segunda-feira, 30 de agosto de 2021

TRISCADEICAFOBIA

I
Triscadeicafobia (de triskaidekaphobia).
É o medo irracional ao número 13. O termo foi usado pela primeira vez por Isador Coriat em "Abnormal Psychology".
Há um programa de 12 passos para o tratamento dos portadores desta fobia.
O último deles diz:
Se até aqui você não curou, então desista.
Mito
A mais antiga referência ao 13 como um número de má sorte estaria no Código de Hamurabi, de 1780 a.C., onde o artigo 13 foi omitido. Na verdade, o código original de Hamurabi não tem numeração. A tradução de LW King, de 1910, editada por Richard Hooker, é que omitiu o artigo. No entanto, outras traduções do Código incluiram o artigo 13. Como, por exemplo, a tradução de Robert Francis Harper.
II
De acordo com a empresa Otis, 85 por cento dos painéis que eles criam para seus elevadores omitem o andar 13. Por vezes, em favor de 12A; outras vezes, substituindo-o por M, a 13ª letra do alfabeto. Em alguns edifícios, o 13º andar é relegado para funções mecânicas ou de armazenamento, ou é dado a ele uma designação especial (como "Pool Nivel" ou "Restaurant Floor").
Nomes de facínoras com 13 letras
ALBERT DE SALVO (o Estrangulador de Boston)
THEODORE BUNDY (serial killer)
JEFFREY DAHMER (serial killer)
JACK THE RIPPER (Jack, o Estripador)
CHARLES MANSON (na foto ao lado, assassino da atriz Sharon Tate, esposa do cineasta Roman Polanski, e atualmente cumprindo pena de prisão perpétua na Califórnia)
III
Schoenberg sofria de triscadeicafobia, que é um medo paralisante do número 13. O irônico, ou incrível, é que ele nasceu em 13 de setembro de 1874 e, como o destino quis, morreu em 13 de julho de 1951 (uma sexta-feira 13) aos 76 anos (7 + 6 = 13). Para ele, uma combinação perigosa.
Poderíamos considerar irrelevantes esses fatores extramusicais da vida desse importante compositor vienense que chegou à cena musical, praticamente, como autodidata. Entretanto, a superstição também influenciou algumas de suas decisões na vida profissional. Vamos a um bom exemplo. No final da década de 1920, de forma intencional, grafou o título de sua ópera inacabada como "Moses und Aron", quando o correto seria "Moses und Aaron", adivinhem o motivo!
E será que esse fascínio pela numerologia influenciou Schoenberg na maior de suas invenções, o sistema dodecafônico de composição?

sexta-feira, 30 de julho de 2021

MICROLITERATURA (2)

A chamada microliteratura vem ganhando espaço (apesar de usá-lo tão pouco) nesses tempos tecnológicos, muitas vezes por estar associada às ideias do minimalismo.
Nela estão o microconto, o micropoema, o haikai e outras produções literárias assemelhadas.
No caso do microconto, costuma-se limitá-lo a um teto de 150 caracteres. A concisão, no entanto, não é a única característica do microconto. Este, mais do que mostrar, deve sugerir. Cabendo ao leitor a tarefa de preencher - com a imaginação - as "elipses narrativas" do microconto.
Estabelecer um limite de 150 caracteres permite, por exemplo, o microconto ser enviado como "torpedo" por um telefone celular, o que em si já evidencia a sua ligação com as novas tecnologias de informação e comunicação.
Uma variante do microconto é o nanoconto, do qual se exige um máximo de 50 letras. São exemplos do nanoconto:
"Quando acordou o dinossauro ainda estava lá."
"Garota, 9, desaparece ao usar creme que rejuvenesce 10 anos."
O professor de literatura comparada da Universidade Hebraica de Jerusalém, David Fishelov, é um estudioso das "histórias que têm apenas seis palavras". Em seu ensaio sobre o assunto, "The Poetics of Six-Words Stories", cujo título tem inclusive seis palavras (desde que você conte a hifenizada "Six-Words" como sendo apenas uma palavra).
Então, quem foi o criador dessa tão radical categoria de narrativa?
Alguns afirmam que foi Ernest Hemingway. Com seu famoso conto: "For sale: baby shoes, never worn" (À venda: sapatos de bebê, nunca usados).
Quanto ao micropoema, reúno alguma experiência no ramo com meus "Micropoemas do Infortúnio".
Voai, beija-flor
Helicoptérica ave, voai
- - - para trás, principalmente.
Pois não importa aonde ides
- - - e sim:::
- - - - - - - - - ¿onde estiverdes?
E, para finalizar o tema, não poderia omitir o papel da microcrítica, a qual funciona no modelo dicotomizado do "gostei" vs. "não gostei". Sendo oportuno, a meu ver, que se substitua o caráter textual da microcrítica pelos sinais de polegares.

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quarta-feira, 30 de junho de 2021

O JULGAMENTO DE FRINEIA

Ficou famoso o caso de Frineia, cuja formosura despertou paixões e ciúmes. Acusada de explorar o próprio corpo por um pretendente desprezado, a cortesã foi levada a um júri de cidadãos ilibados de Atenas.
Mesmo com sua preparação e esforço, o talentoso Hiperides, um dos dez oradores áticos (eram uma espécie de advogados da Antiguidade clássica), não estava conseguindo convencer o júri.
No momento da sentença, os jurados botaram o polegar para baixo. Era a condenação fatal.
Olavo Bilac tem um poema dedicado a esse julgamento dramático. Segundo o poeta, ela despiu os véus que a cobriam e surgiu toda nua, "no triunfo imortal da Carne e da Beleza".
São estes os versos finais do poema:
Pasmam subitamente os juizes deslumbrados,
- Leões pelo calmo olhar de um domador curvados:
Nua e branca, de pé, patente à luz do dia
Todo o corpo ideal, Frineia aparecia
Diante da multidão atônita e surpresa,
No triunfo imortal da Carne e da Beleza.
Diante daquela monumental escultura, "um a um os polegares dos juízes foram subindo, subindo, sendo provável que também subissem outras partes dos respeitáveis membros do júri".
(Os créditos de tais detalhes pertencem Carlos Heitor Cony.)
A verdade é que a história do julgamento de Frineia foi recriada com base em poucas passagens de escritos da época e relatos de autores que não estiverem presentes. Sabe-se que o julgamento ocorreu e que o discurso de Hipérides em sua defesa foi um dos mais admirados da Antiguidade, mas dele restam apenas alguns fragmentos.
Nada disso impediu que o dramático julgamento inspirasse várias obras de arte, desde pinturas como a que ilustra esta postagem, de Jean-Léon Gérôme (1861), e várias outras, até esculturas de artistas como o americano Albert Weine.
Além de Olavo Bilac, poetas como Charles Baudelaire, Francisco de Quevedo e Rainer Maria Rilke escreveram pensando em Frineia, o francês Camille Saint-Saëns criou uma ópera que leva seu nome, e o italiano Mario Bonnard dirigiu um filme sobre a cortesã.
No Brasil, Adelino Moreira compôs "Escultura", que alcançou grande sucesso na voz de Nelson Gonçalves. Neste samba-canção, ao criar em sua imaginação uma mulher que atingisse a perfeição, Adelino não foi buscar em Frineia o atributo da beleza e sim o da malícia.
Original: Blog EM, 12/04/2021

