quarta-feira, 22 de outubro de 2014

COM TÍTULOS CURTOS

TRABALHOS DE PESQUISA
Se houver uma competição para escolher o trabalho de pesquisa que apresenta o título mais curto este é um forte candidato ao título:
"Q". por Leon Knopoff. Reviews of Geophysics, vol. 2, no. 4, 1964, pp. 625-660.
Começa assim:
"Se não fosse pela atenuação intrínseca do som no interior da Terra, a energia dos terremotos do passado ainda estaria hoje reverberando no interior da Terra. O caos resultante dessa perspectiva impressionante é uma especulação que está fora do escopo deste artigo. E nossa tarefa aqui é investigar onde, na terra sísmica, a energia é convertida em calor; e se esta conversão é realizada com igual eficiência em todo seu interior, ou se algumas partes do interior são mais capazes de realizá-la do que outras."
Concorre com ele:
"E", por Christopher J. Mulvey, Supplemento ai Rendiconti del Circolo Matematico di Palermo, 1986.
(Em verdade, o título desse trabalho não é a conjunção aditiva "e" em letra maiúscula. É o sinal que representa a conjunção latina "et", o qual é muito usado em nomes de empresas e que, por isso, é também conhecido como "e comercial". Ele é, dentre todos os caracteres, o mais parece um monograma. E, se até agora você não matou a charada, ele é o que divide a tecla com o número 7 em seu teclado QWERTY. Lamentavelmente, não posso escrevê-lo no blogue porque ele é automaticamente modificado para: "ele mesmo + abreviatura de ampersand + ponto-e-vírgula". Coisas do HTML.)
Em compensação, no Journal of Applied Behavior Analysis (JABA), há um interessante artigo de Dennis Upper, intitulado The Unsuccessful Self-Treatment of a Case of “Writer’s Block” (O Fracassado Auto-Tratamento de um Caso de “Bloqueio do Escritor”), que pode ser lido de uma assentada, visto que o artigo completo apresenta conteúdo vazio (alguém já disse mais com menos palavras?). Resume-se ao título.
Ele foi publicado – sem revisão – com este entusiasmado comentário do Revisor A:
Eu estudei cuidadosamente este manuscrito, com suco de limão e raios-X, não detectando um só defeito no projeto ou no estilo da apresentação. Sugiro ser publicado sem revisão.
Original: EM, 03/09/2014
LIVROS

Já na categoria livros com títulos curtos, há-os em maior número. Na literatura norte-americana, os exemplos de livros cujos títulos consistem de uma letra vão de A, de Andy Warhol a Z, de Vassilis Vassilikos. Passando por C, de Tom McCarthy, um dos romances finalistas deste ano no Booker Prize.

Algumas letras são mais requisitadas (C, H, K e S); enquanto outras nunca foram lembradas para títulos de livros. As letras inéditas, portanto, ainda estão disponíveis a quem queira publicar um livro utilizando-se do processo de nomeação ora descrito.
A favor do método está o fato de o título ficar mais memorizável. Compare-se, por exemplo, o V, de Thomas Pynchon, com o A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao, por Junot Díaz.
É um processo que foi utilizado até mesmo por alguns superstars da literatura estadunidense como John Updike.
"S." (1988), de John Updike, é a história de Sarah P. Worth, uma buscadora espiritual completamente moderna que se apaixonou por um místico hindu chamado Arhat. Nativa da Nova Inglaterra, ela vai para o Oeste para se juntar a seu ashram (líder espiritual) no Arizona, onde luta ao lado de outros sannyasins (peregrinos) na difícil tentativa de subjugar o ego e alcançar a moksha (salvação, libertação da ilusão). "S." detalha suas aventuras em cartas e fitas enviadas ao marido, à filha, ao irmão, ao dentista, ao cabeleireiro e ao psiquiatra — mensagens habilmente elaboradas para manter seu velho mundo em ordem, enquanto ela cria um novo para si mesma. Vê-se que a história é uma paródia da busca pela iluminação.
Original: EM, 06/05/2011

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