domingo, 30 de dezembro de 2007

DIÁLOGO DE MALUQUETES, Nº. 1

ELA - Lembra como nos conhecemos?
ELE - Lembro. Foi numa churrascaria...
ELA - Numa churrascaria de subúrbio que tinha roda de samba.
ELE - Você, hein?... Toda esfuziante, balançando as cadeiras...
ELA - Com isso chamei sua atenção, não foi?
ELE - Prestei mais atenção ao seguimento. Quando você... passou a balançar a mesa.
ELA - Depois, parece que houve um bilhetinho seu.
ELE - Um bilhete que não chegou até você. Culpa do garçom.
ELA - O Hermes como mensageiro é das arábias.
ELE - De pra lá de Marrakesh. O homem transforma bilhete em ordem de serviço. No caso, um prato de batatas fritas para a mesa 26.
ELA - Criou algum caso, por isso?
ELE - No caso: não!
ELA - Ainda bem. Pois o Hermes como garçom até que passa...
ELE - Ao largo.
ELA - Naquela noite, o pobre do Hermes atendia sozinho...
ELE - E com o pé preso num engradado de cerveja, eu vi bem. Mas, diabos, por que ele não se soltava? Só assim ele podia ir num pé e voltar no outro.
ELA - Você sempre busca um pé. Agora, voltando a mim...
ELE - À vaca fria.
ELA - Se... e quando estão me paquerando, eu aplico os cinco sentidos, o sexto...
ELE - O bissexto.
ELA - Também. Mas com o bissexto sentido você se impacientou. Aí, decidiu jogar baixo.
ELE - Eu joguei baixo?
ELA - Aquelas boleadeiras... em minhas pernas.
ELE - Uma rês desgarrada.
ELA - Eu nunca fui uma rês desgarrada, "seu" gaúcho-de-imitação. Vinha voltando - felizmente, voltando - do toalete.
ELE - Desvencilhou-se das boleadeiras com a minha ajuda, reconheça.
ELA - "Seu" "brutamente"!
ELE - "Os fins justificam os meios" - truquei.
ELA - "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" - retruquei.
ELE - Ei! Tínhamos, então, algo em comum.
ELA - Sim. Éramos leitores de "O Pequeno Príncipe", de Maquiavel e...
ELE - Saint-Ex.
ELA - Perguntei seu signo.
ELE - Capricórnio.
ELA - Perguntei sabendo. Capricorniano quando não é na marra, é na marrada.
ELE - Depois, batemos aquele papo noite adentro. Com o passar das horas, minha imagem foi melhorando...
ELA - É. Melhorou.
ELE - Expliquei-lhe que, vez por outra, tenho defeito no botão de vertical.
ELA - O defeito, a meu ver, é no botão de saturação.
ELE - E... naquela noite, que mais seu "defeitômetro" encontrou "ni mim"?
ELA - Alcoolismo em alto grau.
ELE - Como assim? Bebo assim?
ELA - Não largava a garrafa um instante.
ELE - Nem podia. Era a garrafa da drenagem pleural.
ELA - Desfeitos os equívocos...
ELE - Aparadas as arestas...
ELA - Acertamos que nos encontraríamos, novamente. No tempo do caju.
ELE - No tempo do caju em ponto, mas você faltou.
ELA - Qual é, cara?! Você também não compareceu.
ELE - Calculei que quando eu fosse aos cajus, você já teria vindo das castanhas.
ELA - Eu, idem. Não é gozado?
ELE - Mas... veja. De novo, eles estão de vez...
ELA - Sim. E que bom que você fosse...
ELE - Eu...
ELA - De vez, cara!

sábado, 29 de dezembro de 2007

AUTO-ENTREVISTA

A vida te sorri?
Quando sorri é porque aprontou mais uma, porém recebe o troco em esgares. Figa! Querer eu quero verter as lágrimas da humana condição, mas sou um choramingas exigente. O ombro amigo, primeiríssimo, tem que ser impermeável. Já o lugar ao sol, o disputado lugar não é problema para mim. Há tempos venho me quentando nele embora o alvará esteja, com o perdão da gagá palavra, caduco. Porém, paciência, que ninguém é inamovível. Vissem o que, de uns tempos para cá, tem acontecido com a fonte da Praça da Lagoinha.
Te consideras um sonhador?
Tremendo. (E se estou figurando num pesadelo em 3D, botem tremendo nisso.) Entrementes, cheguei a uma terrível constatação. Até hoje não sei como reconhecer as fronteiras entre o sonho e o real. Mesmo porque, nelas, não há aduanas. Agora, por exemplo, estou sonhando ou (me) realizando? O tipo da circunstância em que um beliscão é esclarecedor. Contudo não me belisco. O enredo diz que eu sou um balão, desses bem inflados, e pra isso estou acordado, caras.
Dás veracidade aos horóscopos?
Há posicionamentos difíceis para quem não é astro. E sucede que eu não leio horóscopos. Primeiro, por superstição, e segundo, porque não quero bisar os erros do futuro. Mesmo assim respeito a "proficção" de astrólogo e estou que tudo é previsível - a posteriori. E horóscopos não são um engodo. A realidade subseqüente é que ardilosamente subverte os fatos, inclusive os catastróficos. Daí a confusão.
És um "animal político"?
O adjetivo "político" não cabe no degas aqui. Considero esta senhora, a política, uma grega. Uma hidra-de-sete-cabeças, todas elas desidratadas. Um cão - aqui se valendo da imagem chula - que, fora de si, tenta devorar a si próprio começando o empreendimento pelo rabo. Ninguém sabe como termina. Um animal cotó que atende pelo nome de Peri? Prosaico demais. Um cão que a torpe autofagia o imobilizou com a boca já nas ilhargas? Outro cão, au-autoplástico, mas com o estômago cheio? Ou, enfim, o cão virtual? Este, por ser virtual, não ladrará nem morderá, e terá seu uso doméstico recomendado pelo sindicato dos ladrões. É mesmo um impasse de cão. Por isso, às vezes, saio do meu moderado e penso sobre me alistar na guerrilha nacional. Mas eles pagam tão mal.
Amas a "mãe gentil"?
Sim, com a restrição seguinte: é um amor não correspondido. A carta de boas intenções (a propósito, verificar de que o inferno está cheio) é interceptada, sempre, pelo senhor Jacques de Larosière, a tal com quem ela vive de papel passado em Nova Iorque. E o apátrida senhor, que acumula o cargo de diretor-gerente do FMI, sobretudo trata mal a pobre da "mãe gentil". A pão de Jó. Como alternativa, mandar a correspondência para Brasília D.F., seu endereço anterior, também não funciona. Só vai provocar risos nos de lá. "Leitão, lê mais esta." "É boa hi, hi, hi..." Por falar em leitão, o Brasil como se parece com o pernil de um. Especialmente quando visto do hemisfério norte. Bom apetite, louros rapazes (rapaces?).