domingo, 30 de maio de 2021

NEM QUE A VACA TUSSA

O que significa a expressão "nem que a vaca tussa"?
Significa: de jeito nenhum, não, nunca, jamais, impossível, de forma alguma. Confere a ideia de que algo não acontecerá nem que o Sr. Sobrenatural de Almeida desça no terreiro para mudar o rumo dos acontecimentos.
É uma das muitas expressões de improbabilidade da língua portuguesa. Neste rol também estão:
No dia de São Nunca.
Quando a galinha criar dentes.
Nem que chova canivete.
Pagando para ver.
No tempo que Adão era cadete.
Um dia sim, oito não.
Nas calendas gregas (Ad kalendas graecas).
Em zero de onzembro.
Nem a pau, Nicolau!
Em sua frase original e completa, a expressão já foi "nem que a vaca tussa e o boi espirre". Sem querer enveredar pela discussão de se os bovinos, de fato, podem tossir ou espirrar, podemos traduzir "nem que a vaca tussa" para o inglês. Palavra por palavra, fica "not even if the cow coughs". Os gringos vão entender?
Bem, somos responsáveis pelo que falamos mas não pelo que eles entendem.
Três vacas leiteiras bolam um plano para salvar a fazenda e suas vidas depois que um novo dono chega para vendê-las para o abate. Título do filme?
"Nem Que a Vaca Tussa", e nós entendemos a Disney.
Nós também entendemos quando Leonam Quirino eruditizou a expressão para "nem sequer considerar a possibilidade de que a fêmea bovina expire com fortes contrações laringo-bucais".
Por fim, é importante salientar que existem inúmeras expressões na língua portuguesa do Brasil contendo nomes de animais. A expressão em questão devido á presença da palavra "vaca" talvez cause um estranhamento ou uma repulsa em falantes estrangeiros. Ora, que vão eles para o brejo!
A força desta expressão, de provável origem rural, está no elemento NEM. Recomendo a leitura da monografia de Vítor Marconi de Souza sobre A multifuncionalidade do elemento nem aplicada ao ensino do PL2E (Português como Segunda Língua para Estrangeiros).
Neovérbio. Não se faz uma vaquinha entre mãos de vaca. PGCS
Original: EntreMentes (22/01/2021)
Bom para o DBF, o Dicionário Brasileiro de Frases

sexta-feira, 30 de abril de 2021

PONTO DE EXCLAMAÇÃO E OUTROS PONTOS

1
No grego antigo (grego, de qualquer época, para mim é grego!) não existia o sinal de exclamação.
Reza a lenda que, cansado de ler textos sem este recurso gráfico, Aristófanes de Bizâncio (250 -180 a.C.), criou os primeiros sinais de pontuação.
Sua origem, porém, ainda é incerta. Uma das hipóteses é que tenha surgido da palavra latina "lo" (não confunda com "lol"), uma interjeição que significa "viva!" muito usada em aclamações. Na qual, para formar o ponto de exclamação, a letra "l" se sobrepôs" à letra "o" (confira neste vídeo do Nexo Jornal).
O ponto de exclamação foi chamado de "ponto de admiração" até o século XVII. Curiosamente, a Bíblia impressa no português incluiu o ponto de exclamação, pela primeira vez, em meados do século dezoito, em 1748.
É também o símbolo do fatorial na Matemática.
(respondendo a uma pergunta no Quora)
2
Leia abaixo a última estrofe do poema "O Navio Negreiro":
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais!... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

Observe quanto o autor, o poeta abolicionista Castro Alves, utilizou-se dos pontos de exclamação para expressar a infâmia do tráfico de escravos.
3
Mesmo com o advento do ponto de exclamaçao, as línguas europeias continuam carentes de sinais de pontuação que expressem algumas emoções ou deem novos sentidos às frases. Luís Fernando Veríssimo, por exemplo, sempre se queixou da falta do "ponto de ironia". E o "kkkkk", como sugeriu Nelson Motta, não pode ser considerado um recurso similar.
Na verdade, o tal "ponto de ironia" já foi inventado por Alcanter de Brahm, no século XIX:
Alcanter de Brahm, pseudônimo de Marcel Bernhardt, foi um poeta francês.

terça-feira, 30 de março de 2021

RESTAURADORES DA ESPANHA

Cecilia Giménez, uma anônima professora de trabalhos manuais, em Navarra, e dois anônimos restauradores de móveis. São responsáveis pela restauração das seguintes obras:
1 - "Ecce Homo", do santuário de Nossa Senhora da Misericórdia, em Borja, Espanha.
http://blogdopg.blogspot.com/2012/08/a-pior-restauracao-do-mundo.html
2 - "São Jorge", do século 16, da igreja São Miguel, em Estella, Espanha.
http://blogdopg.blogspot.com/2018/06/a-malsucedida-restauracao-de-uma.html
3 - "Imaculada Conceição do Escorial", do acervo de um colecionador espanhol.
Segundo o jornal espanhol "El Diario", um colecionador de obras da Espanha contratou um restaurador de móveis para recuperar a famosa pintura "Imaculada Conceição do Escorial", do artista barroco Bartolomé Esteban Murillo. O resultado, entretanto, não saiu conforme o esperado.
http://twitter.com/i/events/1275460652107042816


No que se refere a restauradores, há quem diga que a Espanha é o maior celeiro do mundo.

