Detesto escrever (es)premido pelo tempo. É horrível, principalmente quando se tem, à mão escritora, uma caneta-relógio procedente de Formosa. Apesar disto, ouso apertar o teu corpo, ó sereia tecnológica. Ambígua és. Se, por tua porção-relógio, cantas as horas, os minutos e os segundos, com isto desviando os meus pensamentos da serena rota, no oposto extremo, por tua porção-caneta, os ancoras para a nova vida: gráfica.
Minhas pernas não se colocam. Tremebundas, estão sendo varridas por uma sensação de inquietude que percorre agora o corpo como um todo. É que, acima de minha cabeça, se fez ameaçadoramente real uma arma branca. Eu diria se tratar da Espada de Dâmocles, na sua versão 82. E a dita-cuja do teto pende, sustentada apenas por um fio (não confiável), exatamente acima de minha cabeça. Exatamente
Adivinhem quem armou o terrífico dispositivo? Cronos, o Tempo, que preside a criação e a destruição de todas as coisas, concretas e abstratas. Dono de um estilo consagrado, Cronos, quando o assunto é de seu especial interesse, deixa o tempo correr frouxo, sem peias, mas, se o assunto é do interesse de um mortal qualquer, não, sem demora estabelece cronogramas e quejandos.
No meu caso: Cronos encurtará seu pavio da tolerância, minuto a minuto, na medida em que se aproximem as "digitadas" da meia-noite, o tempo-limite para esta léria terminar. Um segundo a mais, uma fração de segundo a mais... e Cronos me destruirá, uma desgraça que não fica somente no plano alegórico. Ele sempre exorbita.
Mas, se eu andar rapidinho com meus pensamentos coxos, conseguirei fechar esta crônica a tempo? A tempo de pular fora da cadeira inclusive? Concretizar isto será ganhar o próprio bolão da felicidade, prêmio que eu somente aceito repartir com um tipo de homem. O que reúna estes dois predicados: não usar camisa, entender de serviço de estofamento.
Não concretizando, fico de antemão sabendo aquilo que devo esperar de uma espada, insegura e de má têmpera, que elege minha cabecita para PZ (Ponto Zero). Espada, todo mundo sabe, quando crava em algo que tem querença, leva anos para sair. (Excalibur, não sei por quê, me lembrei de você.)
O álcool como aditivo. Minha cortiça quando embebida em álcool dana-se a trabalhar, a ponto de eu ter forte suspeita de que, nessas horas, meus neurônios estão sob o regime de empreitada. Tem cerveja na geladeira, mas eu não vou lá. Hoje, segunda-feira, estou penitente na ordem de São Paulo Vanzolini. "Os pecados de domingo quem paga é segunda-feira."
O álcool queimado, isto é, impugnado. Eis então, nesta hora tão difícil, com quem eu posso contar: comigo, no meu natural mentiroso; com o meu velho e fiel dicionário, embora sabendo de suas limitações (ele não é analógico); com as resmas de papel que me entregam sua alvura, na ilusão de que estão contribuindo para algo grandioso; e com a caneta-relógio de duplo ofício: garatujar e cronometrar.
Por falar em cronometrar, na capital alencarina são precisamente... (Ei, alguém aí, mais cheio de vida, me diga que líquido é este, terrivelmente vermelho, que espadana de minha cabeça?)
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
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