sexta-feira, 25 de maio de 2012

VIDEOGAMES

Assistimos ao boom dos videogames. Em todos os lares, os pais estão sendo pressionados pelos filhos para que adquiram o último modelo lançado. Tão sistemática é essa pressão que os pais, sacrificando o orçamento doméstico, acabam finalmente cedendo. Então, olha lá a garotada a apertar os botões dos joy-sticks, vivendo nas telas aventuras mil. Muitas vezes, envolvendo os velhos na brincadeira, porque o diabo do jogo é gostoso mesmo. E vicia em qualquer idade.
Mas... eu fico pensando se em nossas cidades não já estamos participando, mesmo involuntariamente, de alguns games.
Pivetes no sinal - O jogador tem que sincronizar a velocidade do carro com a abertura do sinal em cada cruzamento. Pegando sinal fechado é obrigado a parar o veículo. Quando então aparece uma bateria de pivetes oferecendo laranjas, bichos de pelúcia, jornais, água mineral... Na compra, não pode ultrapassar o dinheiro que leva na carteira ou o jogo é encerrado. O pivete que passa a flanela no para-brisa pode também arranhar a lataria do carro, e o jogador deve escapar dele assim que o sinal abrir. E, em cada bateria de pivetes, um está armado de gilete a fim de cortar a sua face. O jogador deve mostrar a sua habilidade levantando antes o vidro do carro.
Bum-eiro - Quatro mil bueiros que podem explodir a qualquer momento. Você deve percorrer a Cidade Maravilhosa sem ser atingido por suas explosões. Ganha o jogador que, atendendo a essa exigência, fizer o percurso mais longo.
Outros jogos (em desenvolvimento) - Ocupem favela, Enchentes, Saidinha bancária etc.
Pensamento
Videogames não tornam as crianças violentas. Proibi-las de jogar, sim.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

BAIXARIAS

Baixo no tipo físico e, como se isso não fosse bastante, fui um dos baixos do Coral Universitário em 1971.
Sob a regência do maestro Orlando, nos reuníamos aos sábados, à tarde, no Conservatório Alberto Nepomuceno. E ensaiávamos peças folclóricas e do cancioneiro popular, enquanto esperávamos o dia em que iríamos conquistar o público.
Era 1971: o ano do meu internato na Faculdade de Medicina! Atividades nos dois turnos, rodízio nas várias clínica e plantões. Além disso, responsabilidades extracurriculares em dois hospitais da cidade. Parecia improvável que, com tantos compromissos, eu pudesse ainda participar de um coral. Mas... aquelas tardes de sábado eram a oportunidade que eu tinha para espairecer. Ao lado de grandes amigos, como o engenheiro Osternes (irmão do compositor Brandão), o odontólogo Ivan Meira e o veterinário Wilson Ramos.
Antes dos ensaios com o maestro Orlando Leite, éramos separados em grupos. Baixos, tenores, contraltos e sopranos, os chamados quatro naipes do coral. E cada grupo, por sua vez, recebia a orientação de um monitor, em geral um aluno do curso superior de Música. Sabendo ler partitura, o monitor era quem nos passava a nossa parte nos arranjos musicais. E nós a aprendíamos de ouvido.
As vesperais findavam com os naipes do coral reunidos sob a regência do maestro Orlando. Ficava, modéstia à parte, aquela coisa belíssima. Ouvissem, por exemplo, a canção "Eu não existo sem você", de Tom e Vinicius, em que nós, os baixos, cantávamos:: "sei, eu sei, a vida assim, que nada levará de mim". Pronunciávamos apenas as sílabas que correspondiam às notas graves do arranjo. Uma moleza, reconheço.
Era comum algum participante do coral levar um amigo para testes. Os requisitos eram poucos: boa vontade e ser universitário; não era exigido conhecimentos de teoria musical. Uma vez admitido, tinha de ser assíduo. Wilson, por exemplo, foi levado por mim. Alto e espigado, Wilson deu a impressão inicial a Elói de que viera ao mundo para ser tenor. Elói era o monitor encarregado naquele dia de fazer a avaliação. Ele teclou ao piano uma nota bem aguda, que Wilson, a voz gravíssima, tentou reproduzir. Aquela nota, solfejada por Wilson, o bom Elói só foi encontrá-la a oitavas de distância. Apesar do jeitão, o amigo era outro baixo!
Os baixos ensaiávamos numa sala do pavimento superior do Conservatório. Terezinha, nossa monitora, para pegar a afinação do lá, descia até o térreo onde ficavam os pianos. Não tinha o chamado ouvido absoluto, o que não era nenhum desdouro (ouvido absoluto é um dom). Agora, por que não carregava consigo o simplérrimo apito de lá, de modo a evitar tantas e incessantes incursões ao piano, é isso até hoje  um mistério para mim.
Numa ocasião, tentávamos cantar as notas de uma música que já constava de nosso repertório, e nunca a tínhamos achado tão difícil. Até que um dos baixos protestou: "Nesse tom eu só sei roncar". Desconfiada de que algo estava errado, Terezinha correu à sala do piano para conferir a afinação e de onde voltou esbaforida. Pois não é que o "baixinho" tinha razão. Na subida anterior pela escada, "o lá tinha descido um pouco", foi assim que ela se justificou para nós.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

CORRE(I)ÇÃO

Sr. Editor,
Há algum tempo enviei-lhe uma carta em que fazia oportunas considerações a respeito do Congresso Nacional. Presumo que ela não tenha sido publicada, até o momento, devido ao excesso de termos bajulatórios que empreguei ao escrevê-la.
Ainda assim, rogo que publique em seu jornal (*) a sobredita carta, após atualizá-la com as seguintes alterações:
  1. Acrescentar ao adjetivo "capaz", que aparece na oitava linha da carta, a expressão "de tudo".
  2. Substituir a expressão "fruto do trabalho", que aparece na décima quinta linha, por "furto no trabalho".
Afinal, temos o melhor Congresso que o dinheiro pode comprar.

(*) O missivista não se lembra de que jornal estava a se referir nesta carta da década de 1980.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

OS 7 ANÕES DO ORÇAMENTO

Estes sete anões quem são? Sete parlamentares de baixa estatura física. Complementa-lhes a baixa estatura moral.
Na Grécia antiga havia sete sábios; no Brasil moderno são sete sabidos.
Fiéis ao número, vinham pintando o sete no Orçamento. Cada um com seus sete fôlegos e, em conjunto, formando uma hidra, um bicho-de-sete-cabeças.
Como a Hidra de Lerna, à espera de um Hércules que possa combatê-los. E dar-lhes, ao final, uma merecida sepultura política de sete palmos.
Homúnculos-de-sete-instrumentos, utilizavam-se de pé-de-cabra, chave-mestra, máscara, maçarico, gazua, dinamite e... um saco de aniagem para botar a pilhagem.
Quarenta ladrões? Nunca mais! Atendendo aos reclamos da modernidade, Ali Babá enxugou a folha de pessoal para sete anões.
Um que representa todos: João Alves, cujo espectro vai da felicidade à raiva. Aproveita-se da Era Dunga (em que vivemos) para dar seus golpes de Mestre. Fica Dengoso com o apurado e cai numa boa Soneca. Feliz com os bilhetes premiados em mais de duzentas loterias. Dá uns espirros - Atchim - porque o dinheiro não está bem limpo. Mas, ultimamente, por causa de uma CPI tem andado bastante Zangado.
Pelo dedo se conhece o gigante. Pela mão, se conhece o anão: mão-leve!