domingo, 7 de março de 2021

SAMBA DO FUNESTO

O chanceler negacionista Ernesto Araújo, que já foi apontado como o pior diplomata do mundo, tentou se aproximar de uma autoridade israelense sem o equipamento de proteção. Ao se levantar para posar para uma foto, Araújo recebeu um recado de uma voz não identificada: "nós precisamos que coloque a máscara".
(em vídeo)
SAMBA DO FUNESTO *
Funesto nos convidou
Pro samba
- Ele mora no BRA...
Nós fumos e não encontremos ninguém
Nós vortemos com a baita de uma "reiva"
Da outra vez nós não vai mais.
Outro dia encontremos Funesto
Que pediu disculpa
Mas nós não aceitemos
Isto não se faz, Funesto
Nós não azara
Mas você devia ter ponhado
Uma másc'ra na cara
- Nós não semos tal tu.
* Uma paródia do "Samba do Arnesto", de Adoniran Barbosa. PGCS

domingo, 28 de fevereiro de 2021

MEMENTO MORI

Você já ouviu a expressão latina "memento mori"?
Quando um general romano voltava para casa, depois de uma campanha vitoriosa no exterior, era tradição a cidade sediar uma gloriosa cerimônia pública em sua homenagem. Mas, enquanto seu triunfo era celebrado de maneira entusiasmada pelo povo, um homem ficava atrás do general, em sua luxuosa carruagem, sussurrando a seguinte mensagem em sua orelha: "Respice post te. Hominem te esse memento. Memento mori". Em português seria algo como: "Olhe em redor. Não se esqueça de que você é apenas um homem. Lembre-se de que um dia você vai morrer".
Quando o compositor polaco André Tchaikowsky morreu em 1982, ele deixou o seu crânio para a Royal Shakespeare Company na esperança de que ele poderia aparecer como Yorick em uma produção de "Hamlet".
Ninguém se sentia à vontade para cumprir esse desejo até que David Tennant (foto) usou o crânio numa apresentação em Stratford-upon-Avon em 2008. Ele continuou a usá-lo durante muito tempo, inclusive em uma adaptação de "Hamlet" para a televisão.
"O crânio de André era um profundo memento mori, o que talvez nenhum outro crânio conseguisse representar", disse o diretor Gregory Doran. "Espero que outras produções possam, com o maior respeito por André, a continuar usando o seu crânio como ele pretendia que fosse utilizado, precisamente para esse efeito."
Você já se sentiu imortal, com a força de mil sóis - eternos e invencíveis? Sim, eu também. Mas adivinhem? Existe uma forma de arte destinada a lembrá-lo constantemente de sua inevitável e permanente morte. É memento mori! Que, em latim, significa "lembre-se da morte" ou, se você quiser levar para o lado pessoal: "lembre-se de que você deve morrer". Se você olhar para as pinturas europeias de memento mori desde os tempos medievais até o século 19, poderá notar coisas como: - Caveiras - Frutas e flores em decomposição - O Ceifador - Um baralho de cartas - Ampulhetas - Mais frutas e flores em decomposição. Esses eram elementos que os pintores incluiriam em uma natureza morta, um retrato ou uma cena bíblica para garantir que você não escapasse do fato de ser temporário - que um dia sua ampulheta ficará sem areia e ...

sábado, 30 de janeiro de 2021

A TODO VAPOR

"Quero fazer um pecado, rasgado, suado, a todo vapor..."
Chico Buarque e Ruy Guerra, na canção "Não Existe Pecado ao Sul do Equador"
Em 1891, este protótipo de vibrador foi submetido à consideração do Escritório de Patentes dos Estados Unidos. Era movido a vapor, tinha o nome de "Heavy Duty, Industrial-Model, Steam-Powered Dildo" e a patente foi indeferida pelo órgão responsável.
- The Impious Digest
Fig. 1
Concerto a vapor
Esta visão fantástico-satírica da música mecânica é o produto de um caricaturista francês do século 19, Jean Ignace Isidoro Gerard, conhecido como JJ Grandville (1803-1847). Ele apresenta, em seu livro "Un autre monde" (Um outro mundo), de 1844, uma coleção de desenhos e histórias que exploram as visões proto-surrealistas do autor durante a Monarquia de Julho na França (de 1830 a 1838).
O enredo de Grandville começa quando um dos três protagonistas do livro, o empresário Dr. Puff, descobre uma dúzia de "músicos de ferro fundido" arrumados em seu inventário de esquisitices mecânicas. Em seguida, Puff concebe um sensacional "concerto a vapor", alegando que "o único meio de satisfazer as demandas musicais do público é inventar cantores do tipo para operar uma orquestra a vapor.
Graças a esta invenção admirável, já não é preciso se preocupar com cantores que pegam um resfriado, uma bronquite ou perdem a voz. Já que a voz dos tenores, baixos, barítonos, sopranos e contraltos está a salvo de todos os acidentes; os instrumentos movidos a vapor produzem efeitos de precisão surpreendente. E os grandes compositores da era, finalmente, encontram intérpretes à altura de suas melodias. Nesse século do progresso, a máquina é mesmo um ser humano aperfeiçoado.
- A Steam Concert, Museum of Imaginary Musical Instruments
Fig. 2
Robô a vapor
Em 1868, o Newark Advertiser publicou uma matéria sobre uma "Invenção Mecânica Notável - Um Homem a Vapor".
- O primeiro robô movido a vapor
Fig. 3
O invento inspirou o primeiro romance de ficção científica dos EUA, "The Steam Man of the Prairies" (O Homem-Vapor das Pradarias), de Edward Sylvester Ellis. No romance (em domínio público mundial, disponível na Wikisource), o homem a vapor foi construído por Johnny Brainerd, um garoto adolescente, que usa o homem a vapor para carregá-lo em uma carruagem em várias aventuras.
Fig. 4 (abaixo)
Embora a invenção do motor de combustão interna no final do século XIX parecesse ter tornado obsoleta a máquina a vapor, ela ainda hoje é utilizadaː por exemplo, nos reatores nucleares.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

