quarta-feira, 30 de maio de 2018

AUTORRETRATO FALADO

Ainda não tirei aquela fotografia com uma fita métrica ao fundo. Mas, asseguro-lhes, minha estatura não é alta. Aliás, é baixa - e com viés de baixa pelo fator idade. Também fui baixo no Coral Universitário.
Quanto ao peso, segundo o IMC, estou com sobrepeso. O que vem me dificultando manter a insustentável leveza do ser.
Cabelo estilo Elis Regina. Já tive grandes costeletas para provar que Elvis não morreu. Faço barba e bigode exatamente nestes.
Olhos: castanhos, de encantos tamanhos (como diz o fado), e que abrigam lentes implantadas; sob eles, bolsas de gordura que não aprenderam seu lugar com a cirurgia plástica.
Sobrancelhas que não se juntam na linha média. Ainda bem, pois eu não gostaria de ser um monobrow.
Nariz fino, meio inadequado para apoiar os óculos. Tenho estes numa versão para o dia e noutra para a noite, usadas na base do tanto faz.
Orelhas: de abano na infância, beneficiadas pela correção espontânea. O que contraria a ordem natural dos petelecos já levados.
Lábios: finos e sem herpes.
Rugas atribuídas à idade e à gravidade. As rugas, como disse o sambista, fizeram residência no meu rosto, não choro para ninguém me ver sofrer de desgosto.
Pescoço curto. Mas que dá para passar uma gravata.
Tórax pilífero.
Ombros resolutos que desafiam bursites.
Mãos pequenas. Unhas periodicamente limpas, quando as corto bem rentes. Não compactuo com suas mentiras.
De modo indevido, já ostento a tal barriga da prosperidade. Em sua parte inferior, a barriga se afunila em uma espécie de apêndice. Cabisbaixo ou não, ele pende sempre para a esquerda.
Pernas algo arqueadas para quê, meu deus, se não vou entrar num saloon.
Calçando 38, duplo (quero dizer, nos dois pés).
Sem sinais particulares. Bem, no flanco esquerdo, eu tinha um sinal que, ao perder a minha estima, mandei um cirurgião amigo retirar. Só tornaremos a nos encontrar no Dia do Juízo Final. (Não, não é com o cirurgião que eu vou me encontrar.)
Original: EM, 25/09/2015

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