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

CAPA E ILUSTRAÇÕES

Na fase de organização de Criações, um dos problemas a resolver foi ilustrar o livro. Não sendo um artista gráfico, tive que ficar atento a desenhos que pudessem ser usados com esta finalidade. Até que, folheando um exemplar da revista Planeta, encontrei um material que considerei adequado. Era um artigo, com o nome "problemas de Tangram", que trazia umas silhuetas interessantes.
De origem chinesa, o Tangram consiste num jogo de sete peças geométricas (triângulos de tamanhos diferentes, quadrado e paralelogramo) com as quais se obtêm figuras. Existindo uma boa amostragem delas na revista, selecionei aquelas que apresentavam características “humanas”. E fui, intuitivamente, relacionando cada uma delas com a “personalidade” de cada participante de Criações.

Desse modo, no processo de ilustração do livro, utilizei dez figuras de Tangram: uma para a capa de Criações e as demais para os nove capítulos do livro.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

ABAS DO LIVRO

DALGIMAR MENEZES
Professor da Anatomia Patológica da UFC. Nascido a 9 de outubro de 1942, em Itapipoca, pipoca, oca. Hoje, sofre apenas o inevitável (e amanhã, quem sabe, nem isso). Romancista e poeta, eta. Escreveu Os Dias e as Noites de Dionísio de Pedregosa (romance) e Em Busca de Poesia. Mais: participou das antologias Encontram-se e Temos um Pouco, com textos antológicos, lógicos.
EMANUEL CARVALHO
Cirurgião cardiovascular, 35 anos, natural de Piripiri – Piauí. Andanças poéticas em VerDeVersos, Encontram-se e Temos um Pouco. E andanças musicais com Belchior e Jorge Mello, seu irmão. Terra, mar & ar. Terra & mar. Terra: Sinara.
GERALDO BEZERRA
Obstetra, 36 anos, nascido em Jaguaribe – Ceará. Publicou recentemente Magazine GB, livro de crônicas, poemas e humorismo. Letrista de músicas, é quem enluara a viola de José Carlos Albuquerque, também médico. GB, flumíneo GB. Guardião dos seixos do rio Jaguaribe.
HAMILTON MONTEIRO
Professor de Histologia da UFC, aposentado. Histo e aquilo: poeta. Estreou em Temos um Pouco. Lira dos sessent’anos desafiando os ventos do entardecer.
HUGO BARROS
Psiquiatra. Visão escrachada da vida. Com Ida (leiam neste livro), contista laureado. O prêmio: uma passagem para Pasárgada – só de ida. HB também colaborou com O Saco (não genesicamente).
LUIZ TEIXEIRA
Homeopata, 41 anos, autor do ensaio A Dialética da Doença (144 páginas, Nação Cariri Editora). Aprendeu com Maiakovski que “é melhor morrer de vodka (e de caipirovska, por que não?) do que de tédio”. LT só se lança ao trabalho (poético) quando sente nitidamente o mandato social (confiram, confiram). E é pai de Virna, que fez a seleção de seus poemas para esta antologia.
PAULO GURGEL
Pneumologista, 33... perdão, 37 anos, natural de Fortaleza. É ledor de Woody Allen, mas não aceita o avassalamento (Louracap não é Manhattan!). Textos publicados em VerDeVersos, Encontram-se, MultiContos, A Nova Literatura Brasileira (Shogun Arte – RJ) e Temos um Pouco. PG, impagável PG. Tê-lo-ão também aqui, em Criações, onde faz inclusive uma auto-entrevista, a segunda de sua carreira (a prova de que tem autocrítica ou do contrário?). É, no mano a mano com Emanuel Carvalho, um dos promotores das edições CMC (com o merchandising nesta contracapa). E, agora, por haver escrito estas “orelhas”, virou “polibiógrafo”.
PEDRO HENRIQUE
Proctologista. Professor da UFC. Em Medicina, diversos livros publicados (Câncer nos Cólons e no Reto foi escolhido o Livro do Ano de 1986, na área científica, pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará). E, em Poesia: 12 Poemas em Inglês, Ilha da Canção, Concretemas e Poeróticos. Apóstolo do verso e do anverso, Pedro não é pedra. É tijolo (mesmo e outros aspectos). “Tijolo com tijolo, num desenho mágico.” E;;;
SÉRGIO MACEDO
Cardiologista do Hospital de Messejana (INAMPS), onde pilota um submarino da classe UTI. Poeta estreante em Encontram-se. “Vive o corpo e vive a alma.”

domingo, 23 de dezembro de 2007

CRIAÇÕES

Antologia de prosa e poesia publicada sob os auspícios do Centro Médico Cearense (gestão Dr. Lino Holanda) e da Sobrames - Regional do Ceará, em 1986.
Autores: Dalgimar Meneses, Emanuel Carvalho (Produção), Geraldo Bezerra, Hamilton Monteiro, Hugo Barros, Luiz Teixeira, Paulo Gurgel (Produção, Planejamento Gráfico e Revisão), Pedro Henrique, Sérgio Macedo.
Apresentação ("orelhas"): Paulo Gurgel.
Composição: Maurício.
Diagramação, Montagem e Arte-Finalização: Danilo.
Fotolitos e Impressão: Gráfica do CMC.
Livro com 104 páginas.

Observações:
Os 1000 exemplares desta obra foram impressos nas dependências do CMC, numa gráfica ainda inexperiente em impressão de livros.
Utilizei para fazer a capa e as ilustrações do livro dez figuras do Tangram (revista Planeta).

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

ON THE ROCKS

OS GERÚNDIOS ESTÃO FLORINDO

"Piedade para nós que exploramos as fronteiras do irreal."
Apollinaire, por aí...

Mais uma noite de insânia! A dormência no cérebro é Tânta-lo que eu começo a suspeitar daquele xampu: abrasivo demais! E não é só a dormência, minhas pálpebras estão pesadas, pesadeladas... Nossa minha! Serei outra vez importunado pelo monstro do lago Ness ou, pior, pelo que habita o pélago Ness. Espero que não.
Vi em sonho, noite próxima passada, três cavaleiros. O primeiro, Calígula, montado em seu Incitatus, o segundo, Ricardo III, num equídeo que trocara pelo reino, e o terceiro, Napoleão, em seu famoso cavalo branco; traziam um quarto cavalo, selado e arreado, que me ofereceram dizendo:
- Vamos. O apocalipse é logo ali.
Não fui. Amedrontológico. Sou contra a mega-morte e, especialmente, contra a mea-morte. Em luta pessoal, enfrento num cabo-de-guerra as três parcas e, com o fio resgatado, vou tecendo a trama e a urdidura de minha vida. Bravura? Bravatura? Tanto faz, um dia tro
peço e ganho a eternidade. Ou a éter-nulidade, tanto faz.
Por vezes me-inter-rogo: Se Deus é brasileiro tudo é permitido? Inclusive o que não está na pauta, o despautério? Por que falta Solidariedade entre os sindicatos? De tijolo e não tijolo faz-se um bom m_r_? Toda a filosofia do mundo está em Filadélfia e Sófia? Se não, ondes afinais? Coisas assim e assim coisas.
Circunvoluções cerebrais, me deixais tonto. Mais desvãos, mais desvarios - são as ironias da mente. Por isso é que loucura não tem mesmo (o que está em negrito). Ou terá... no dia em que eu for pó, aspiração que transcende a ser empoado. É... aqueles que queimam seus navios morrerão de afogadilho enquanto eu, queimando meus pavios, o farei de trocadilho. Não mais.
Se, ao menos, eu estivesse agora na penumbra de um, digamos, penumbar... Ab-sinto muito, não estou. Não urna not urna em que guardar meus sonhos, meus sonhos mais risículos. E a lua, essa big sister que controla loucos e lobisomens, es-vai-se. Fu, lua fugente, fu. A ti as quatro pedras da mão.
Sorte, já é dia. O sol desponta e, meio sobre o solerte, começa a focinhar varais, canteiros e parapeitos. Subo ao mirad'ouro. Eu já vi este arreball antes, mas fico até o fim desse jogo. O sol, qualquer sol, é inexorável. (Que dirá este um, nascido sem manchas?) E ei-lo, inexorável (como já disse), em seu afã de dourar a pílula de um novo dia.