MÉDICOS CONTAM CAUSOS DA CASERNA

3
Ombro, arma!
Em 25 de outubro, quinta-feira, às 20 horas, no auditório do Edifício-Sede da Unimed-Fortaleza, aconteceu o lançamento de "OMBRO, ARMA! - Médicos contam causos da caserna", um livro organizado e apresentado pelo colega Marcelo Gurgel.
A obra, que reúne textos de 18 médicos escritores, tem o prefácio escrito pelo neurocirurgião Dr. Flávio Leitão – membro da Sobrames-CE, e três apêndices inseridos.
Autores
– Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg
– Célio Vidal Pessoa
– Francisco José Costa Eleutério
– Francisco Sérgio Rangel de Paula Pessoa
– Helano Neiva de Castro
– Jorge Augusto de Oliveira Prestes
– José Luciano Sidney Marques
– José Ramon Porto Pinheiro
– Liêvin Matos Rebouças
– Lineu Ferreira Jucá
– Luiz Gonzaga Moura Jr.
– Luiz Gonzaga Porto Pinheiro
– Marcelo Gurgel Carlos da Silva (org.)
– Paulo Alfredo Simonetti Gomes
– Paulo Gurgel Carlos da Silva
– Paulo Roberto de Souza Coelho
– Raimundo José Arruda Bastos
– Walter Gomes de Miranda Filho
Ficha técnica
Capa: Isaac Furtado | Projeto e editoração: Alexssandro Lima | Revisão: Francisco Dermeval Pedrosa Martins e Marcelo Gurgel | Tiragem: 500 exemplares | Gráfica: Expressão Gráfica e Editora | Ano: 2018 | ISBN: 978-85-420-1300-9 É o terceiro livro de uma tetralogia de causos da caserna escritos por esculápios. Os títulos anteriores são "MEIA-VOLTA, VOLVER!", de 2014, e "ORDINÁRIO, MARCHE!", de 2015.
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Fora de forma!
Em 14/12/2020, às 19h30, numa sessão virtual pelo Google Meets, aconteceu o lançamento de "FORA DE FORMA! - "Médicos contam causos da caverna", um livro organizado e apresentado por Marcelo Gurgel.
A obra, que reúne textos de 17 médicos escritores, tem o prefácio escrito pelo Dr. Sebastião Diógenes – membro da Academia Cearense de Medicina, da Sobrames-CE e da Academia Quixadaense de Letras, e inclui as biografias de três médicos militares (Oswaldo Riedel, Eleazar de Aguiar Campos e Wilson da Silva Boia) e as reminiscências de um dos coautores (pertinentes ao tempo em que ele viveu nos confins da Amazônia).
Autores (pôr imagem do livro)
– Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg
– Áttila Nogueira Queiroz
– Dennis Tomio Fujiite
– Djacir Gurgel de Figueirêdo
– Francisco José Costa Eleutério
– José Luciano Sidney Marques
– José Maria Chaves
– José Mauro Mendes Gifoni
– José Ramon Porto Pinheiro
– Lineu Ferreira Jucá
– Luiz Gonzaga Moura Jr.
– Marcelo Gurgel Carlos da Silva (org.)
– Paulo Gurgel Carlos da Silva
– Paulo Henrique de Moura Reis
– Paulo de Tarso Campos Ferreira
– Raimundo José Arruda Bastos
– Walter Gomes de Miranda Filho
Ficha técnica
Capa: Isaac Furtado | Projeto e editoração: Francisco Myard | Revisão: Marcelo Gurgel e Angelita Aníbal de Castro | Tiragem: 500 exemplares | Gráfica: Expressão Gráfica e Editora | Ano: 2020 | ISBN: 978-65-5556-107-4 É o quarto livro de uma tetralogia de causos da caserna escritos por esculápios. Os títulos anteriores são "MEIA-VOLTA, VOLVER!", de 2014, "ORDINÁRIO, MARCHE!", de 2015, e "OMBRO, ARMA!", de 2018.
LINK para 1 e 2

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

O COMEDOR DE OSTRAS

"Quem primeiro comeu uma ostra era uma alma corajosa."

A coragem do primeiro comedor de ostras é reconhecida há pelo menos quatrocentos anos. As primeiras evidências publicadas foram escritas por Thomas Moffett, um influente médico inglês que morreu em 1604. Mas várias figuras fizeram observações semelhantes ao longo dos anos. John Ward, em 1661, ao incluir um comentário sobre as ostras em seu diário (creditando-o ao rei James I, que havia morrido em 1625); John Gay, em 1716, ao versejar "... que, na costa rochosa, / primeiro quebrou o casaco perolado da ostra"; e Jonathan Swift, em 1738, quando criou este diálogo para dois personagens:
Lady Smart: "Senhoras e senhores, vocês comerão ostras antes do jantar?"
Coronel Atwit: "Com todo o meu coração." [Toma uma ostra.]
Ele era um homem ousado, o primeiro a comer uma ostra.
Além dos supracitados autores, todos eles ingleses, o polígrafo americano Benjamin Franklin. Ele incluiu no "Poor Richard's Almanack", em 1753, uma versão ligeiramente alterada dos versos de John Gay. Em conclusão, todos eles, de Moffet a Ben, ajudaram a popularizar essa sabedoria proverbial.
http://blogdopg.blogspot.com/2020/10/o-comedor-de-ostras.html

O pintor e gravador belga James Ensor produziu paisagens, naturezas-mortas e retratos, além de cenas do gênero com sua irmã, mãe e tia. "La mangeuse d'huîtres" (O comedor de ostras), o ponto alto de seu trabalho na época, reúne esses diferentes gêneros pictóricos magnificamente. A imagem mostra sua irmã Mitche concentrada em comer ostras, com uma profusão de flores, pratos e toalhas de mesa diante dela, Mas esse quadro certamente era ousado demais para o ambiente altamente conservador da época e foi rejeitado no Salão de 1882, em Antuérpia.

As ostras não são os únicos moluscos que podem produzir pérolas: mexilhões e amêijoas também produzem pérolas, mas esta é uma ocorrência muito mais rara.
A esta relação dos moluscos formadores de pérolas devemos acrescentar também o sururu. A partir da experiência por que passou o genealogista e historiador Ormuz Simonetti ao se deliciar com um caldo de sururu.
Bem, deixemos que ele mesmo descreva como encontrou essa pérola:
"Estávamos em animada conversa quando foi servido o caldinho de sururu ao leite de coco. Logo na primeira porção que me foi servida, mastiguei algo estranho. A princípio pensei tratar-se de uma pedra e temi pela possibilidade de ter quebrado algum dente. Mas, ao colocar a mão na boca e retirar aquele corpo estranho, surgiu diante dos meus olhos algo bem diferente do que esperava ver. Fiquei observando na ponta de meu dedo indicador uma bela e minúscula pérola. A princípio não acreditei no que meus olhos viam, ao tempo que meu cérebro insistia no que me recusava a acreditar. Até aquela data nunca tinha ouvido falar que alguém tivesse encontrado uma pérola dentro de um marisco, mesmo porque não era de meu conhecimento que fosse possível encontrar pérolas dentro desses moluscos. Sempre ouvia falar que elas são encontradas dentro de ostras."
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2011/05/perola-de-sururu.html

