Que coisa! É pirâmide, mas tem piloto, co-piloto, tripulante e passageiro - como um avião de carreira. Isto, aliás, demonstra um certo hibridismo como o que se vê na Esfinge. Aquele ser fantástico, meio-leão e meio-homem, que os egípcios esculpiram na rocha, em Gizé. Ali, ali, perto das Grandes Pirâmides, que serviram de cenário para uma frase célebre de Napoleão. Ao proferi-la estaria o general eufórico com alguma posição de piloto recém-conquistada? Bem, só feito militar não devia ser.
À la fé que Napoleão estava a ganhar algum, embora os livros de História digam coisas diferentes. "A História é algo que não aconteceu, escrito por quem não estava lá." Que me perdoe o pessoal do ramo. Mas, voltando à pirâmide: nos dias atuais, ela não mais transmite a impressão de ser um poliedro estável; anda ruindo fácil, fácil por aí... a julgar pela quantidade de piramideiros soterrados. Por isso, já tem gente pensando em ressuscitar o "ai da base", uma gíria arcaica.
Embora pareça um consórcio financeiro, a pirâmide da fortuna é o sucedâneo da antiga corrente da felicidade. Uma carta de conteúdo supersticioso ou místico que alguém recebia de um remetente "mui amigo" e tinha de transcrevê-la em vinte cópias. Estas, por sua vez, deviam ser enviadas para mais vinte pessoas, assim por diante. E isso, meu caro leitor, no tempo em que não havia a fotocopiadora da esquina. Para aumentar as dificuldades, tampouco os selos eram pagos por Fernando Chinaglia.
Ai de quem quebrasse uma dessas correntes! Dando veracidade ao seu conteúdo, desgraças tantas sucederiam ao irresponsável que ele, para se ver livre delas, buscaria até pistolão. Topando inclusive a hipótese descer mais cedo às geenas. Ilustro a descrição da paranóia reinante com o que escreveu R. Schneider: "Se você é um desses loucos (que quebram a corrente), o melhor é jogar logo toda a correspondência fora, sem nem mesmo ler. Afinal são muito reduzidas as suas chances de se servir dela, seja para o que for". Quer dizer, antes ser um desinformado postal do que um apragatado, combalido e tal.
Por isso, de próprio punho, cada pessoa fazia vinte cópias da carta - uma vintena a ser remetida para vinte apavorados destinatários. E esse número ainda podia ser maior, conforme o grau de sadismo do idealizador da primeira carta. Como se tratava de uma progressão geométrica, dentro de pouco tempo, toda a cidade acabava "acorrentada". E, o que não relaxava na corrente, ainda segundo R. Schneider, era contemplado pela "indescritível sensação de ter enchido o saco de milhares e milhares de pessoas, que iriam ficar completamente desequilibradas até que conseguissem passar à frente, por sua vez, o maldito petardo".
Outra vez, às pirâmides! O leitor já deve ter lido alhures, ou ouvido falar, sobre uma estranha energia que elas concentram. A ponto de uma pirâmide poder recarregar as baterias de quem sob ela se coloque. Sei não, mas pelas últimas que foram vistas, as pirâmides apenas têm abalado a saúde - financeira - de muita gente. E, quanto à febre que aparece no piramideiro, veja também o que diz o vademecum ( o vai comigo): desaparece em lise, não precisando do antitérmico piramido.
E agora a lei, com seu faro de dobermann, está aí à cata dos piramideiros. Pirâmide também é crime de estelionato, previsto no artigo 171 do Código Penal. Dá multa mais prisão. E a lei, com seu braço de estivador, procura um piloto contraventor; porém, na dificuldade de localizá-lo, um passageiro contraventor igualmente serve. Atenção, senhor passageiro, habilite-se. Pois aí está uma proposta... piramidal.
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