua. Um maná de dieta.
Dieta do astronauta – A comida vem em bisnagas. É uma dieta redutora de peso, mas não garante o resultado quando da volta à gravidade.
Dieta pantagruélica – Inspirada em Pantagruel, o personagem do primeiro romance de Pantagurel que buscava os prazeres da vida. Os pantagruélicos, comparados com os comensais da Dieta, são fichinha.
Dieta (com “D” maiúsculo, significando assembleia política, parlamento etc.) - Ah, nesta o comer é grande cousa!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

VOCÊ SABIA

... que existe no Brasil um clube de xenófobos com ramificação no exterior?
... que o filme "Lotação Esgotada" foi o maior fracasso de bilheteria de todos os tempos?
... que a Iluminação pode ser mais facilmente alcançada com uma dieta que inclua pirilampos?
... que os milagres escassearam porque fomos ficando mais exigentes?
... que o Universo tende a um estado de morte térmica, a começar pela fria salamandra?
... que o Corcunda de Notre Dame dava aulas em um curso de correção postural?
... que não vimos a última passagem do cometa de Halley porque ainda estávamos ofuscados com a do Kohoutec?
... que São Nunca, ao contrário do que o nome possa sugerir, teve uma canonização ultra-rápida?
... que um miniaturista japonês, usando um pincel ultrafino, pintou a Via Látea num átomo de hidrogênio?
... que o martelo agalopado já tem machucado o dedo de muito repentista metido a besta?
... que o salário mínimo é também chamado de "só?", qualquer que seja o seu valor nominal?
... que ninguém foi em vida tão singular quanto o poeta Vinício de Moral?
... que aquele que se deixa subornar é sempre digno de nota?
... que o espermograma é cheio de detalhes mas não diz do prazer havido?
... que esta não é a primeira vez (nem será a última) que alguém tira proveito da série "Você sabia'?

quarta-feira, 12 de junho de 2013

PAISAGEM MARINHA À MÁQUINA DE ESCREVER

♪UM PEQUENINO GRÃO DE AREIA
OLHANDO O CÉU VIU UMA ESTRELA♪
PAULO GURGEL

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A SÍNDROME DE ESTOCOLMO

Segundo a lenda, os fundadores de Roma, provenientes de Troia, após convidar os sabinos a um banquete, sequestraram as mais belas mulheres sabinas para povoar a nova cidade. Para recuperar as mulheres, o rei sabino declarou guerra a Roma; porém, as mulheres preferiram ficar com os seus esposos e filhos. Diante disso, os sabinos desistiram de pelejar com os romanos.
A lenda ilustra como o crime de sequestro é coisa antiga. É do tempo em que a cobra fumava de verdade.
Em tempos recentes, Paul Getty, um rapaz de vida desregrada, foi vítima desse crime. Não dando ouvidos ao avô, um dia viu-se obrigado a mandar uma orelha inteira ao unha-de-fome. Através do "Sequex".
Como é o tal "modus sequestrandi"?
Primeiro, formam uma quadrilha (com uma clara divisão das tarefas). Escolhem a futura vítima. Estudam seus hábitos. Ela faz uso contínuo de algum medicamento de alto custo? O diabo e o sucesso de uma operação estão nos pequenos detalhes.
Montam o plano. Onde será a abordagem da vítima? Alugam - por temporada - o imóvel que servirá de cárcere privado.
Depois, vão às compras: capuz, cordas, mordaça, colchonete e uma fita-cassete com ruídos ambientais para confundir a polícia.
Dois meliantes, aos quais chamarei de X e Y para que a quadrilha não se sinta ameaçada, fizeram um sequestro. Com a vítima em boas mãos, ligaram para os familiares dela e informaram as condições de resgate.
O valor era exagerado, 20 milhões, e o o interlocutor se mostrou espantado:
- Vinte milhões?! Eu não tenho esse dinheiro todo, a menos que eu também sequestre alguém!
- Ah, somos colegas! Nesse caso, damos-lhe um desconto.
- De quanto?
- Dez milhões.
- Aceitam fichas telefônicas?
Um comentário sobre a polícia: é uma estraga-prazeres. Tem que ficar de fora em todas as etapas do sequestro. Cartesiano, meu caro Watson. Se a polícia conhece X e conhece Y encontra no gráfico a localização do cativeiro.
O sequestro pode ser relâmpago ou às escuras. Na segunda categoria está o de sogra (cujo sequestro até chega a comemorar aniversário).
A vítima para cá, o dinheiro para lá. O negócio só é bom quando é bom para um lado e melhor para o outro. Como aconteceu com a Bela e a Fera.
Por fim, e como é de praxe, a história termina com o sequestrado dando uma entrevista coletiva para falar bem dos sequestradores. Chamam isso de síndrome de Estocolmo.