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

EM CARTAZ - V

CÉREBROS DE PEIXE
Filme baseado no libreto da ópera homônima da premiação Ig Nobel de 2000 (http://www.improbable.com/2019/11/27/the-ig-nobel-operas). Um homem e uma mulher querem ser o casal mais inteligente do mundo. Mas eles discordam sobre como fazer isso. Ele insiste que eles não devem comer nada além de peixe. Ela insiste em cérebros - e nada mais. Infelizmente, o cérebro que ela come veio de vacas loucas e ela contrai a Doença da Vaca Louca. O peixe que ele come estava contaminado com mercúrio e ele sofre da Doença do Chapeleiro Maluco. O casal, que é louco um pelo outro, então cria a próxima grande moda alimentar do mundo: cérebros de peixe!
O DIABO NA ENCRUZILHADA
Adaptação para o cinema de um romance homônimo, escrito em 666, que conta a história do lendário instrumentista RR Suárez.  O filme (Espanha, remasterizado) detalha os mistérios que envolvem o enigmático músico de Toledo que, no início da carreira, desapareceu misteriosamente e quando voltou mostrou habilidades impressionantes em tocar o alaúde, superando os melhores de sua época. Como Suárez ficou bom assim tão rápido neste instrumento da família dos cordotones? Diz a lenda que ele foi para uma encruzilhada, onde se ajoelhou e ofereceu a alma ao Diabo. Reforça essa versão ter o sumiço dele acontecido ano ano da Besta.
STRIPTEASER
Coprodução inuíte-algonquina de 2020. A história de um homem que, quando passeava em um lago congelado no Canadá, foi surpreendido por um grande urso branco. Tentando não mostrar sinais de desespero, ele joga seu casaco em direção ao urso, o que detém o animal por algum tempo. Mas a curiosidade não matou o urso. Ao contrário, a fera assim que se desinteressou pelo casaco passou a se aproximar dele. O homem então atirou a camisa para a fera. Depois de cheirá-la, o urso tornou a vir para cima dele. O homem jogou a camiseta e a calça moleton, e chegou a vez dos acessórios: gorro, cachecol, meias, botas e óculos. Ele fazia aquilo tudo com graça e desenvoltura (um flashback mostra que o mesmo é stripteaser de um clube de mulheres em Ottawa) até ficar apenas de cueca, naquele frio congelante. Nisso, o urso mete a enorme pata em sua underweaver... Considerou-se um homem morto. O que não aconteceu, pois o urso, aliás, a ursa se retirou. Deixando uma cédula de 100 dólares em sua cueca.

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

MARINHEIROS DE ÁGUA DOCE

O mundo tem hoje 43 países sem acesso ao mar. Segundo dados da CIA, apenas oito deles possuem marinhas militares. É o caso do pequeno Malauí, no centro do continente africano, que tem uma Marinha com 225 homens dentro do Lago Niassa, com os canhões apontados somente para Tanzânia e Moçambique. Uganda, também na África, conta com uma força naval de 400 homens que virou motivo de anedotas internacionais. Na década de 70, o ditador Idi Amin começou a aparelhá-la para exibir seu poderio militar frente aos americanos. A única dificuldade era o fato de a Marinha estar cercada no interior do Lago Vitória. A Mongólia, na Ásia, mantém uma força naval dentro do Lago Hovsgol, na fronteira com a Sibéria, que permanece congelado seis meses por ano, impedindo a navegação. Segundo um documentário feito pelo americano Robert Stern, ela tem somente um navio e sete marinheiros, sendo que apenas um deles sabe nadar. Na lista das marinhas sem saída para o oceano também estão a do Cazaquistão, a do Azerbaijão e a do Turcomenistão, na Ásia, e a do Paraguai, cujo arsenal tem 3.600 oficiais, vinte embarcações, dois aviões e dois helicópteros.
De todas essas, a Marinha boliviana com cerca de 5 mil membros salta aos olhos por ser a maior força naval ribeirinha do planeta. Nasceu na década de 60, quando o então presidente Víctor Paz Estenssoro, entusiasmado com o projeto de recuperar o litoral perdido para o Chile na guerra de 1879, povoou com navios militares o Lago Titicaca e os rios que fazem fronteira com o Brasil e o Paraguai. A perda da costa marítima é um assunto de forte sentimento na Bolívia, onde foi também instituído o "Dia do Mar". Escolares são ensinados que recuperar o acesso ao oceano é um dever patriótico e, dentro desse espírito, a existência de uma Marinha boliviana "serve para não deixar a idéia morrer".
http://blogdopg.blogspot.com/2012/12/marinheiros-de-agua-doce.html
Frota do Titicaca
Em 1861, o governo peruano empreendeu uma tarefa inusitada: construir dois navios de guerra no Lago Titicaca - o lago navegável mais alto do mundo. O lago fazia parte da fronteira Peru-Bolívia e o Peru queria estar preparado para futuras hostilidades.
O Peru contratou dois construtores navais britânicos para esse fim. Não havia à época estradas que pudessem levar os navios ao lago. Assim, os construtores trouxeram em mulas os componentes dos navios, por uma região desértica de 225 quilômetros até às margens do Titicaca, onde os navios foram finalmente montados.
Nenhuma peça poderia pesar mais de 175 quilos - o peso máximo que uma mula conseguiria carregar.
Os construtores dos navios completaram o Yavarí em 1870 e o Yapura em 1872. O Yavarí é agora um navio-museu. Mas o Yapura, que está na foto acima, ainda está em serviço. Por um longo período de tempo, seu motor foi alimentado por caca de lhama, embora eu não tenha conseguido determinar se ainda o é.
http://blogdopg.blogspot.com/2020/07/frota-do-titicaca.html

