sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

PALÍNDROMOS

Os palíndromos são palavras ou frases que podem ser lidas da esquerda para a direita e vice-versa, sempre com o mesmo significado. Exemplos: A DIVA É MOTE E TOM É A VIDA (ao Tom Jobim) e À D. ANA: DÁS UMA DANADA (à Ana, mulher do Tom). Estes dois palíndromos foram criados por Fraga, ao tempo em que o "Pasquim" abriu uma temporada sobre o assunto.
Há muitos outros exemplos: O SÓ REMETER É TEMEROSO, SOMAR SOB OS RAMOS, A TROPA À PORTA, EVA ASSE E PAPE ESSA AVE, ALI ROGO RETER O GORILA, SOCORRAM MARROCOS, ROMA ME TEM AMOR, O TREPONEMA É AMENO PERTO, ATIRA O CASACO À RITA, A TORRE DA DERROTA, A CARA RAJADA DA JARARACA, ZÉ DE LIMA - RUA LAURA MIL E DEZ etc.
Para "palindromizar" exige-se um vocabulário acima da média e uma boa dose de paciência. Escolhe-se um tema (nome) para centralizar o trabalho nele. O tema é o ponto em que o palíndromo se espelha para os lados. Se houver uma letra-chave, que não permita o retorno, aí está o "miolo" do palíndromo.
Vale tudo no palíndromo: Non sense, livre pensar, achado sonoro (aliterações e cacofonias são ótimos resultados). Até bobagens são bem-vindas (porque são exercícios que levam à boa técnica). Mas o ideal é perseguir uma frase que enuncie uma clara intenção ou contenha alguma "substância", além do mero efeito vai-vem.
Ainda é Fraga que dá estas dicas: "Evite construir com grupos consonantais duros (inflexíveis à inversão). CH, NC, ND, SC, entre outros, são pedras no caminho. Já BL, CL, BR, CR, GR, TR, VR, entre tantos, são domesticáveis. Use e abuse dos L, M, R, S, pois estas quatro letras, garantindo início/fim de mil combinações, são a base corriqueira dos palíndromos."
Outro recurso que salva construções é a pontuação. Como diz o "palindromista de plantão" do "Pasquim": "Dois pontos, vírgulas, pontos de interrogação etc. são boias no mar das dificuldades e servem para quebrar, unir, enfatizar ou suavizar uma frase. Nenhum palíndromo vai aparecer para você na posição que Napoleão perdeu a guerra. Tem que forçar a submissão dos termos!"
Com o código Morse amplia-se a possibilidade de construir palíndromos. Palavras cujas letras não dão palíndromos podem fazê-los com os pontos e os traços do código. Eis dois exemplos desses "palinmorses":
SOPRANOS ··· --- ·--· ·-· ·- -· --- ···
HECTARES ···· · -·-· - ·- ·-· · ···
É música para os ouvidos saber que há também o palíndromo... musical. Eis um exemplo:
Outro:
Tirado do minueto na Sinfonia n º 47 de Haydn, a orquestra toca a mesma passagem para a frente, depois para trás.
Quanto ao "antipalíndromo": existe? Segundo alguns, ele existe. Sempre que frase pode ser lida ao contrário, porém com um significado diferente: ATÉ, CUBANOS! ROMA.
SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS
Mais do que um palíndromo, a frase acima é considerada um "quadrado mágico". Como são 5 palavras de 5 letras, as mesmas podem ser dispostas adequadamente de modo a formar um quadrado, o qual pode ser lido na horizontal ou na vertical, para a direita ou para a esquerda, para baixo ou para cima.
Em função dessa espantosa simetria, a frase foi usada como um talismã na Antiguidade. Três de suas cinco palavras são claramente latinas: tenet (manter, ocupar, dirigir, governar), opera (obra, ação, trabalho, processo, ou uma forma verbal correspondente) e rotas (rodas, círculos, ciclos, disco do sol). Uma das hipóteses é de que a misteriosa frase tenha sido cunhada pelo escravo romano Loreius. Mas, por não ser totalmente de formação latina, Giba Assis acha que traduzir essa frase como "o lavrador mantém cuidadosamente o arado nos sulcos" equivale a compor um "samba do escravo romano doido".
Ler também: 
Só papos

