Esta semana surgiu um defeito no meu carro 1495 km: uma das portas emperrando. Ao investigar a causa do emperramento encontrei - meu olho mecânico encontrou - que, quando ia abrir ou fechar a porta, a fechadura patinava, e isto porque um de seus dois parafusos de sustentação havia caído. Era um parafuso omisso o causador do problema inteiro, portanto.
Levei o veículo a uma das concessionárias do fabricante. Lá, após uma distraída consulta num maçudo catálogo de autopeças, o funcionário me despachou com um "tem mas está faltando". (O parafuso que eu procurava - cabe aqui um esclarecimento - era daqueles que têm na cabeça, chata, os sulcos em cruz.)
Continuei minha "via parafuso crucis". Fui a uma segunda concessionária onde, novamente, ouvi o "tem mas está faltando", desta vez acrescido de "o senhor poderá, em caráter de urgência, solicitar do fabricante em São Paulo". Porca miseria, teria exclamado um italiano na minha situação.
Fui a uma terceira. Nesta, também ouvi o sempiterno "tem mas está faltando", só que seguido desta "pérola" da solucionática: "o senhor deixa o carro na oficina que o problema passa a ser dos mecânicos, aí eles têm que dar um jeito". Ora, depois de peregrinar por Ceca, Meca e Olivais de Santarém, queimando hidrocarboneto, ainda ter de deixar o carro no estaleiro, por causa de um único parafuso, me paraceu um desaforo. E desaforo eu não levo para casa, principalmente a pé. Vão todos para Caixa-Pregos ou, melhor, para Caixa-Parafusos.
Já estava meio conformado a circular "pelaí" com um parafuso de menos (no carro, leitor) quando, a caminho de casa, deparei com um ponto de revenda de autopeças, desses que sobrevivem à margem do sistema. Tinha o estabelecimento comercial a aparência de uma birosca. Birosca? Não, retiro esta palavra que alguém pode confundir com bi-rosca, o papo já está por demais metalúrgico.
O fato é que eu dei uma paradinha lá. O moço que me atendeu, embora não dispondo no estabelecimento de um parafuso com a especificação já descrita, interessou-se em resolver o meu problema, eis a diferença. Localizou, em suas gavetas, um parafuso diferente do tipo que eu procurava, mas que cabia perfeitamente no lugar onde, antes, estava o relapso do parafuso original. Problema resolvido.
Ao final, perguntado pelo preço do parafuso (com o serviço incluído) o moço, com cara de muito amigos, respondeu-me: "que é isso, doutor?". Ah, enquanto ele parafusava... eu também fazia o mesmo, só que, em meu caso, o verbo parafusar está sendo empregado como sinônimo de meditar (confiram num dicionário de bom calibre).
Parafusava que, por esta e por outras, até o fim deste século ou deste milênio (o que acontecer primeiro), eu estarei que... pequeno é bonito. Tinha razão o gringo do small is beautiful.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
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