domingo, 30 de agosto de 2020

EU, 72

A idade é um número, não uma sentença de morte.
\o/ \o/ \o/
Toda a vida é vivida à sombra de sua própria finitude, da qual estamos sempre conscientes - uma consciência que sistematicamente embotamos através da distração diária da vida. Mas quando essa finitude é iminente, de repente alguém se depara com uma consciência tão aguda que não deixa outra opção a não ser preencher a sombra com a luz que um ser humano pode gerar - o tipo de iluminação interna que chamamos de significado: o sentido da vida.
\o/ \o/ \o/
Deixando a filosofice para lá. Sou eu um investimento que vale a pena?
Se meu pai fosse vivo (ele era advogado e contador) poderia fazer com correção os cálculos. Na ausência dele, utilizo-me da regra dos 72.
Essa regra é usada na área de finanças para fazer uma estimativa de quanto tempo — medido em anos — determinado valor de capital demora para ser duplicado, considerando determinada taxa de juros anual.
Não interessa o valor do capital (a regra é só para fornecer o tempo em que o valor dobra).
Seu cálculo é feito da seguinte forma:
72/taxa de juros da aplicação = anos para o patrimônio duplicar.
Supondo-se que eu seja um investimento com a rentabilidade da caderneta de poupança (4,34% em 2019). Logo, para que meu valor dobre, será necessário um período de:
72/4,34 = 16,6 anos ou 16 anos e 7 meses.
O problema é que eu não tenho um fundo garantidor como  a caderneta.
\o/ \o/ \o/
No Preblog: ANIVERSÁRIO
Saiba por que presentear com dinheiro é o modo de não se equivocar jamais.
Original: Blog EM, 06/06/2020

quinta-feira, 30 de julho de 2020

O JOGADOR DE XADREZ TURCO

O jogador de xadrez turco de Maelzel era uma máquina que realmente existia. Construída em 1769, por Wolfgang von Kempelen, foi exibida nos séculos XVIII e XIX em feiras e teatros em Paris, Viena, Londres e Nova Iorque.
Em 1783, em seu hotel em Paris, Benjamin Franklin recebeu uma carta de Wolfgang von Kempelen,  convidando-o a ver e jogar contra o autômato que jogava xadrez turco, além de caso quisesse inspecionar a máquina.
Franklin aceitou o desafio e, alguns dias depois, jogou xadrez turco contra a máquina no Café de la Regence e perdeu. Embora Franklin fosse um amante do xadrez, ele não mencionou esse evento em nenhuma de suas correspondências, talvez, alguns explicam, porque ele era conhecido como sendo um mau perdedor.  [Tom Standage, The Turk, 2002 Walker Publishing]
Quando Von Kempelen morreu, seu filho vendeu a máquina para Nepomuk Maelzel, um violinista de Viena que também inventou dispositivos musicais como o metrônomo.
Edgar Allan Poe testemunhou uma demonstração do funcionamento da máquina e escreveu o ensaio "Maelzel's Chess Player"  para demonstrar que era uma fraude.[Poe, EA. Cuentos completos (tradução por J. Cortázar), Alianza Editorial, Madri, 2002]
Os aficionados por Poe notaram que o artigo tem um tom, uma voz notavelmente semelhante ao discurso de Dupin em "Os assassinatos na rua Morgue". Na verdade, existem muito mais interseções entre o artigo e o conto. Vários elementos em comum levam a acreditar que houve uma transposição de um para o outro:
Nos dois casos, temos uma sala trancada. Na história, a polícia não sabe explicar como o assassino poderia ter entrado ou saído do local, já que todas as portas e janelas estavam trancadas por dentro. No artigo, o objetivo de Poe é determinar se, dentro da máquina, um ser humano estavria escondido ou se ela continha, como Maelzel gostaria de que sua audiência acreditasse, apenas mecanismos.
Poe descreve em detalhes o ato de Maezel no palco: antes de fazer a máquina jogar xadrez, ele andava pelo palco rolando o autômato à sua frente, enquanto abria e fechava compartimentos e gavetas na máquina para mostrar que ela continha apenas elementos mecânicos. Ele propõe que Maelzel abria e fechava esses compartimentos e gavetas em uma ordem precisa, que permitia que uma pessoa no interior da máquina deslizasse um painel interno e se movesse no momento certo, e assim permanecer oculta. E conclui que, apesar da mecânica da máquina sempre à vista, sempre havia um espaço trancado em seu interior.
Este painel deslizante interno constitui parte da solução de Poe para a farsa no artigo. Ele é transposto para o conto, onde se torna uma janela deslizante que também constitui parte da solução para o mistério da sala trancada de Dupin. Descobre-se que o orangotango entra no apartamento por uma janela e, por acaso, um prego na moldura da janela trava a janela ao sair. O animal, em outras palavras, como a suposta pessoa dentro da máquina, se move graças a um mecanismo deslizante e, portanto, permanece oculto aos vizinhos que chegam ao local no momento em que o assassinato estava ocorrendo. [http://epistemocritique.org/why-an-ourang-outang/]
De fato, como foi mostrado mais adiante, não era a máquina que jogava xadrez, já que havia uma pessoa dentro dela - o jogador de xadrez francês Jacques Mouret - que era quem realmente a controlava.

terça-feira, 30 de junho de 2020

MATÉRIA RIMA

(quase poesia)
o hidrogênio e o ardor do gênio
o lítio e a vida no sítio
o berílio e o início do idílio
o boro e a serpente Ouroboros
o carbono e a evolução do mono
o sódio e o próximo episódio
o magnésio e a Carta aos Efésios
o alumínio e a reserva de domínio
o silício e o caráter vitalício
o fósforo e o Estreito de Bósforo
o argônio e a sedução do demônio
o potássio e que fim levou o Cássio?
o cobalto, de salto alto
o zircônio atraído pelo ferormônio
o ferro se conhece pelo berro
o zinco e o leite do ornitorrinco
a prata e a rádio pirata
o mercúrio por entre murmúrios
o chumbo e a batida do bumbo
o ouro e a Ilha do Tesouro
o polônio com uma fissura no perônio
o tório, rato de escritório
o actínio em novo escrutínio
o urânio e que fim levou o Afrânio?
Vídeo
Um grupo de químicos acrescentou novos trechos à canção "The Elements", de Tom Lehrer.