Lá fora, os gerúndios estão florindo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

CREME BÁRBARO

Sou de um país onde os carros enferrujam, as lâmpadas queimam, os relógios dão defeito e as bonecas perdem a fala. A bem da verdade, diga-se: estes incidentes também acontecem no resto do mundo; mas, com a saliência que se vê entre nós? Aqui, o usufruto de um bem qualquer chega a ser virtual. Compramos algo e rezamos para que dure um terço do que foi garantido. No atendimento das multiformes necessidades de homem, que se quer atual, o brasileiro é um desprotegido. E, como somos uns anestesiados, raro chiamos. No Brasil, nem asmático chia... quando se demora na fila da Previdência.
Neste ponto começa minha triste sina. Há oito meses, quando eu comprei uma lata de barbear Bozzano, uma marca de creme por mim nunca dantes usada. No início, dia após dia, com pequenos toques na válvula da lata eu punha a espuma na face, sem saber o que a sorte me reservara. Foi quando notei o fim de meu perturbador extrato de almíscar selvagem, que eu vinha usando à razão de uma gota/orelha/dia. Ora, se o extrato (em que pese o meu zelo econômico) se acabara, como então entender o creme de barbear que, comprado na mesma ocasião, ainda estava me oferecendo a cada vez mais generosa espuma? Só se eu estava diante de um bem de consumo anômalo, por assim dizer. Fiquei perplexo e tomado de uma ansiedade progressiva.
Eu que fazia apenas a barba, passei também a raspar o bigode (para acabar mais rapidamente com o creme de barbear). Primeira advertência da namorada. Aí, decidi que, no serviço diário de barba e bigode, também retiraria as costeletas. Segunda advertência da namorada. Depois, passaria a usar o creme em outras regiões pilosas do corpo... Não, eu não coloquei em prática a idéia. Junto com a terceira advertência, a namorada certamente faria a temível greve dos joelhos colados.
Em deliberação seguinte, pedi ajuda a Lula, o Metalúrgico. Enviei-lhe uma mui alvissareira epístola, na qual explicava como ele conseguiria, aqui no Ceará, dobrar a votação de seu partido. Com o meu voto em 86, desde que meu líder viesse passar uma temporada em minha residência, servindo-se à vontade do creme de barbear. A resposta veio desanimadora, naquele estilo telegráfico de que Lula tanto gosta: CARO GURGEL PT PT USO BARBA POSTIÇA MAS NÃO ESPALHE PT TENTE MIELE PT.
Enquanto tentasse soluções meramente cosméticas, raciocinei, eu não conseguiria nunca dissipar o infindável creme. Talvez porque houvesse, na calada da noite, alguém injetando creme novo no vasilhame, por isso o conteúdo não tinha mais fim. Três noites seguidas montei guarda no úmido banheiro, e não vi duendes. Também botei outro creme de barbear, seu igual, no armário embutido do banheiro, para ver se ele entendia a indireta. E a criaturinha da Bozzano, necas. Vai ver eu adquirira a cornucópia da fortuna, disfarçada em lata de creme de barbear.
Uma fera fascista ciciou dentro de mim: jogue fora a lata de creme, e fim da ansiedade! Pensamento seguinte, me vi meio desfalecido numa montanha de creme de barbear. Cães São Bernardo em caravana passavam por mim, surdos e indiferentes a meus “relpes”. Um só de mim se aproximou, mas ao abrir a salvadora torneirinha de seu barril o que constatei: mais creme de barbear. Depilo-me, quero dizer, pelo-me... de medo somente em pensar que posso vir a ter esses pavores noturnos. Não, eu não vou resolver minha ansiedade com um ato de ingratidão.
Meu lenitivo, nessas horas difíceis, é saber que tudo é passageiro. Aliás, tudo menos o motorista, o trocador e, obviamente, o meu creme de barbear.

Cartum feito pelo colega Ricardo Augusto, um dos autores do livro.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

TUDO-NADA

UM DIA ATRÁS DO OUTRO EU SIGO PERGUNTANDO
Por que não se comemora o dia do dia-a-dia?
(T) (1) (2) (3) (4) (5)
Ah, esses ascensoristas. Nunca têm troco.
MANIFESTO DIVÍDUO
Siameses de todo o mundo, separai-vos.
PORQUE A CARNE SECA TEM A FORMA QUE TEM
Com o que tem de gente gorda por cima dela.
GOVERNO PROMETE ÁGUA FARTA E BARATA PARA TODOS
Fabricantes de gelo discordam e dizem que vão endurecer.
EMPRESA PROJETADA PARA FUNCIONAR NO VERMELHO
Uma loja especializada em atendimento aos cleptomaníacos.
OPINIÃO SOBRE A POLÍTICA
É a convivência dos contrários, o contrário das convivências. sei lá.
SOBRE AS PESSOAS EM GERAL
Deveriam se despojar de tantos inúteis envoltórios. Olhai os sabonetes dos motéis...
MU-TRETA
No Brasil o leite só baixa quando a vaca se deita.
E OS QUE SE APROXIMEM DA MESA DE FESTIM
Serão recebidos por tiros não necessariamente de festim.
NÃO POSSO, NÃO DEVO, NÃO QUERO
Perder o controle - - - - - - - - - - remoto da situação.
ORIENTE-SE, RAPAZ. OU NÃO
O homem oriental reparte as coisas em yin e yang; o homem ocidental, em in e out.
PARA BAIXO TODO SANTO AJUDA
Para cima é um deus nos acuda.
QUANDO A LUA MÍNGUA
Não se pode exigir o dragão de corpo inteiro.
NUMA GALHOFEIRA
Aceita dançar esta valsa comigo enquanto a orquestra não chega?
PERCORRO O DICIONÁRIO DE CECA A MECA
E descubro a mais feminina das palavras: espera.
O PARVO TEM CURA
Embora isso leve uma vida e meia.
VOCÊ DARIA SUA MÃO A ALGUÉM EM DIFICULDADES?
E se esse alguém estiver numa cadeira elétrica?
NO COMEÇO TUDO SÃO FLORES
No fim a florista manda a conta.
AFINAL
Quem é esse tal gongo que vive salvando tanta gente?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

