sábado, 29 de dezembro de 2012

A SEQUÊNCIA DE UMA POLÊMICA

UM DIA NA VIDA DE J. NATURA, O ECÓLOGO - Paulo Gurgel
A Ferragista, junho de 1981 (ano 5, n°. 57)
Cartas do Povo, 19/07/81
LUCIDEZ, "COQUEIRÓFILOS"! - Paulo Gurgel
A Ferragista, julho de 1981 (ano 5, nº. 58)
Cartas do Povo, 20/07/81
"J. NATURA, O ECÓLOGO" (RÉPLICA) - Oswaldo Evandro
Cartas do Povo, 29/07/81
LUCIDEZ, J. NATURA (TRÉPLICA) - Paulo Gurgel
Cartas do Povo, 07/08/81
CARTA A UM COMPANHEIRO COQUEIRO - Hugo Barros da Costa
A Ferragista, agosto de 1981 (?)
NO CAMINHO DE DAMASCO (EPÍLOGO)- Paulo Gurgel
Inédito

sábado, 22 de dezembro de 2012

OUVINDO MAL

1 Pessoas de uma família conversavam animadamente na sala. E os assuntos trazidos à baila eram os mais diversos. A um canto, Vô Raimundo dormitava em sua cadeira de balanço. De forma que apenas poucas palavras, fragmentos de frase tinham acesso a sua consciência.
- ... prato de ostras... não pretendo voltar lá...
- ... depois disso...
- ... disco-laser... não tem mais sentido...
- ... absurdo... um... 147...
Nisso, Vô Raimundo retorna subitamente ao mundo dos despertos. Bastante assustado, porque acabara de escutar o novelístico número com que o governo vem promovendo a "operação mata o veio". À beira de um ataque de nervos. Contudo, se tivesse escutado a conversa na íntegra não teria reagido assim. Por se reportar o número, naquele momento, apenas a um Fiat 147.
2 Não, não se pode prender um homem por assalto quando ele, na verdade, só fez o seguinte.
Encostou-se num guichê de um banco, casualmente portando uma arma de brinquedo que, meia hora atrás, a havia comprado para presentear um filho. Cabendo, assim, a culpa ao funcionário da agência que, intempestivamente, tomou o inocente brinquedo por uma arma real. Ademais, ele não disse "isto é um assalto!" - outro engano do relapso funcionário. O que ele disse, naquele momento de tantos equívocos cometidos, foi exatamente: "isto é um asfalto!". Como poderia ter dito outra frase qualquer sem relação aparente com a situação. Além do que não podia o bom homem ser incriminado, por haver logo após recebido uma sacola de dinheiro - sem ter saldo bancário para isso! É que ele, em sua boa fé, julgou se tratar de um brinde do banco, o qual, por um ato de elegância, não devia recusar.
3 E tem a história da moça que saiu de casa para tentar a sorte na cidade grande. Mas, não tendo ofício certo, passou a rodar a bolsinha no meretrício. Para desgosto do pai que, sabendo desse fato, não queria vê-la nunca mais. Nem as cartas dela o velho respondia. E somente se referia a ela como sendo uma amaldiçoada.
Anos depois, a moça aparece na cidadezinha elegantemente vestida, coberta de joias e fazendo saber que possuía muitos bens e uma vultosa conta bancária. O carro em que ela viera, para demonstrar a boa situação em que vivia, foi logo dado ao pai que nunca possuíra um... E este foi tratando de esquecer o que antes pensava a respeito da filha.
Conversa vai, conversa vem, e fingindo ignorância, o velho pergunta qual era a profissão da filha: "Prostituta", diz ela com franqueza. E o velho: "Ah, bom. Eu pensava que era protestante".

sábado, 15 de dezembro de 2012

A PANACEIA PG

Apresentação
Pensamentos, palavras e sobras.
Propriedades
Melhora a atuação do sistema imunológico, a libido do inibido e reduz a VHS caso esteja aumentada. Mostra também uma leve propriedade antidiurética (porque retarda a ida do leitor ao banheiro), porém  não deve ser usado com essa finalidade.
Indicações
Tédio, má conduta e falta do que fazer.
Contraindicação
Hipocrisia
Posologia
Variável.
Reações adversas
Soluços, tosse nervosa e luxação da mandíbula. Caso surjam a leitura deve ser temporariamente interrompida.
Efeito paradoxal
Do tipo o que dá para rir dá para chorar.
Superdosagem
Como tratar: passar da leitura dinâmica para a leitura normal.

sábado, 8 de dezembro de 2012

NÃO DÁ PARA SEGURAR...

