Fortaleza, 3 de novembro de 1992
Prezado Jô Soares:
Na qualidade de espectador diário(1) de seu programa na televisão, sinto-me motivado a apresentar algumas sugestões que, caso venham a ser seguidas, vão certamente tirá-lo da mesmice em que, nos últimos tempos, se encontra (o programa, bem entendido).
Ei-las:
- Receber o convidado ao pé da escadaria. Não tenha medo de que ele, prevendo uma entrevista movimentada, dê um passo errado e escorregue em sua direção. Você tem massa suficiente para apará-lo em qualquer queda.
- Servir ao entrevistado vinho do Porto. Ou, então, um cafezinho preparado numa requintada cafeteira(2), a qual deve ser posta para funcionar no início da entrevista. E não ficar só você(3) a sorver de uma caneca um líquido cuja natureza, até hoje, o grande público desconhece.
- Dispensar o Bira, o Derico, o Rubinho e o Miltinho. Mas conservar, do quinteto "Onze e Meia", o seu pianista para que ele toque nos intervalos das entrevistas. Depois que você, com a voz bem lânguida, o tenha anunciado: O-s-m-a-r.
- Soltar-se um pouco mais, ignorar o tênue limite que separa o charme da veadagem.
- Dispor de uma câmera exclusiva para as confidências e, ao usá-la, postar-se com obliquidade.
- Trocar o Jô Suíno (4) por um outro tipo de mascote. Pode ser uma perereca de plástica.
- Ter a mão um livro de auto-ajuda para, no final do programa, proceder a leitura de algum pensamento edificante.
Cordialmente,
Paulo Gurgel
(1) com viés para espectador eventual, nem sei se o Jô leu a carta
(2) com jeito de retorta
(3) que egoísta!
(4) já chafurdou demais!
(5) o OUTRO refere-se ao programa do Clodovil
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