sábado, 30 de maio de 2020

O PODER DE DEUS

Há cerca de seis mil anos o poder de Deus era incomensurável. Criou todo o Universo em apenas seis dias para, daí em diante, dar-se ao desfrute do que Cícero chamaria de otium cum dignitate.
Algumas gerações bíblicas após, teve que deixar a dolce vita para reassumir o comando da Terra. Insatisfeito com os rumos que a humanidade vinha tomando, submergiu-a com as demais espécies no terrível Dilúvio Universal. Ficaram fora da punição Noé, a família deste e um casal de cada espécie. Naquilo que, aliás, foi uma demonstração de força e tanto, já que não havia (nem degelando os polos) água suficiente para cobrir as mais altas montanhas do planeta.
Depois disso, os descontentamentos divinos ficaram reduzidos ao envio de pragas. Como fez aos egípcios que relutavam em dar a baixa nas carteiras de trabalho do povo judeu.
No início da Era Cristã, os milagres ficaram ao cargo do Filho que veio à Terra. Sendo o mais espetacular deles o episódio em que o Filho andou sobre as águas para impressionar o apóstolo Pedro. Outro momento inesquecível foi o dom de línguas em que o Espírito Santo fez uma ponta.
No século 17, Deus iluminou a mente dos cientistas. Mas foram estes que, de fato, deram os primeiros passos para a cura da sífilis.
De uns tempos para cá, Ele anda meio disperso. Com tanta gente ávida por milagres e com os pastores que apascentam seus rebanhos com o discurso da teologia da prosperidade, também pudera!
Agora, para que ninguém diga que se esconde do mundo, de tempos em tempos, Deus faz aparecer sua imagem em torradas, parede e até em fiofó de cachorro. Mas como sarça ardente... bom, deixa pra lá.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

REMATE DE MALES

1
Para Coelho Filho e colaboradores, não se sabe com precisão como surgiu o nome "Remate de Males". Em "A economia gomífera da cidade de Remate de Males na configuração do território amazônico", eles conjeturam algo a respeito: "remate" significa o último retoque na conclusão de uma obra- prima, o seu retoque final; "males" podem ser atribuídos às lendas que povoavam as mentes dos moradores dos seringais. Matinta, curupira, mapinguari, entre outros, os seres que habitavam as matas e que representavam uma ameaça a quem lhes cruzasse o caminho, e desse modo receavam todos dar de encontro com um deles por aí.
O principal deles seria a "cobra grande" que habitava justamente a foz do Rio Itacoaí (Itaquaí), em frente à cidade Remate de Males, onde todos temiam atravessar de uma margem para outra. Há relatos de um senhor que, ao estar atravessando o rio em direção ao lago Domingo, bem em frente à cidade, uma onda levantou-se atrás dele, que logo acelerou suas remadas até chegar ao canal de entrada do lago onde a onda se desfez. Assim, concluíram estes autores, que o nome Remate de Males teria este nome pelos "males" que ali existiriam.
2
Anísio Jobim, em "Panoramas Amazônicos”, informa que a cidade se originou de uma cabana à margem do Itacoaí, onde habitava o filho de um oficial superior brasileiro, e que a denominação de Remate de Males foi dada em 1890, pelo maranhense Alfredo Raimundo de Oliveira Bastos, que encontrou neste local um relativo bem-estar, resolvendo fixar-se ali como um remate a seus males. Colocou, então, na fachada de seu barracão, o letreiro "Remate de Males", cuja designação se estendeu a todo o lugar.
Com a queda do Ciclo da Borracha, Remate de Males, que chegou ser a terceira cidade do Amazonas, teve o crescimento estagnado. Muitos de seus moradores migraram para o então seringal Cametá, onde ajudaram a formar um povoado que hoje é o município de Atalaia do Norte, e outros foram para onde é hoje o município de Benjamin Constant. Restando-lhe poucos moradores, Remate sofre mais um declínio, este agora de causa natural: a queda dos restos de um cometa que atingiu a Terra em meados de 1930, produzindo um terremoto de 6,5º na escala Richter, registrado em La Paz, em que uma de suas partes, um imenso bloco de gelo, abriu uma cratera de 1,5 km, no rio Curuçá. Com o desbarrancamento do rio, a força da água foi maior que a estrutura de terra que sediava a cidade e, em pouco tempo, a cidade desapareceu debaixo das águas do Rio Itacoaí.
Resultado: nessa catástrofe, que ficou conhecida como o evento do Curuçá (nome de um afluente do Javari), o barranco de Remate cedeu, e a cidade foi engolida pelo rio Itacoaí, em 12 horas. Sua população fundou a nova Atalaia do Norte e distribuiu-se também por Benjamim Constant.
3
Em 1927, ao desembarcar em Atalaia do Norte, à época chamada de Remate de Males, Mário de Andrade anotou em sua caderneta que fazia um calor de "rematar", a malária atacava os moradores e não tinha "coisa nenhuma" no comércio para comprar. Essas observações foram mais tarde publicadas no livro "Turista Aprendiz".
Ele era o poeta do bom humor e da simplicidade. "Remate de Males", publicado em 1930, seria o título de um livro de poesias que mostraria o esforço do escritor em compreender um país contraditório e plural, como ele mesmo, poeta, etnógrafo, folclorista, pesquisador de música, romancista. "Eu sou trezentos, sou trezentos e cinquenta", escreveu o poeta na abertura dessa obra inspirada na pequena vila à margem do Javari. A figura do regatão, os mitos indígenas, os pilantras, o sujeito sem caráter e o homem brasileiro numa interminável febre de "maleita" entrariam definitivamente em seus livros, com suas características boas e ruins.
Webgrafia
http://periodicos.uea.edu.br/index.php/revistageotransfronteirica/article/view/778/673
http://infograficos.estadao.com.br/especiais/favela-amazonia/capitulo-10.php
http://www.facebook.com/pardieiros
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2019/10/a-perola-do-javari.html
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=37935 (textos literários em meio eletronico / Remate de Males)

segunda-feira, 30 de março de 2020

PRATOS POR ASSIM DIZER IMPRATICÁVEIS

Recebo em meu correio eletrônico mais uma das postagens de "TudoPorEmail". Desta vez, o site  reporta-se a algumas maneiras impraticáveis de servir comida.
Entre elas, destacamos: bacon em varal para secar, sorvete em vasos de flores, macarrão em cone de papel (com o pedido de nunca mostrar esta inovação para um italiano), café da manhã inglês numa pá, anéis de cebola no funil, ostras sobre o tijolo etc.
Last but not least, frutos do mar servidos num pequeno aquário com um peixe ornamental vivo.
Lembro-me de ter existido em Fortaleza um restaurante que tinha como atração culinária principal o "peixe na telha". Os peixes (podia ser também uma lagosta ou outro fruto do mar) assim como os demais ingredientes da peixada eram cozidos na própria telha em que vinham para a mesa.
Ficava esse restaurante no Morro de Santa Terezinha, de onde se tem uma visão panorâmica de nossa cidade. Era o "Tudo em Cima".
(TudoPorEmail não informa o nome dos seus restaurantes.)
Mas ninguém ousou tanto quanto o falecido Hugo Leão de Castro, um inveterado boêmio da Ipanema dos anos 1960. Em seu apartamento na rua Jangadeiros, Hugo deu na telha de promover uma feijoada para 50 pessoas. E, por falta de panelas e de juizo, serviu a feijoada num bidê que acabara de comprar. Virou o Hugo Bidet.
[http://www.tudoporemail.com.br/content.aspx?emailid=14518]
[http://preblog-pg.blogspot.com/2013/02/tudo-em-baixo.html]
[http://simaopessoa.blogspot.com/2010/10/causos-de-bambas-hugo-bidet.html]
[http://blogdopg.blogspot.com/2020/01/pratos-impraticaveis-de-servir.html]