Esta crônica saiu da porção-mulher que eu trago em mim agora, numa proporção de 0,00000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000001%, arredondando-se para mais.
[...]
Lembrar Odilon que eu conheci em 1973 - uma amizade verdadeira!  Não conto os "uiquendes" que juntos passamos em Petrópolis! Ele chegava a dissimular os seus problemas (na esfera judiciária, ele tinha muitos) para que nada pudesse me afligir, como mais tarde vim a saber. Mas o destino, suplantando-me na ironia, tramou que eu o perdesse. E logo para um conhecido em comum, do início de nosso relacionamento: um sargento do Exército!
Se há o conceito de vazio ecológico como não há também o de vazio sentimental? No lugar de Odilon, pus Acrísio no meu bem-querer. Era um tipo fogoso que, apesar de nada saber da arte de transigir, muito me ensinou a respeito. Foi falta de tato, de minha parte, deixar que uma rusga de somenos importância nos levasse à separação. Uma cena patética, no caminho de uma viagem do Rio de Janeiro ao Amazonas, o então Inferno (ainda que) Verde.
O ano de 1976 me trouxe uma amizade que acabou trágica. Clóvis, o amigo que vi morrer, carbonizado, num acidente de estrada, quando voltávamos para Fortaleza de uma folia em Maranguape. E dizer que eu nada pude fazer para salvá-lo das chamas. Tentei, em seguida, esquecer o infeliz acontecimento numa relação afetiva com Flávio. Mas acabei percebendo, quase três anos depois, que o tempo todo eu apenas estivera a enganar a mim mesmo. Não houve, por isso, qualquer trauma quando se deu o rompimento.
Agora, entrosamento de fazer uma dupla do tipo "só vou se você for" aconteceu com Sérvio. Um era o alter ego do outro. E, como se não bastasse, ele era também a imagem do desprendimento, do desapego à própria vida. Provou isso inclusive num entrevero que lhe foi fatal. Numa briga de estranhos: árabes, turcos, sei lá quem.
[...]
Desculpem-me. Desculpem-me se eu passo pelos dedos este rosário de desilusões. É que não dá para segurar os sentimentos quando eu visito os meus mortos no CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS.

Fortaleza, 2 de novembro de 1995

sábado, 1 de dezembro de 2012

PRAZERES DA MESA

Piche assado com molho secante

  1. Arrume em uma assadura seis postas de piche. Tempere as postas com abissal e linimento-do-reino. Polvilhe tudo com duas colheres de sopa com farinha de intertrigo.
  2. Numa cerzideira refogue duas ceroulas até ficarem macias. Espalhe-as sobre o piche.
  3. A seguir, misture um terço de xícara de azinhavre branco, três dentes de bugalhos socados, uma colher de chá de olécrano, uma colher de chá de mosqueado, uma pitada de alçapão em pó, uma colher de sopa de valsa miudinha e cuenca. Derrame tudo sobre o piche, adicionando vinílico ao redor das postas.
  4. Asse em forno modulado até que o piche fique macio. Verifique espetando com um sarrafo.
  5. Sirva decotado com arruelas de timão.

(não sai a preço gastronômico)

In memoriam Carmem Miranda

Em tudo a maçã...
Na mordida impensada de Eva, na flechada certeira de Tell, na teoria da gravidade de Newton.
O pomo da discórdia quer ter a hegemonia mas precisa de um basta!
Haver quem reconte a História com saber/sabor tropical.
Abacates, bananas, mamões e abacaxis: Unidos, jamais sereis vencidos!