UM PARAFUSO DE MENOS

Esta semana surgiu um defeito no meu carro 1495 km: uma das portas emperrando. Ao investigar a causa do emperramento encontrei - meu olho mecânico encontrou - que, quando ia abrir ou fechar a porta, a fechadura patinava, e isto porque um de seus dois parafusos de sustentação havia caído. Era um parafuso omisso o causador do problema inteiro, portanto.
Levei o veículo a uma das concessionárias do fabricante. Lá, após uma distraída consulta num maçudo catálogo de autopeças, o funcionário me despachou com um "tem mas está faltando". (O parafuso que eu procurava - cabe aqui um esclarecimento - era daqueles que têm na cabeça, chata, os sulcos em cruz.)
Continuei minha "via parafuso crucis". Fui a uma segunda concessionária onde, novamente, ouvi o "tem mas está faltando", desta vez acrescido de "o senhor poderá, em caráter de urgência, solicitar do fabricante em São Paulo". Porca miseria, teria exclamado um italiano na minha situação.
Fui a uma terceira. Nesta, também ouvi o sempiterno "tem mas está faltando", só que seguido desta "pérola" da solucionática: "o senhor deixa o carro na oficina que o problema passa a ser dos mecânicos, aí eles têm que dar um jeito". Ora, depois de peregrinar por Ceca, Meca e Olivais de Santarém, queimando hidrocarboneto, ainda ter de deixar o carro no estaleiro, por causa de um único parafuso, me paraceu um desaforo. E desaforo eu não levo para casa, principalmente a pé. Vão todos para Caixa-Pregos ou, melhor, para Caixa-Parafusos.
Já estava meio conformado a circular "pelaí" com um parafuso de menos (no carro, leitor) quando, a caminho de casa, deparei com um ponto de revenda de autopeças, desses que sobrevivem à margem do sistema. Tinha o estabelecimento comercial a aparência de uma birosca. Birosca? Não, retiro esta palavra que alguém pode confundir com bi-rosca, o papo já está por demais metalúrgico.
O fato é que eu dei uma paradinha lá. O moço que me atendeu, embora não dispondo no estabelecimento de um parafuso com a especificação já descrita, interessou-se em resolver o meu problema, eis a diferença. Localizou, em suas gavetas, um parafuso diferente do tipo que eu procurava, mas que cabia perfeitamente no lugar onde, antes, estava o relapso do parafuso original. Problema resolvido.
Ao final, perguntado pelo preço do parafuso (com o serviço incluído) o moço, com cara de muito amigos, respondeu-me: "que é isso, doutor?". Ah, enquanto ele parafusava... eu também fazia o mesmo, só que, em meu caso, o verbo parafusar está sendo empregado como sinônimo de meditar (confiram num dicionário de bom calibre).
Parafusava que, por esta e por outras, até o fim deste século ou deste milênio (o que acontecer primeiro), eu estarei que... pequeno é bonito. Tinha razão o gringo do small is beautiful.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

AVE, AVESTRUZ

-

PARA OS ANIMAIS SUBTERRÂNEOS
O AVESTRUZ É QUEM MELHOR ENCARA A REALIDADE.

AUTO-ENTREVISTA

Quem és?
Um estraga-prazer que se regenerou. Agora sou um desmancha-prazer. O que significa dizer que atiro pedras no telhado do vizinho, se isto me dá na telha. Repudio a desumanidade de certas gentes que são capazes de enterrar uma toupeira vivinha. E não sou covarde (já me viram numa altercação ao telefone?), apenas tenho um instinto de sobrevivência acima da média. Sei pouco. Mas sei que Sócrates nada sabia. Ei, que direção devo tomar? Respondam-me rápido pois preciso ligar a sinaleira. Sic transit gloria mundi. Ou, como diz o outro, a glória do mundo está no trânsito.
Crês no sobrenatural?
Sobrenaturalmente. Nas horas difíceis - não há exceção - a gente tem que contar com uma força do alto. Reciprocamente. Por isso, sou devoto da Santa Ceia. Se quero ter o corpo fechado não invoco São Sebastião das Flechas, assim por diante. Vejo em tudo o dedo do Senhor (o fura-bolos, presumo). Nostradamus tem um alto índice de acertos, concordo, mas não é cosa nostra. Eu, sim, sou contrafeta em minha terra. Contrafetizo tudo. Ah, pobres e ricos, no final Deus passa a morte-niveladora.
Que pensas do amor?
Amor faz palíndromo com Roma. Em Roma, como as romanas (em conformidade com o adágio, modificado). Nossa mútua atração, dona, aumentaria muito se usássemos, dona, potentes ímãs nos bolsos. Enjoos de terra firme, tive-os sim. Mas não de navegar - sob bandeira liberiana - o corpo da mulher amada. Ah, no dia em que me queiras a paixão será do tipo vulcânico-piramidal... Mas, agora que faço. Amo Ana Luísa e Ana Maria, e por elas sou amado. Ana Luísa, à minha esquerda, mais perto do coração, leva palpitante vantagem. Comodista que sou.
Que achas da presente conjuntura?
Nem tudo anda caro, há o conquistador barato. Como medida desinflacionária o governo retirou o IPI da cachaça. Agora é bota uma OCA aí. Já o pão nosso de cada dia está cada dia menos codeúdo. Cruzeiro novo, cruzeiro atual... qual será a próxima embromação tecnocrática? Até lá, e depois, convém preferir o cruzeiro marítimo. Se a empresa em que trabalha faliu, a culpa, por certo, é da sociedade dita anônima. Quem sabe você logo arranja novo emprego, o de botar a cabeça na boca do leão. A hora não é de perder a cabeça, portanto. E quebremos os pratos. Os pratos são uma invenção da fome. Sim, temos fome uns dos outros, mas tirem os dentes da minha perna.
Vislumbras saída para a crise?
Estás me perguntando se vejo? Sim, uma que se acha completamente tomada pela multidão em pânico. A alternativa é sair pela entrada, onde o pisoteio é menor. Afinal não somos uvas. Toda a lenha que não dá bom fogo será reintegrada à árvore, a fim de que esta dê bons frutos. Quero dizer, para ver se... Ó meu, mas com essa catrevagem humana que aí está no poder, terminará meu povo todo ralado. Feito coco de feira. Difícil, muito difícil suportar no corpo tantas sanguessugas colocadas, o que é pior, sob prescrição médica.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

CITANDO

Jorge de Lima, médico e poeta:

"Lede além
do que existe
na impressão.

E daquilo
que está aquém
da expressão."

In: "Invenção de Orfeu"

EM DEFESA DA POESIA

Texto cujo trecho final figurou na contracapa de TEMOS UM POUCO, servindo de apresentação à obra, que foi escrito pelo médico Caetano Ximenes Aragão.

Já se foi o tempo em que os médicos viviam em colóquio suspeito com as musas.
Dessacralizado, desmistificado profissionalmente, o médico passou a ser um homem dentro de uma realidade que não admite mais empostações românticas. E pode o médico exercer sua profissão sem se sentir prejudicado pelo poeta, repudiando velho preconceito burguês, de cunhar de maneira depreciativa e irresponsável, os homens que perseguem uma verdade nova, de boêmios e loucos.
Em face da incapacidade de pressentir a presença do novo, muita gente não se apercebe de que o mundo está mudando e de que sua escala de valores, às vezes, não tem valor nenhum. São dez poetas e dez médicos, irmanados em TEMOS UM POUCO, que vêm dar seu testemunho, todos duplamente filhos de Apolo.
Basta-nos Apolo, o múltiplo Deus, pai da Poesia e da Medicina, que ensinou aos homens as artes de curar e as de fazer versos, de cujos lábios nunca brotou nenhuma falsa palavra.
De Delfos, o umbigo do mundo, seguindo o "Rastro de Apolo", poema de Gerardo de Melo Mourão, retiramos as sextilhas que se seguem:

"Pois o amor, a flor e a morte
são obras de sua mão
são águasdo mesmo rio
são fontes do coração
por onde o sopro de Apolo
rege a humana ordenação.

