domingo, 22 de fevereiro de 2009

A VEZ DA VOZ

"E disse: minha voz, se vós não sereis minha
Vós não sereis de ninguém." (Chico Buarque)

Mãe Natureza equipou grande parte de sua criação animal com um órgão fonador, o qual, como o nome indica, se destina à emissão de sons. A esses sons, intencionalmente emitidos pelo animais, dá-se o nome genérico de voz. Possuem-na, por exemplo, o Falsete, o Polichinelo, o Veludo, o Trovão, o Ventríloquo e a Taquara Rachada.
No princípio, a voz de um animal era compreendida apenas por outro de sua espécie. Mas, aí surgiu o homem que, muito à vontade, tratou de inventar a pesquisa. A pesquisa, pela palavra em si, foi um achado. Servia para o homem disfarçar o incomensurável bedelhismo e, ainda, de quebra, para ele conseguir algum ($$$) com alguma fundação. Crítica à parte, foi através da pesquisa que o homem chegou a resultados animadores na decodificação da voz dos macacos, dos golfinhos e das cantoras de fado.
É na hora de ouvir a voz da própria consciência que o homem sente grande dificuldade. E botem dificuldade nisso, agora que ele deu para andar com os ouvidos calafetados pelos fones de um "Aiko-man". O ser humano, ao nascer, tem o direito inalienável a duas caixas de som e a um microfone apenas. Os leitores podem indagar: e nós com isso? É que 1º) devemos ouvir, 2º) devemos falar. Fiquem na oitiva, portanto.
Lembram-se de quando Ulisses Guimarães definiu Abi-Ackel como "sendo uma voz à procura de uma idéia"? Pois bem, enquanto o ministro a procura, eis meu recado para Ulisses. Ulisses: vá tirando o seu cavalinho-de-tróia da chuva. Você não devia ter sido assim cruel com o Abizão. Ora, logo com ele que é tão cordial com todos, gregos e troianos, e, ainda outro dia, recebeu no gabinete ministerial uma humilde porca. Sem audiência marcada, acrescente-se.
Já que "politiquizei" o texto, pretendo dar um giro na recente história política deste país (Brasil, da fase castelista para cá). Corriam os sofridos de 1965, o duro regime da época decidiu fazer certas "nenas" democráticas e, com este fito, criou de cima para baixo dois partidos - a ARENA e o MDB - que, com o tempo, viriam a ser chamados de "Partido sem Voz" e "Partido sem Vez", respectivamente, pela inteligência crítica da nação. Cada qual no seu ofício: o "Partido sem Voz" legislando, até ficar afônico, sobre o teor de cloreto de sódio a ser permitido nas pipocas do reino, e o "Partido sem Vez", mantido fora desse processo, a bem do próprio nome.
Criando uma imagem, eu diria que os dois partidos estavam numa espécie de gangorra. Só que a ARENA cavalgava a trave, sem querer descer, e o MDB, sem poder subir. A explicação disso não se achava no peso político de cada um e sim na gangorra anquilosada, como convinha aos "omes". Por mais que o MDB tentasse o impulso, a gangorra se mantinha "paradona". Houve um momento em que ela emitiu uns rangidos, fez menção de se movimentar, mas aí vieram os "omes", os verdadeiros brincantes, e pararam a gangorra. Reforma, foi o motivo alegado.
Agora é a vez de dar um puxão nas orelhas, com mais força na esquerda. A Oposição, por motivos intestinos, pegou piração de baleia. Mania de suicídio. É jangada que se desmonta em paus para se fazer ao mar. PMDB, PT, PDT, PTB, PEtc. Tenho certeza de que Tia Zulmira Ponte Preta, a essas malfadadas horas, deve estar se revirando sob a lápide, e dizendo com voz sepulcral: "Cada pulga quer um cão só para si". Enquanto isso, o Espírito da Situação paira sobre as águas - impávido que só vendo!
Paro o berro. Não quero forçar, por mais tempo, as cordas vocais. Afinal, de voz ainda preciso para umas derradeiríssimas palavras. Vão para três tipos delas: 1) Voz de sereia (Por que me fizeste perder o norte magnético e o tempo? Devia ter previsto que a dona não iria nunca abrir as pernas.) 2) Vox populi (Quanto tempo andas também ruim das pernas? Nunca estiveste? Remember 33 d.C. e aquela multidão gritando "Barrabás, Barrabás, Barrabás"...) 3) Voz de prisão (T'esconjuro!)

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