segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

EM DEFESA DA POESIA

Texto cujo trecho final figurou na contracapa de TEMOS UM POUCO, servindo de apresentação à obra, que foi escrito pelo médico Caetano Ximenes Aragão.

Já se foi o tempo em que os médicos viviam em colóquio suspeito com as musas.
Dessacralizado, desmistificado profissionalmente, o médico passou a ser um homem dentro de uma realidade que não admite mais empostações românticas. E pode o médico exercer sua profissão sem se sentir prejudicado pelo poeta, repudiando velho preconceito burguês, de cunhar de maneira depreciativa e irresponsável, os homens que perseguem uma verdade nova, de boêmios e loucos.
Em face da incapacidade de pressentir a presença do novo, muita gente não se apercebe de que o mundo está mudando e de que sua escala de valores, às vezes, não tem valor nenhum. São dez poetas e dez médicos, irmanados em TEMOS UM POUCO, que vêm dar seu testemunho, todos duplamente filhos de Apolo.
Basta-nos Apolo, o múltiplo Deus, pai da Poesia e da Medicina, que ensinou aos homens as artes de curar e as de fazer versos, de cujos lábios nunca brotou nenhuma falsa palavra.
De Delfos, o umbigo do mundo, seguindo o "Rastro de Apolo", poema de Gerardo de Melo Mourão, retiramos as sextilhas que se seguem:

"Pois o amor, a flor e a morte
são obras de sua mão
são águasdo mesmo rio
são fontes do coração
por onde o sopro de Apolo
rege a humana ordenação.

Seu espírito divino
mais sábio que Salomão
sabia a ferida e o bálsamo
a doçura da canção
pois era senhor da vida
da morte e ressureição.

Para remédio das almas
fundou a Pytyhia divina
para remédio do corpo
inventou a medicina
foi o pai de Asclépio, médico
mestre em sua disciplina."

Portanto, Poesia e Medicina têm a mesma origem e a mesma paternidade, razão melhor para não nos envergonharmos de sermos poetas e médicos ao mesmo tempo.

Caetano Ximenes Aragão

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