Seu espírito divino
mais sábio que Salomão
sabia a ferida e o bálsamo
a doçura da canção
pois era senhor da vida
da morte e ressureição.

Para remédio das almas
fundou a Pytyhia divina
para remédio do corpo
inventou a medicina
foi o pai de Asclépio, médico
mestre em sua disciplina."

Portanto, Poesia e Medicina têm a mesma origem e a mesma paternidade, razão melhor para não nos envergonharmos de sermos poetas e médicos ao mesmo tempo.

Caetano Ximenes Aragão

TEMOS UM POUCO

Antologia de prosa e poesia publicada em 1984 por CMC / SOBRAMES, Regional do Ceará.
Autores: Dalgimar Menezes, Emanuel Carvalho (editor), Francisco Nóbrega, Hamilton Monteiro, Luiz Teixeira, Paulo Gurgel (editor e revisor), Paulo Roberto, Ricardo Augusto, Rose Mary e Wellington Alves.
Apresentação: Caetano Ximenes (com o trecho final de "Em defesa da poesia" na contracapa).
Projeto Gráfico e Ilustrações: Emanuel Carvalho, Paulo Gurgel e Ricardo Augusto.
Capa e Arte Final: Emanuel Carvalho e Harleny.
Gráfica IOCE.
Livro com 116 páginas.

sábado, 8 de dezembro de 2007

PAULIFICANTE

PAULO, não é que nasci? Tinha um grande projeto
fluvial, de atravessar o caudaloso
PAUL da humana existência, mas
represo-me, estagno-me - sorte
PAU - termino por saber que me espreita,
implacável, uma
de terra e que, dia qualquer,
eu morro
P... da vida.
02/08/81

NÃO TENHO ABELHAS MAS VENDO MEL

O PÔR-DO-SOL
É o horário nobre da Natureza.
MENINOS, EU VI
A trepadeira morrendo e o suporte brotando.
ÁGUAS PRESENTES NÃO MOVEM MOINHOS
Quando são os moinhos... de vento.
SANGUE FRIO
Quem tem mais? O peixe ou o pescador?
O JOÃO-TEIMOSO
Não é o exemplo máximo da teimosia: é quem insiste com ele.
NO TEMPO EM QUE OS ELETRODOMÉSTICOS FALAVAM
O liquidificador se destacava pelo ecletismo.
VIAGEM EM TORNO DE UMA PALAVRA
Afrodisíaco. Afreudisíaco. Afrodionisíaco. Afroparadisíaco.
UMA IDÉIA PARA UM CONTO, AINDA EM FERMENTAÇÃO
A ação se desenrola numa fábrica de cerveja.
TINHA UMA PEDRA NO MEIO DO CAMINHO
Comi-a e fiz dama.
PAPO CRI
Em criança levei flechadas do arco-da-velha.
DEITE-SE NA CAMA E CRIE FAMA
Não é um bom apelo publicitário? (Para faquir, ô meu.)
BUENA-DICHA
Os cometas são os ciganos do céu.
ANTI/TRANS/PIRAÇÃO
No amor platônico não há desperdício de suor.
LUGAR DE HOMEM É NA RUA
Tomando de conta das meninas.
CONSELHO DA NOITE
Quando você se achar em maus lençóis, recorra ao travesseiro que é bom conselheiro.
E FIM DE PAPO
Como disse aquele naco de carne ao perceber que já se encontrava no piloro.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

SÓ DÓI QUANDO EU PENSO

Detesto escrever (es)premido pelo tempo. É horrível, principalmente quando se tem, à mão escritora, uma caneta-relógio procedente de Formosa. Apesar disto, ouso apertar o teu corpo, ó sereia tecnológica. Ambígua és. Se, por tua porção-relógio, cantas as horas, os minutos e os segundos, com isto desviando os meus pensamentos da serena rota, no oposto extremo, por tua porção-caneta, os ancoras para a nova vida: gráfica.
Minhas pernas não se colocam. Tremebundas, estão sendo varridas por uma sensação de inquietude que percorre agora o corpo como um todo. É que, acima de minha cabeça, se fez ameaçadoramente real uma arma branca. Eu diria se tratar da Espada de Dâmocles, na sua versão 82. E a dita-cuja do teto pende, sustentada apenas por um fio (não confiável), exatamente acima de minha cabeça. Exatamente
Adivinhem quem armou o terrífico dispositivo? Cronos, o Tempo, que preside a criação e a destruição de todas as coisas, concretas e abstratas. Dono de um estilo consagrado, Cronos, quando o assunto é de seu especial interesse, deixa o tempo correr frouxo, sem peias, mas, se o assunto é do interesse de um mortal qualquer, não, sem demora estabelece cronogramas e quejandos.
No meu caso: Cronos encurtará seu pavio da tolerância, minuto a minuto, na medida em que se aproximem as "digitadas" da meia-noite, o tempo-limite para esta léria terminar. Um segundo a mais, uma fração de segundo a mais... e Cronos me destruirá, uma desgraça que não fica somente no plano alegórico. Ele sempre exorbita.
Mas, se eu andar rapidinho com meus pensamentos coxos, conseguirei fechar esta crônica a tempo? A tempo de pular fora da cadeira inclusive? Concretizar isto será ganhar o próprio bolão da felicidade, prêmio que eu somente aceito repartir com um tipo de homem. O que reúna estes dois predicados: não usar camisa, entender de serviço de estofamento.
Não concretizando, fico de antemão sabendo aquilo que devo esperar de uma espada, insegura e de má têmpera, que elege minha cabecita para PZ (Ponto Zero). Espada, todo mundo sabe, quando crava em algo que tem querença, leva anos para sair. (Excalibur, não sei por quê, me lembrei de você.)
O álcool como aditivo. Minha cortiça quando embebida em álcool dana-se a trabalhar, a ponto de eu ter forte suspeita de que, nessas horas, meus neurônios estão sob o regime de empreitada. Tem cerveja na geladeira, mas eu não vou lá. Hoje, segunda-feira, estou penitente na ordem de São Paulo Vanzolini. "Os pecados de domingo quem paga é segunda-feira."
O álcool queimado, isto é, impugnado. Eis então, nesta hora tão difícil, com quem eu posso contar: comigo, no meu natural mentiroso; com o meu velho e fiel dicionário, embora sabendo de suas limitações (ele não é analógico); com as resmas de papel que me entregam sua alvura, na ilusão de que estão contribuindo para algo grandioso; e com a caneta-relógio de duplo ofício: garatujar e cronometrar.
Por falar em cronometrar, na capital alencarina são precisamente... (Ei, alguém aí, mais cheio de vida, me diga que líquido é este, terrivelmente vermelho, que espadana de minha cabeça?)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O PLANETA DOS HOMENS E DOS MACACOS