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

ANAGRAMAS

Anagrama é palavra ou frase formada pela transposição das letras de outra palavra ou frase. Exemplos, com nomes de pessoas: Alice e Célia; Isabel e Belisa; Manoel e Leonam. Ao anagramatizar-se uma palavra, é possível, muitas vezes, se obter diversos vocábulos. Como na palavra peso, que forma pose e sopé, na palavra alegria, que dá galeria, alergia e Argélia e na palavra amor, que origina ramo, mora, Omar e Roma.
Em nosso idioma, costuma-se apontar o mais belo anagrama como sendo Iracema, o nome da heroína do romance de José de Alencar. Supondo-se que o romancista, ao criá-lo, tenha recorrido à palavra América. No entanto, rascunhos preservados do romance indicam que Alencar, antes de escolher o nome da "virgem dos lábios de mel", andou vacilando entre Iracema e Aracema.
Pelos curiosos resultados obtidos, compor anagrama já foi uma mania no passado. Luís XIII, rei da França, tinha um anagramista oficial. Outra mania foi o logogrifo que, ainda modernamente, tem seus adeptos (V. coluna "Logomania", de Luiz Carlos Bravo, no DN). Relacionado ao anagrama, o logogrifo é uma espécie de charada. O praticante, a partir de uma palavra-chave, cujas letras aparecem misturadas, deve formar o maior número possível de palavras com quatro letras ou mais. Exige-se, ainda, que uma letra - em destaque - conste de todas as palavras formadas, e que a palavra-chave seja decifrada no final.
Quando a palavra ou a frase pode ser lida da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda, sempre com o mesmo sentido, aí temos o palíndromo. São exemplos de palindromos: osso; orava o avaro. Sendo com números, o fenômeno recebe o nome de capicua. 13531, por exemplo, é uma capicua. E, no dominó, a pedra que pode finalizar o jogo, de um lado ou de outro, idem (segundo o Aurélio). Na próximo número do tablóide, falarei sobre o palíndromo. Ele é também, no mínimo, um interessante exercício mental.
A formação anagramática tem sido um recurso muito usado com o fim de disfarce autoral. Utilizou-se desse recurso, Manoel du Bocage, ao adotar o pseudônimo arcádico Elmano Sadino (Elmano, anagrama do nome Manoel, e Sadino, uma homenagem ao rio Sado que atravessa Setúbal, a cidade natal de Bocage). Já Alcofibras Nasier foi o pseudônimo de François Rabelais. Sendo médico e religioso, Rabelais se valeu do pseudônimo anagramático para publicar os feitos de "Pantagruel" e "Gargantua", personagens de romances à época considerados obscenos. No Brasil, vários escritores usaram também o aludido recurso. Como Bastos Tigre, cujo criptônimo era D. Xiquote, anagrama de D. Quixote, com o qual assinava os seus textos satíricos. E como o grande Guimarães Rosa que, algumas vezes, subscreveu-se Soares Guiamar, mais um anagrama do que um pseudônimo.
Personagens de poemas e romances podem também ter nomes anagramatizados. Verifica-se isso, principalmente, no roman à clef, o romance baseado em pessoas e fatos reais.
O anagramista é o caricaturista do vocábulo. E, se o nome de uma pessoa em evidência dá tal oportunidade, caricatura-o sem dó. Como fez o Prof. João Hipólito ao modificar o nome de Getúlio Vargas para... Egoista Vulgar . E como fizeram os companheiros de Surrealismo de Salvador Dalí, ao modificarem o nome deste para... Avido Dollars, sob o pretexto de que o pintor catalão era um mercantilista.
Mas, em ocasiões, a criatura pode se voltar contra o criador. A exemplo disso, R. Magalhães Jr. relata o que um dia aconteceu ao anagramista francês César Coupé. Depois de umas tantas atazanações anagramáticas com os outros, Coupé se tornou vítima de seus colegas de passatempo. Ao ter o próprio nome anagramatizado, com grande malícia, para... cocu separé (corno separado).
08/09/20 - Atualizando...
THAT’S ONE SMALL STEP FOR A MAN, ONE GIANT LEAP FOR MANKIND, a frase célebre de Neil Armstrong, é um anagrama de AN EAGLE LANDS ON EARTH’S MOON, MAKING A FIRST SMALL PERMANENT FOOTPRINT.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

