sábado, 29 de dezembro de 2007

AUTO-ENTREVISTA

A vida te sorri?
Quando sorri é porque aprontou mais uma, porém recebe o troco em esgares. Figa! Querer eu quero verter as lágrimas da humana condição, mas sou um choramingas exigente. O ombro amigo, primeiríssimo, tem que ser impermeável. Já o lugar ao sol, o disputado lugar não é problema para mim. Há tempos venho me quentando nele embora o alvará esteja, com o perdão da gagá palavra, caduco. Porém, paciência, que ninguém é inamovível. Vissem o que, de uns tempos para cá, tem acontecido com a fonte da Praça da Lagoinha.
Te consideras um sonhador?
Tremendo. (E se estou figurando num pesadelo em 3D, botem tremendo nisso.) Entrementes, cheguei a uma terrível constatação. Até hoje não sei como reconhecer as fronteiras entre o sonho e o real. Mesmo porque, nelas, não há aduanas. Agora, por exemplo, estou sonhando ou (me) realizando? O tipo da circunstância em que um beliscão é esclarecedor. Contudo não me belisco. O enredo diz que eu sou um balão, desses bem inflados, e pra isso estou acordado, caras.
Dás veracidade aos horóscopos?
Há posicionamentos difíceis para quem não é astro. E sucede que eu não leio horóscopos. Primeiro, por superstição, e segundo, porque não quero bisar os erros do futuro. Mesmo assim respeito a "proficção" de astrólogo e estou que tudo é previsível - a posteriori. E horóscopos não são um engodo. A realidade subseqüente é que ardilosamente subverte os fatos, inclusive os catastróficos. Daí a confusão.
És um "animal político"?
O adjetivo "político" não cabe no degas aqui. Considero esta senhora, a política, uma grega. Uma hidra-de-sete-cabeças, todas elas desidratadas. Um cão - aqui se valendo da imagem chula - que, fora de si, tenta devorar a si próprio começando o empreendimento pelo rabo. Ninguém sabe como termina. Um animal cotó que atende pelo nome de Peri? Prosaico demais. Um cão que a torpe autofagia o imobilizou com a boca já nas ilhargas? Outro cão, au-autoplástico, mas com o estômago cheio? Ou, enfim, o cão virtual? Este, por ser virtual, não ladrará nem morderá, e terá seu uso doméstico recomendado pelo sindicato dos ladrões. É mesmo um impasse de cão. Por isso, às vezes, saio do meu moderado e penso sobre me alistar na guerrilha nacional. Mas eles pagam tão mal.
Amas a "mãe gentil"?
Sim, com a restrição seguinte: é um amor não correspondido. A carta de boas intenções (a propósito, verificar de que o inferno está cheio) é interceptada, sempre, pelo senhor Jacques de Larosière, a tal com quem ela vive de papel passado em Nova Iorque. E o apátrida senhor, que acumula o cargo de diretor-gerente do FMI, sobretudo trata mal a pobre da "mãe gentil". A pão de Jó. Como alternativa, mandar a correspondência para Brasília D.F., seu endereço anterior, também não funciona. Só vai provocar risos nos de lá. "Leitão, lê mais esta." "É boa hi, hi, hi..." Por falar em leitão, o Brasil como se parece com o pernil de um. Especialmente quando visto do hemisfério norte. Bom apetite, louros rapazes (rapaces?).

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