Um hospital de Boston buscando economizar recursos humanos passou a empregar macacos na assistência aos pacientes inválidos. Treinados pela Dra. Mary Williard, uma entusiasta do método, os símios executam para os enfermos um sem-número de atividades, desde apanhar objetos pessoais até pôr um disco na vitrola.
No cativeiro do leito, os enfermos servidos pelo quadrúmanos sentem menos o espectro da solidão e ascendem vários pontos na escala do humor. Condicionados por um mundo moderno (sin: agressivo) a "pentear macacos" (não é o que se manda fazer, uns aos outros?), presenciam, num evidente sinal da mudança dos tempos, que a coisa agora ocorre ao contrário: os macacos é que lhe fazem penteados. Carinhosamente.
Observe o leitor: o macaco na medicina indo da pesquisa (o caso do Rhesus) para a área assistencial. Por toda parte, macaquinhos vestidos de macacões brancos naquela de carinhar enfermos. Entretanto, escotomas à parte, quem olhar mais longe verá que a "solução" traz um problema a reboque: o risco da generalização, da utilização desenfreada dos símios em múltiplas áreas do labor humano; ou seja, que se instaure uma nova era em que antropos e antropóides disputem empregos comuns.
E, problematizando ainda mais a "solução", poderá prever que o êxodo rural (problema atualíssimo das cidades grandes) será engrossado pelo êxodo silvestre. Hordas e mais hordas de "irmãos em Darwin" aqui aportando em busca de melhoria de vida. Isto significa: vão disputar colocação, num mercadinho de trabalho já limitado, oferecendo-se como mão-de-obra barata. Barata, pois a preço de banana e, o que é pior, NÃO SINDICALIZADA.
Mais desemprego, portanto. Com a desvantagem de que não adiantará nem mesmo nossa gente recorrer aos classificados dos jornais, pois eles estarão com os espaços tomados pela mais extravagante bolsa de empregos de que se tem notícia. Coisas assim:
Entrevistam-se candidatos para o cargo de macaco-de-chácara. Favor não se apresentar quem não for GORILA.
SAGÜI atende chamadas para desentupir ralos de banheiro. Larga experiência em meter a mão em cumbuca.
MACACO-BARRIGUDO, gordo bastante, acostumado a quebrar todo tipo de galho, oferece-se para serviços de poda.
ORANGOTANGO serve de guia a grupos que queiram excursionar em Buenos Aires. Conhece tudo sobre o rango e o tango portenhos.
CHIMPANZÉ oferece-se para o entretenimento da criançada na festa de aniversário de seu filho. Canta e dança imitando Carmen Miranda, comendo no fim o chapéu de frutas tropicais.
Macacos me mordam, se não!

domingo, 2 de dezembro de 2007

VESÍCULA PREGUIÇOSA, FEL DE PREPARO INSTANTÂNEO

ENTRADA PROIBIDA
A pessoas que estranhem nosso serviço.
DO OFÍCIO DE DILAPIDAR PROVÉRBIOS
A um homem faminto, se você der um peixe, mitigará a sua fome apenas uma vez. Mas se, em vez do peixe, você lhe der um caniço para que pesque, ele provavelmente morrerá de fome antes de fisgar algum.O mar não está, como nunca esteve, para aprendiz de pescador.
BRINCANDO DE CAVALINHO
O importante não é competir: é derrubar o jóquei.
ESTOU DECEPCIONADO COM MEU ALTER EGO
É alter egocêntrico.
ALÔ
- É da residência do Sr. Silva, Paulo GC?
- Sim, mas ele não se interessa por consórcio de carros.
NÃO ESCONDO
Trunfos na manga. Aliás, costumo estar de camiseta.
À QUEIMA-ROUPA
Quando todo tiro sair somente pela culatra, aí sim a humanidade conhecerá a paz.
O ELIXIR DA LONGA VIDA FOI DESCOBERTO
Agora, não há como levá-lo à boca a tempo. Tem o prazo de validade aquém de efêmero.
PERSCRUTO-ME
E descubro-me sem horizontes internos. (O diafragma não vale.)
SE ALGUÉM PISA NOS MEUS CALOS
Daí pra frente eu danço separado.
O MAL DESTA TARDE CALORENTA
É que ela já vai tarde.
E UMA ONDA DE FELICIDADE SE DESFAZ A MEUS PÉS
Sem chegar a invadir o corpo.
NA ÚLTIMA VEZ QUE EU VI A ESPERANÇA
Ela estava com uma pedra ao pescoço, procurando uma boa ponte. Que o diabo a carregue, se puder com a alça do caixão.
ABRAÇOS DE TAMANDUÁ PARA TODOS
Nenhum animal desdentado me pega para portador de seus abraços, mas o valoroso povo de Tamanduá, município sergipano, sim.
E POR HOJE ESTOU SÓ
Minha hiena de estimação atingiu o ponto ótimo de seu humor: está sorumbática e macambúzia, em quantidades rigorosamente iguais.

LAPIDAÇÃO

"Vede, eis a pedra brilhante dada ao contemplativo;
ela traz um novo nome, que ninguém conhece,
a não ser aquele que a recebe."
Ruysbroeck

Hora de descansar: carregar pedras!
(o trabalho)
Cobiçar no dedo aquela vistosa pedra de doutor
(o projeto)
Será ela a pedra angular de sua existência?
(a dúvida)
Parar um pouco, a fim de retirar as pedras do sapato
(o percalço)
Sabedor que um dia terá pedras na bexiga e na vesícula
(a previsão)
Não desesperar, pois ainda não tem o coração de pedra
(a mensagem)

sábado, 1 de dezembro de 2007

O AUTOR EM SETE PARÁGRAFOS

É do tipo "pão, pão, queijo, queijo" mas não façam desta definição um sanduíche. Entendam-na dentro de um contexto maior, o do caráter opinativo do autor que, a rigor, deveria se chamar Rigoberto. Rigô, para os íntimos.
Cinema, café cremoso, mesa de bar, Woody Allen, choro & bossa, clima de serra, Guimarães Rosa, tiradas de humor, contos de fadas, Tom Jobim, a mulher que passa e uma rede no alpendre são pessoas, coisas e situações que ele adora; que detesta, em primeiríssimo lugar, as entrevistas de "Adoro e Detesto".
Nunca irá morar numa ilha deserta. Tem mãe doente, namorada esperançosa, dívida no BNH, alergia a iodo marinho e não sabe onde, diabos, guardou o livro "Cem Receitas com o Coco". Conhece os seus direitos: estão todos na Lei Etelvino Lins.
Crença inabalável no mundo de amanhã em que a cogumelite não passará de uma doença (ana?)crônica e a Razão destronará de vez a Emoção. Será no mundo de amanhã, do primado da Razão, em que todas as dúvidas serão desfeitas, salvo esta: que fazer, putz, com tantas fichas de fliperama?
Sonha-se amiúde com final feliz. Exemplo: Granada em festa. Banda de música na praça principal. Palanque assim de dignitários. Ele, o homenageado da cidade. Pino simbólico das mãos do prefeito. Explosão em milhões de cacos. Oníricos, felizmente.
A paz interior, a que será definitiva, ainda não alcançada; contenta-se com tréguas. E faz da vida um eterno aprende-e-ensina. Por falar nisso, "venericárdio é um molusco bivalve que tem a concha em forma de coração".

