quarta-feira, 27 de outubro de 2010

FÓSFOROS - 2

Um amigo comentava o grau de interferência dos familiares da esposa em todas as decisões que ela devia tomar. Até para comprar, por exemplo, uma caixa de fósforos na mercearia da esquina.
Um problema logo se impunha: qual deveria ser a marca da caixa de fósforos?
O telefone tocava. E já era uma das irmãs da esposa, inteirada da existência do problema, a lhe oferecer alguma solução. "Escuta, a marca A é de melhor qualidade e no supermercado X está em promoção. Desligo. Tchau."  Mas o caso não estava resolvido, pois o telefone logo tocava novamente. Com outra irmã na linha, estabelecendo uma espécie de dilema. "Não, a marca A vem com menos fósforos na caixa. Compre B."
Pouco tempo após, novos telefonemas tinham elevado o escore para dois a dois. E a esposa, sem sair do pé do telefone, que toca alucinado. São novas ligações que aumentam o escore para três a três, quatro a quatro... Quer dizer, continua tudo ao nível de indecisão (mesmo já tendo sido ouvida a irmã mais velha que mora em Brasília).
E a esposa, desolada, botando o telefone no gancho:
- Não consigo falar com mamãe. Deve ter saído para visitar alguém.
Sim, ainda faltava ouvir a opinião da matriarca da família, o voto de Minerva que dissiparia as dúvidas de tão indeciso espírito.
Por fim consultada, eis como Minerva votou:
- Por que você não compra logo um acendedor elétrico?
A solução perfeita. Ou quase, se considerarmos que houve a seguir novas rodadas de ligações telefônicas. Com sugestões de marcas, modelos, preços, tempos de garantia etc.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

PEQUENO GUIA PARA ENTENDER O ESCRITOR

Ele tem parido com dor (pela mulher que seguiu à risca o preceito bíblico) dois filhos, Érico e Natália. E tem dado ao lume, sem a participação dela, uma pequena galeria de personagens. O Jorge George, que tem uma relação absolutamente "desligada" com o mundo e que, por isso, torna-se agente e paciente das maiores desventuras; o Dr. Carta Pácio, que vive a escrever (e, o que é pior, a enviar) missivas com suas mirabolantes propostas, alicerçadas em argumentações pseudocientíficas; o Antonomásio, de curtas aparições, quando o texto está a exigir a presença de alguém de posições firmes, sem papas na língua, e que não leva desaforos para a casa, o qual, por ter sido batizado com água quente, tem esses predicados de sobra; o Professor Kyw, um mestre do vernáculo que defende às últimas consequências o alfabeto pátrio extirpado das letras alienígenas; e o Dr. Asdrúbal, um médico colecionador de casos insólitos na profissão e solidário com as desgraças alheias, mesmo que isto signifique revelar que já passou por elas com galhardia.
Depois de haver participado de duas dezenas de antologias literárias, ainda não ter um livro solo não chega a ser um mistério. É para dar mesmo trabalho a seus futuros (e não autorizados) biógrafos. Mas, caso venha a mudar de ideia, publicará esse livro solo, ao pressentir que a hora de seu canto do cisne esteja chegando. Ora, se os elefantes sabem a hora de se dirigirem aos cemitérios, por que ele não saberá o instante azarado azado de procurar o editor?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O SEXO DOS LEÕES

A nossa Praça General Tibúrcio, depois de passada a limpo por uma reforma, revelou-nos uma coisa surpreendente. A respeito da anatomia de um casal de leões de ferro fundido, os quais, de tão admirados pela população fortalezense, fazem com que o logradouro seja conhecido como a Praça dos Leões.
É que os leões apresentam os sexos trocados. O macho, identificado por sua imponente juba, exibe uma genitália feminina, enquanto a fêmea não pode ser considerada uma leoa, já que tem uma estrovenga.
Aventa-se a hipótese de que o escultor dos leões, com receio de não receber o pagamento de seu trabalho, de um modo pré-vingativo tenha aprontado a coisa. Mas eu, particularmente, penso em outra possibilidade, a de que o anônimo artesão apenas copiou os modelos que lhe foram fornecidos. Um casal de leões que, para a minha hipótese ficar verossímil, possa ter vindo de Marrocos. Depois de submetidos a cirurgias de mudança de sexo em alguma afamada clínica desse país africano.
Difícil é acreditar que, durante muitos anos, o bizarro achado tenha ficado oculto ao olho do fortalezense. O conterrâneo, quem sabe, não pense só naquilo... Agora, eu tenho cá minhas dúvidas se o fato passaria despercebido se, no lugar dos leões, houvesse jumentos. Ainda mais se as esculturas asininas ganhassem vida e começassem a fazer amor em plena praça.
Decidido a pôr uma pá de cal sobre o assunto, ainda tenho a seguinte opinião. Está tudo OK com os sexos dos leões, apenas a juba é que foi posta no exemplar errado. E, se isso tivesse sido desde o princípio admitido, quantas linhas não teriam sido economizadas nos jornais da cidade. Pois a gente começa a discutir o sexo dos leões e, quando menos espera, já está a discutir o sexo dos anjos.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

CORRE(I)ÇÕES

Sr. Editor:

Há algum tempo encaminhei-lhe uma carta em que fazia oportunas considerações a respeito do Congresso Nacional. Como a mesma não foi até agora publicada, presumo que tenha sido por conta do excesso de termos bajulatórios que andei nela empregando.
Ainda assim rogo a publicação dessa carta, na qual acabo de identificar a necessidade de fazer três reparos:
  • onde escrevi o adjetivo “capaz” acrescentar que é “de tudo”;
  • onde usei a expressão “fruto do trabalho”, substituí-la por “furto no trabalho”;
  • e, por fim, trocar a expressão “bem comum” por “bem com um”.
Afinal, temos o melhor Congresso que o dinheiro pode comprar.

Cordialmente,
Paulo