quarta-feira, 30 de outubro de 2013

PEGANDO PESADO

Já publiquei no BPG um post intitulado “Quem é o animal?”, em que mostrava a foto de um burro atrelado a uma carroça. Com tanta carga se encontrava a carroça que o pobre animal ficava suspenso no ar. Era, portanto, um caso de maus tratos aplicados em um ser irracional, à consideração da Sociedade Protetora dos Animais, como na época eu registrei.
Partindo do princípio de que o leitor não quer exercitar o lado sádico e sim apenas rever a foto, para o tal recordativo eu oriento o leitor a clicar no arquivo de dezembro deste blog e, em seguida, a rolar a página até o dia 15 do mês. LINK
Viu? Agora, a novidade. Parece que a minha crítica tocou o coração do proprietário do animal. A ponto de ele sustentar numa correspondência a mim endereçada que, mercê de algumas medidas simples que adotou, “as coisas já estão melhorando para o burro”. Diz-me o proprietário que “começou por retirar a carroça, pois esta, ao deslocar para si o centro de gravidade do conjunto, é que fazia com que o burro aeroplanasse”. E , para explicar o seu reajuste de conduta, ainda prossegue o proprietário: “Agora, eu ponho a carga diretamente sobre o animal e, deste modo, consigo fazer com que o burro retorne ao solo. E que até dê conta de carretos mais pesados.”


Depois de ver – com olhar analítico – uma foto desses novos tempos de conforto para o burro, que foi enviada juntamente à correspondência, o editor do BPG chegou a seu parecer:
O centro de gravidade realmente retornou ao animal. Mas o editor tem dúvida se o semovente consegue de fato se mover. A menos que o burro saiba, qual o mitológico Anteu, como obter umas forças extras a partir da Terra. Onde, ao que tudo indica, ele voltou a pôr os cascos.
Original: EM, 03/03/2007

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

UM HOMEM EM SUA CARROÇA



Esta cena me embevece pelo bucolismo.
Eu até perdoo o carroceiro se ele, em algum momento, houver chicoteado a mula. Eu falei mula? Então, já coloquei a carroça adiante dos bois.
Eu falei bois? Falei no sentido figurado (claro, não é uma figura?). Porque, olhando bem, existe dúvida quanto ao atrelamento de uma mula, bois ou de qualquer outro animal. E, por isso, não dá nem sequer para saber qual é a força de tração usada na carroça.
Além disto, trata-se de um veículo não emplacado. Não empacado, porém.
Detalhes tão pequenos de uma cena. Compensados plenamente pelo equilíbrio entre os elementos que formam a cena. Um homem, sua carroça...
E deixemos fora disto a sua bagagem.
Original: EM, 23/02/2007

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

HOMEM AO BURACO

Você está num buraco. Trate de reconhecer o ambiente e não se queixe de imediato. Não berre pedindo uma escada, pois não está no sonho de Jacó. Nem peça uma corda. Houve um ditador iraquiano que a pediu. E que aprendeu, tardiamente, que bom era quando estava no buraco. Sem a corda.
Não pule para não irritar com a trepidação os seres subterrâneos. Há uma política de boa vizinhança em curso. O mundo não pode viver sem o húmus que as minhocas produzem.
A visão que tem do céu não é lá essas coisas. É meio restrita, não é?! Além disso, o tempo está nublado, porém é melhor do que ficar a ver buracos negros.
Não bata nas paredes, podem se desmoronar. Não estão escoradas.
E no fundo? Ah, se fosse um buraco para político você encontraria algum gadget. Uma mola, por exemplo, porque buraco onde político fica sempre tem uma mola. Para trazê-lo de volta à superfície.
Lá fora, parece que chegou alguém. Diacho, é um coveiro. Oxalá não seja do tipo que enterra primeiro e só pergunta depois.


Original: EM, 10/02/2007
Post-mortem
"Quando um assassino faz você cavar sua própria sepultura, jogue a areia longe para que ele tenha dificuldades em acabar o serviço." Jonco Stl

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A QUEM PERTENCE O FUTURO

O futuro é algo totalmente irrevelável no presente. Não me venham com jogos de búzios, cartas do tarô, bola de cristal, horóscopos e outras crendices do gênero. Só vamos saber o que o futuro nos reserva quando estivermos lá. Ah, ledo engano, não vamos. Estaremos diante de uma versão updated do presente. A nos dizer que o futuro outra vez mudou de endereço.
O futuro é nômade.
O futuro se desloca o tempo todo como a linha do horizonte.
O futuro, feito a cenoura pendurada na frente da besta, faz com a alimária caminhe sem parar. Sem alcançá-la.
O futuro é como uma caixa preta. Abre-se, encontra-se outra caixa preta. Ad infinitum.
Por isso, faz parte do meu ceticismo desconfiar da futurologia. Não vejo como se possa saber de fatos que ainda vão acontecer. Embora, para não radicalizar sobre o assunto, eu admita existir uma chance – única – para isto ser possível. Um dia, quem sabe, através da revolução tecnológica, a qual sempre nos surpreende.
A propósito, quem está na frente é o Google.


Original: EM, 28/01/2007

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O CORNETEIRO DE PIRAJÁ

Por conta de um recente fato político vem proliferando, na mídia nacional, referências ao corneteiro de Pirajá. Para que fiquemos a par deste assunto, é importante saber o que fez de tão relevante o citado corneteiro.
Consta das estórias da História do Brasil. As veteranas tropas portuguesas na Bahia, que consideravam a independência do Brasil um ato de traição a Portugal, combatiam os bisonhos defensores da nossa nacionalidade. A batalha era em Pirajá, no Recôncavo Baiano. Os portugueses estavam prestes a vencer a refrega. Nisso, ouviram soar no lado brasileiro o “toque de avançar e degolar”, e a seguir perceberam que as nossas tropas estavam a adquirir um ímpeto redobrado de lutar. O sol, que se punha atrás das linhas brasileiras, cegava naquele momento as tropas lusitanas. Não podiam ver, mas suspeitaram de que haviam chegado importantes reforços para os defensores – a cavalaria brasileira! E recuaram das posições já conquistadas, sendo a partir daí levados de vencida pelos brasileiros. Soube-se depois que o indômito corneteiro, de nome Lopes, do seu comandante havia recebido uma outra ordem. A ordem para executar o “toque de retirar”. Mas, por que não a cumpriu? Para responder esta pergunta há duas hipóteses: A primeira que, por puro nervosismo, o corneteiro houvesse se confundido e tocado a música errada. O que, quando se considera a simplicidade melódica de tais musiquinhas, eu particularmente não acredito. A segunda que ele, com melhor visão do cenário futuro no campo de batalha, tenha decidido executar o toque que animou as tropas brasileiras para a vitória final. Por iniciativa própria, portanto. Pela qual melhorou muito a sua biografia, lá isso melhorou. Mas... havendo sido um ato de insubordinação, da qual sobrevieram riscos para os companheiros, não era o caso de o corneteiro Lopes ter sido mandado a uma corte marcial?
Ora, não é de hoje a assertiva de que... tudo está bem quando termina bem.


Original: EM, 09/01/2007