SOLIDARIEDADE

"Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas." (Eduardo Galeano)

Solidariedade é a relação de responsabilidade que existe entre pessoas de um modo que cada elemento de um grupo se sinta na obrigação moral de apoiar os outros. Não foi um sindicato polonês que inventou esse conceito.
Nem é aplicável apenas no câncer, como dizia Otto Lara Rezende (a respeito dos mineiros).
A solidariedade requer desprendimento de quem se solidariza. Ajudar uma moça bonita a trocar um pneu de carro, para depois tentar uma carona para o motel, não entra na quota. Fazer cortesia com o chapéu ou o solidéu alheios, idem, idem.
Quem avisa amigo é? Não, não é só avisar pura e simplesmente. Na solidariedade, agente e paciente desse ato precisam estar vinculados emocionalmente. Do contrário, todas as placas de trânsito seriam solidárias.
Dá para acreditar na solidariedade do algoz que diz à vítima: "Acredite, vai doer mais em mim"? E na solidariedade do delegado que, após meter o preso numa enxovia, diz: "Estou do seu lado mas não abro"? Claro que não.
Em "Memórias póstumas de Brás Cubas", Machadão deixou esta para a posteridade: "Suporta-se com paciência a cólica do próximo." Trata-se, a meu ver, de outro não-exemplo.
Solidariedade quando tudo anda nos eixos não tem graça. Quero ver é se você daria a mão a alguém que esteja numa enrascada? Como estar sentado numa cadeira elétrica no exato instante em que a chave é acionada? Mas solidariedade que lembra o suicídio coletivo das baleias tem outro nome: é estultície.
Existem tribos em que o homem se isola para "sentir", a seu modo, as dores do parto. Por vezes, mostrando-se mais convincente do que a mulher. Desse comportamento primitivo é que resultaram o costume de "beber o mijo" da criança e a licença-paternidade. Além disso, como o bicho homem continua a evoluir, novas formas de solidariedade certamente surgirão nessa área.
E sabia que...
... só porque leu este artigo você acaba de praticar um ato de solidariedade?

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A LEI DA COMPENSAÇÃO

"Existe no mundo, meu irmão / a lei da compensação."
Jackson do Pandeiro
A lei da compensação pertence ao "ordenamento jurídico" do Universo. Como a lei da gravidade, a lei do eterno retorno e a lei geral dos gases.
Deus tem utilizado essa lei em situações corriqueiras. Dando o frio conforme o cobertor, abrandando o vento para o carneiro tosquiado e só mandando a dor que uma pessoa possa suportar.
Radicalizou no caso Jó, é verdade. Mas foi criterioso com as cobras. Mesmo sendo elas só pescoço, Deus não lhes deu asas (e se tivesse dado... tinha-lhes tirado o veneno).
A lei da compensação é uma espécie de Bom-Bril de Deus. E, sendo Ele o Criador e o Incriado, eis outra compensação!
Na História, a lei amiúde está presente. Sabendo que o inimigo ia cobrir o sol de flechas numa batalha, Leônidas apelou para ela:
- Melhor, combateremos à sombra.
Houve um tempo em que os esquimós usavam anzóis como dinheiro. Era ruim para tirar do bolso, mas... para que a afobação? Eles têm um dia que dura seis meses.
Num hospital do SUS:
- Dr. Martins, chegando atrasado!?
- É, mas vou sair adiantado.
O comportamento do Dr. Martins, que não é tão incomum assim, é mais um dos exemplos da lei da compensação.
No futebol, a lei é muito usada pelos árbitros. Quando, por exemplo, eles favorecem um time com a marcação de um pênalti duvidoso, eles compensam anotando outro para o time adversário. Sacumé, eles têm medo de serem rotulados de arbitrários.
Agora, se você nunca montou num cavalo e lhe oferecem um cavalo que nunca foi montado, não vá nessa. É uma tergiversação da lei.
A lei da compensação é o que assegura que você vai receber amanhã o que você faz hoje a alguém, seja bom ou seja ruim.
Ruim é mais fácil de acontecer. Como na canção do Jackson em que o "Garrafão" passou a ser chamado de "vidro de penicilina", e o "Serrotão", "serrinha de aparar unha". PGCS