sexta-feira, 23 de novembro de 2007

MINIBIOGRAFIA

PAULO GURGEL CARLOS DA SILVA - O autor em tela, pinta-se, aproveitou o dia 6 de junho (data considerada boa para D-day desde que os aliados desambarcaram na Normandia) para invadir o nosso mundo. Menos aguerrido, como convinha a um intelectual do após-guerra, aguardou o ano de 48 para sujar berço em Fortaleza, a ensolarada - numa espécie de desforra aos 9 meses em que residiu num quitinete escuro, úmido e apertado.
Mal nascera, ainda estava etiquetado ao pescoço, quando aconteceu de ser visitado por três importantes senhores, vindos de muito longe para admirá-lo: um vendedor de fraldas alérgicas, outro, de cueiros semi-novos, e um terceiro que tirou proveito da situação para cobrar contas atrasadas de seu pai.
Foi então levado a uma cerimônia com muito latinório, na qual estreando o nome Paulo vacinou-se contra o Limbo.
Além dos purgantes, recorda-se também das doses alopáticas de antiespasmódicos que lhe eram servidas quando choramingava. O tratamento da época para a angústia existencial na infância.
Garoto-prodígio, no insuspeito julgamento materno, aos 12 anos foi visto, na Igreja de Nossa Senhora das Dores, deixando basbaques os franciscanos frades com a sua citação, ipsis verbis, das 11 pragas do Egito. Sabia uma a mais do que Moisés, o Praguento.
Amantes dos livros, dois deles lhe marcariam profundamente a juventude: Os Lusíadas, de Homero, e Ilíada, de Camões. Abriram-lhe tanto a visão que, a seguir, fez um exame de vista sem que o oculista lhe dilatasse as pupilas.
À família, que começou no pentavô do pentavô do pentavô, uma ameba lá no Mar do Norte, tudo deve. Inclusive o seu nobiliárquico título de plebeian by birth. Ao anjo torto, que nunca lhe apareceu com palpites do tipo "vai, Paulo, vai ser isto e aquilo na vida", a isenção de qualquer responsabilidade.
Assim, foi somente ele, o biografado, quem deliberou: ser poeta e médico... para pensar (n)as mazelas do mundo.
Tem reflexôes: poesia não enche barriga, se enche é mais embaixo. Mas, ambivalente, ele prossegue assinando trabalhos literários pela imprensa local, enquanto sonha com o dia em que será aceito como colaborador do Ceará Agrícola.
E acha que dois fatos ainda podem acontecer em sua vida: publicar um livro que tenha uma torcida maior do que a do Calouros do Ar; e, metido num fardão, tomar o chá com torradas da Academia de Letras de Fernando de Noronha.

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