Ele, PAULO GURGEL CARLOS DA SILVA, médico, 34 anos, minipoeta, escrevinhador e filósofo de bolso, é quem ocupará o (seu) espaço-tempo seguinte. Emissor ao ar, receptores ligados, qualquer mensagem menos compreensível a culpa será da estática.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

ILUSTRAÇÃO

Caricatura do escritor Paulo Gurgel (no restaurante Estoril?), feita pelo colega Ricardo Augusto, que figurou como uma das ilustrações do livro ENCONTRAM-SE.

CONTRACAPA

Escrita pelo compositor Jorge Mello, irmão de Emanuel (um dos autores do livro), para a contracapa de ENCONTRAM-SE.

ENCONTRAM-SE

Antologia de prosa e poesia publicada pelo Centro Médico Cearense em 1983. In memoriam Alarico Leite.
Autores: Beto Bezerra, Dalgimar Meneses, Emanuel Carvalho (Coordenação e Projeto Gráfico), Francisco Nóbrega, Francisco Sampaio, Heitor Catunda, Jackson Sampaio, Lucíola Rabello, Paulo Gurgel (Coordenação e Revisão), Ricardo Augusto, Rose Mary Silveira, Sérgio Macedo, Wilson Medeiros, Winston Graça.
Apresentação: Juarez Carvalho e Jorge Mello (contracapa).
Desenhos: Ricardo Augusto.
Arte Final e Capa: Rosemberg Cariry.
Gráfica IOCE.
Livro com 214 páginas.

24/11/2013 - Atualizando...
OS FEITOS DE RICARDO AUGUSTO NA NET
Convidado pela direção do Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC) para homenagear o  Dr. Ricardo Augusto da Rocha Pinto, como fundador do Serviço de Endoscopia Digestiva do HGCC, o Prof. Dr. Dalgimar Beserra de Menezes fez uma palestra no HGCC, em 29 de julho de 2011, da qual constou esta passagem:
"Ricardo Augusto, por suas múltiplas atividades e produções frequenta numerosas páginas da net. Começando onde todos nós - médicos - estamos, o site do Conselho Federal de Medicina  (http://portal.cfm.org.br/index.php?) CREMEC 2635. Na rede social, numerosas vezes (facebook etc) frequenta o blog do Paulo Gurgel, de onde saquei a foto que inicia esta sequência de diapositivos."
(extraído da pág. 55 do livro "Qvintvs", de Dalgimar Beserra de Menezes. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2013. Il)

domingo, 25 de novembro de 2007

PROFÉTICA

A São João

O Representante Plenipotenciário da Terra
-----erra na bola 7.
Então, Deus, com aquela expressão de milênios
-----mal dormidos, puxa um pigarro casual,
-----movimenta o taco certeiramente e manda
-----a Terra para a caçapa.
Segue-se um minuto de silêncio
-----tão comovente que reverbera
-----uma Eternidade.

DESCUBRAM SEUS ROSTOS

Que anjos são esses
Que me protegem - com dedais - das agulhadas
Mas que não trazem seus escudos
Quando me ameaçam as lanças?

Que anjos são esses
Que unguentam as minhas feridas cicatrizadas
Mas que não arrancam
As rugas daninhas do meu rosto?

Que anjos são esses
Que espantam de mim os mosquitos do verão
Mas que não se importam
Quando me rondam os abutres?

Que anjos são esses
Que me agasalham ao primeiro sereno
Mas que me largam
Ao relento durante a borrasca?

Que anjos são esses
Que me nutrem da celestial ambrósia
Mas que não diligenciam
Quando mastigo cogumelos venenosos?

ATÉ O ÚLTIMO PEDAÇO

Quando me sentir
Com as lágrimas congeladas na origem,
-----o frio por dentro,
De plástico, enfim
(Cor e forma não importam).
Qual um novo brinquedo da Estrela
Quero a sorte, quero as mãos
De uma criança que brinque comigo
-----até o último pedaço.

ORIENTAL

Somos seres
Fustigando camelos
Na senda dos prazeres.

Somos seres
Afiando cimitarras
Na fenda dos prazeres.

Somos seres
Emparedando haxixe
Na tenda dos prazeres.

Somos seres
Desempoeirando lâmpadas
Na lenda dos prazeres.

VESPERAL

Quando a tarde finda as janelas ficam
-----muito mais estratégicas.
Permitem que eu tenha olhos de ver
-----aflitos enxames nas calçadas.
(Folga o colarinho, João!)
Acompanho a cena do suarento sorveteiro. Ele,
-----o responsável pelo frio que corre
-----na espinha dorsal da tarde.
Disfarce que não me engana o do crepúsculo:
Estou preparado dos miolos aos testículos
-----para ser um guerrilheiro noturnal!
E a lua de marfim - minha bandeira
-----já está sendo hasteada.
(Meu Deus!... Quem agora combate o dragão
-----é John Wayne!)

sábado, 24 de novembro de 2007

A VAGA

O espírito clarividente me anunciou o porvir:
Continuando por esta rua, só pare quando ouvir
-----uma sonata de Ludwig van Beeethoven.
(O invisível pianista é hábil, mas há uma tecla
-----de lá bemol desafinada.)
Será a referência para dobrar na primeira
-----esquina à direita.
Prossiga, indiferente a uma velhinha
-----que tenta atravessar a rua.
Longe, verá um edifício inacabado,
-----aparentemente abandonado.
Perto, verá que tem uma placa:
Há vaga de anti-herói. Aceite o emprego.

AUTO DO COMPADECIDO

Houve um dia
No ano de mil e novecentos e setenta e nove
Que eu pensei na sorte(?) do mundo,
Dos seus andejos habitantes.
Numa praça das mais cosmopolitas
Fui apregoar:
Para cada angústia uma paz espiritual,
Para cada dor um lenitivo eficaz,
Para cada desalento uma palavra amiga.
Nem bem nem mal, apenas ia
Quando uma voz, a minha voz interior
Cresceu alguns decibéis. Lembrou-me:
- A Madre Teresa de Calcutá, sabe? É quem ganha
O Prêmio Nobel da Paz.
Desci do púlpito. Esfreguei as mãos.
As minhas mãos: uma sabia da outra.

DESFAZENDA

José,
O sol causticou todo o capinzal
Mas tu não esmoreceste.
Com aquele olho, olho de dono
Meio criador, meio rezador
Fitaste os teus bois:
Um a um definhando ao sopro quente da caatinga!
E enrijaste os punhos para a peleja,
Para a luta desigual contra as forças da Natureza.
Até que houve
O aniquilamento, o soçobro,
O fechar final da porteira de um curral vazio.
José,
Ainda tens aquele grito de revolta
-----para o último ato da seca?

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

QUINTAL DE INFÂNCIA

Na sala
O coração de Jesus, a visita chata, o Thesouro
-----da Juventude.

Na cozinha
O café fumegante, o pão com manteiga,
-----o grude.

