Gestações de um ano ou mais já deram à luz personagens da mitologia e da literatura. O fato é justificado pela necessidade de a mãe gerar uma obra-prima, muitas vezes destinada a fazer proezas. Com efeito, diz Homero que, tendo Netuno engravidado a Ninfa, esta só deu à luz um ano depois. Como informa Aulo Gélio, tão longo tempo era exigido pela majestade de Netuno, a fim de que o filho fosse formado com perfeição. Pelo mesmo motivo, Júpiter fez durar quarenta e oito horas a noite em que dormiu com Alcmena. Embora aqui se trate de uma fecundação, em menos tempo Júpiter não teria podido forjar Hércules, que limpou o mundo de monstros e tiranos.
Já Gargantua (na gravura acima, de Gustave Doré), personagem principal do romance homônimo de Rabelais, passou onze meses no ventre de sua mãe. E, por causa do inconveniente de ter ela comido tripas quando grávida, é que o bebê Gargantua passou por entre "os cotilédones superiores da matriz, entrou na veia cava e, subindo pelo diafragma até ao alto das espáduas, onde aquela veia se ramifica em duas, encaminhou-se para a esquerda e saiu pelo ouvido".
– Bem, saiu pelo ouvido e quem quiser que conte outra.
Original: EM, 16/06/2011
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