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Lembrar Odilon que eu conheci em 1973 - uma amizade verdadeira! Não conto os "uiquendes" que juntos passamos em Petrópolis! Ele chegava a dissimular os seus problemas (na esfera judiciária, ele tinha muitos) para que nada pudesse me afligir, como mais tarde vim a saber. Mas o destino, suplantando-me na ironia, tramou que eu o perdesse. E logo para um conhecido em comum, do início de nosso relacionamento: um sargento do Exército!Se há o conceito de vazio ecológico como não há também o de vazio sentimental? No lugar de Odilon, pus Acrísio no meu bem-querer. Era um tipo fogoso que, apesar de nada saber da arte de transigir, muito me ensinou a respeito. Foi falta de tato, de minha parte, deixar que uma rusga de somenos importância nos levasse à separação. Uma cena patética, no caminho de uma viagem do Rio de Janeiro ao Amazonas, o então Inferno (ainda que) Verde.
O ano de 1976 me trouxe uma amizade que acabou trágica. Clóvis, o amigo que vi morrer, carbonizado, num acidente de estrada, quando voltávamos para Fortaleza de uma folia em Maranguape. E dizer que eu nada pude fazer para salvá-lo das chamas. Tentei, em seguida, esquecer o infeliz acontecimento numa relação afetiva com Flávio. Mas acabei percebendo, quase três anos depois, que o tempo todo eu apenas estivera a enganar a mim mesmo. Não houve, por isso, qualquer trauma quando se deu o rompimento.
Agora, entrosamento de fazer uma dupla do tipo "só vou se você for" aconteceu com Sérvio. Um era o alter ego do outro. E, como se não bastasse, ele era também a imagem do desprendimento, do desapego à própria vida. Provou isso inclusive num entrevero que lhe foi fatal. Numa briga de estranhos: árabes, turcos, sei lá quem.
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Desculpem-me. Desculpem-me se eu passo pelos dedos este rosário de desilusões. É que não dá para segurar os sentimentos quando eu visito os meus mortos no CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS.
Fortaleza, 2 de novembro de 1995
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