No quarto
A rede enxadrezada, o grilo seresteiro,
-----a assombração.

No quintal
A roupa no varal, a goiabeira e toda
-----a imaginação.

INTERIORES

O verde-tristeza eu quero na sala.
O azul-solidão eu prefiro no quarto.
O branco-saudade combina melhor
Com a entrada da casa e comigo de fato.
Eu vou escolhendo, sabendo que as cores
Não ficam somente nos interiores.
E quando a certeza algum dia eu tiver
Que o sonho acabou madrugada qualquer:
Não quero que venham velar minha dor,
Outra vez apenas avisem o pintor.

Musicado pelo autor.

MINIBIOGRAFIA

PAULO GURGEL CARLOS DA SILVA - O autor em tela, pinta-se, aproveitou o dia 6 de junho (data considerada boa para D-day desde que os aliados desambarcaram na Normandia) para invadir o nosso mundo. Menos aguerrido, como convinha a um intelectual do após-guerra, aguardou o ano de 48 para sujar berço em Fortaleza, a ensolarada - numa espécie de desforra aos 9 meses em que residiu num quitinete escuro, úmido e apertado.
Mal nascera, ainda estava etiquetado ao pescoço, quando aconteceu de ser visitado por três importantes senhores, vindos de muito longe para admirá-lo: um vendedor de fraldas alérgicas, outro, de cueiros semi-novos, e um terceiro que tirou proveito da situação para cobrar contas atrasadas de seu pai.
Foi então levado a uma cerimônia com muito latinório, na qual estreando o nome Paulo vacinou-se contra o Limbo.
Além dos purgantes, recorda-se também das doses alopáticas de antiespasmódicos que lhe eram servidas quando choramingava. O tratamento da época para a angústia existencial na infância.
Garoto-prodígio, no insuspeito julgamento materno, aos 12 anos foi visto, na Igreja de Nossa Senhora das Dores, deixando basbaques os franciscanos frades com a sua citação, ipsis verbis, das 11 pragas do Egito. Sabia uma a mais do que Moisés, o Praguento.
Amantes dos livros, dois deles lhe marcariam profundamente a juventude: Os Lusíadas, de Homero, e Ilíada, de Camões. Abriram-lhe tanto a visão que, a seguir, fez um exame de vista sem que o oculista lhe dilatasse as pupilas.
À família, que começou no pentavô do pentavô do pentavô, uma ameba lá no Mar do Norte, tudo deve. Inclusive o seu nobiliárquico título de plebeian by birth. Ao anjo torto, que nunca lhe apareceu com palpites do tipo "vai, Paulo, vai ser isto e aquilo na vida", a isenção de qualquer responsabilidade.
Assim, foi somente ele, o biografado, quem deliberou: ser poeta e médico... para pensar (n)as mazelas do mundo.
Tem reflexôes: poesia não enche barriga, se enche é mais embaixo. Mas, ambivalente, ele prossegue assinando trabalhos literários pela imprensa local, enquanto sonha com o dia em que será aceito como colaborador do Ceará Agrícola.
E acha que dois fatos ainda podem acontecer em sua vida: publicar um livro que tenha uma torcida maior do que a do Calouros do Ar; e, metido num fardão, tomar o chá com torradas da Academia de Letras de Fernando de Noronha.

ILUSTRAÇÃO


Ilustração feita por Emanuel Melo para o capítulo do livro VERDEVERSOS em que estão os poemas de Paulo Gurgel.

APRESENTAÇÃO

O CENTRO MÉDICO mais do que nunca está feliz por poder apresentar o livro VERDEVERSOS, fruto do trabalho poético de colegas médicos que, no trato diário com os pacientes, hoje são reconhecidos e respeitados e nas coisas da arte alguns já estão em vôo, como o nosso Caetano, Jackson e Airton (poesia), Emanuel e Winston (pintura), Paulo Gurgel e Emanuel (música), e outros que decolam pela primeira vez já com asas de Fênix. O Centro Médico espera que este livro seja o primeiro de muitos projetos difíceis levados a termo, pois é importante a nossa postura voltada para o engrandecimento humano do médico, facilitando aos colegas que possam desenvolvê-la, estimulados pelo reconhecimento do valor, recebidos e consumidos normalmente pela classe e pela sociedade. Queremos registrar o empenho do colega Emanuel que idealizou o projeto e a ele esteve ligado nas fases de concepção e produção, demonstrando versatilidade nos desenhos da capa e ilustrações, a quem formulamos especial agradecimento.

Dr. José de Aguiar Ramos
Presidente do Centro Médico Cearense

VERDEVERSOS

Antologia poética publicada em 1981 pelo Centro Médico Cearense.
Autores: Airton Monte, Alarico Leite, Caetano Ximenes, Emanuel Melo (editor), João Bosco Sobreira, José Jackson Sampaio, Maria Irene Nobre, Lucíola Rabello, Paulo Gurgel e Winston Graça.
Apresentação: Aguiar Ramos e Adriano Espínola (autor do ensaio "Poesia Presente").
Capa e ilustração: Emanuel Melo e Winston Graça.
Arte final: Rosemberg Cariry.
Gráfica IOCE.
Livro com 170 páginas.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O AUTOR

PAULO GURGEL CARLOS DA SILVA foi um dos fundadores da Seção Ceará da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, havendo participado como vogal de sua primeira diretoria. Em 1985, sucedendo a Dr. Emanuel de Carvalho Melo, assumiu a presidência da Sobrames Ceará para gerir os destinos desta entidade até 1987. Em sua gestão editou o livro Nomes e Expressões Vulgares da Medicina no Ceará (1985, IOCE), de Eurípedes Chaves Junior, e organizou, ilustrou e editou Criações (1986, Gráfica do CMC), uma coletânea reunindo textos literários de nove médicos filiados da Sobrames Ceará. Em 1987, após passar a presidência desta sociedade para o colega Geraldo Bezerra da Silva, assumiu a sua vice-presidência. Em 1990, na gestão do colega Luís Gonzaga de Moura Júnior, retornou à situação de vogal da Sobrames Ceará. Em 1992, coordenou o Módulo Médicos Escritores do VIII Outubro Médico, promovido pelo Centro Médico Cearense. Recebeu premiações em concursos literários patrocinados pelo BNB Clube de Fortaleza e pela Associação Médica Brasileira. Prefaciou o livro Em Busca de Poesia, de Dalgimar Beserra, e teve comentários de apresentação inseridos nos livros A Cor do Fruto, de Fernando Novais e Nossos Momentos, de Wellington Alves. Sua obra literária figura nas antologias Verdeversos (1981), Encontram-se (1983), MultiContos (1983), Temos um Pouco (1984), A Nova Literatura Brasileira (1984), Escritores Brasileiros (1985), Poetas do Brasil (1985), Criações (1986), Sobre Todas as Coisas (1987), Letra de Médico (1989), Efeitos Colaterais (1990), Meditações (1991), AMB – 40 anos (1991), Outras Criações (1992), Esmera(L)das (1993), Prescrições (1994), Antologia até Agora (1996), Médicos Escritores & Escritores Médicos da FMUFC (1998) e Marcelo Gurgel: Verso e Anverso (2003).