sábado, 29 de fevereiro de 2020

GÍRIAS DO PASQUIM

para o jornalista JB Serra e Gurgel
autor de DICIONÁRIO DE GÍRIA
Famoso por seus textos debochados, irônicos e irreverentes, o Pasquim inventou modismos como "pô", "paca", "sifu", "duca", "putsgrila", "quiuspa", "podiscrer" e "cacilda". Levou as gírias ipanemenses para as páginas do tabloide e tirou o "paletó e a gravata do jornalismo", deixando os textos mais próximos da linguagem coloquial.
[http://blogdopg.blogspot.com/2017/11/falou-e-disse.html]
Anta, pessoa lerda, pesada. Neste período,por exemplo: Eu sou uma anta.Tenho DOIS pares de tênis. Dizem os "pasquinófilos" que a frase era uma alusão aos basbaques da época. Quando possuir UM par de tênis era coisa de rico, e eles estufavam o peito para proclamar:– EU tenho DOIS pares de tênis!
[http://blogdopg.blogspot.com/2019/01/a-anta-de-tenis-e-o-cidadao-de-bem.html]
Barato, momento, coisa ou pessoa capaz de inspirar prazer ou simpatia.
Bicha, pederasta.
Bicho, amigo, cara, um interlocutor do sexo masculino.
Bicho grilo, pessoa de aparência extravagante.
Bilouca, contração de "bicha louca".
Cacilda, variante de "caceta". Indica espanto.
Coisa de veado, moda ou comportamento de homossexual.
[http://blogdopg.blogspot.com/2009/05/coisa-de-veado.html]
Duca, contração de "do caralho", muito bom.
Falou e disse, concordo.
Hebdô, abreviatura de hebdomadário, uma publicação semanal.
Jáco, já comi.
Mocotó. Nesta frase: Eu quero mocotó!
[http://blogdopg.blogspot.com/2019/04/eu-quero-mocoto.html]
O Pasca, O Pasquim. Nem mesmo o jornal escapou de sua terminologia.
O virundum. Inspirado no primeiro verso (O VIRUNDUM Ipiranga) do Hino Nacional, cuja letra é hors-concours em matéria de "virunduns" (do que terra MARGARIDA, verás que um FILISTEU não foge à luta etc). Dizem que foi criado pelo jornalista Paulo Francis.
[http://blogdopg.blogspot.com/2008/09/o-virundum.html]
Paca, contração de "pra caralho", muito, demais.
Patota, turma.
Pô, abreviação de "porra".
Podiscrer, pode acreditar, usado para introduzir qualquer afirmação.
Putzgrila (ou putsgrila) é uma abreviação de "puta que pariu, isso grila". Muito usado pela juventude, nas décadas de 1960 e 70, para expressar susto ou admiração quando um assunto complexo era comentado numa roda.
[http://blogdopg.blogspot.com/2018/01/do-prefacio-ao-posfacio.html]
Qiuspa, abreviação de "puta que os pariu".
Sarro, gozação, "casquinha". Nesta expressão: Tirar um sarro.
Sifu, contração de "se fodeu", se deu mal. Havia as variações "mifu", "tifu" e "nosfu".
Vôco, vou comer.
Em suma, um órgão disseminador do humor e do estilo de vida cariocas, essencialmente provindos da elite intelectual do bairro de Ipanema, O Pasquim modificou a linguagem jornalística. Nele escrevia-se como se falava.
Artigos recomendados:
A breve história e a caracterização d'O Pasquim, por Bruno Brasil
O pingente que deu certo, por Sergio Augusto
Original: EM, 27/12/2019

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

O PODER DE LIMPEZA DA SALIVA HUMANA

Uma pintura com laca sofreu 30% de danos devido à falta de conhecimento dos profissionais da área da limpeza
A pintura, "Vuon Xuan Trung Nam Bac" (Jardim da Primavera do Centro, Sul e Norte), é uma proeminente obra de arte exibida no Museu de Belas Artes da Cidade de Ho Chi Minh. No ano passado, ao limpar esta pintura, os faxineiros do Museu danificaram-na seriamente com detergente líquido, pó de polimento e lixa.
Original: EM, 22/11/2019
Com cuspe teria sido melhor?
No artigo "Saliva humana como agente de limpeza para superfícies sujas", Paula MS Romão, Adília M. Alarcão e César AN Viana, descrevem o valor do cuspe como agente de limpeza.
O uso da saliva humana para limpar superfícies sujas tem sido uma prática intuitiva por muitas gerações. Os autores estabeleceram as bases científicas para essa prática por meio de testes qualitativos e técnicas cromatográficas. A α-amylase foi o constituinte principal responsável pelo poder de limpeza da saliva. As preparações amilásicas obtidas do pão ou de microrganismos foram também testadas como substitutos da saliva.
In: Studies in Conservation, vol. 35, 1990, pp. 153-155.
Encômios
Parabéns aos três pesquisadores lusitanos por este prêmio que merecidamente receberam. Suas conclusão foram validadas aqui no Blog EM desde que eu fiz uma limpeza na tela do meu notebook. Os restauradores usam há muito tempo a própria saliva no lugar de outros solventes quando trabalham com materiais delicados como folha de ouro e cerâmica. [PGCS]
Original: EM, 18/09/2018

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

A PALAVRA DE CAMBRONNE

Merda é uma palavra latina ainda hoje utilizada por falantes de várias línguas em sua forma original.
No século I d.C., o poeta Marcial já dizia:
Sed nemo potuit tangere: merda fuit. Tradução - Mas ninguém podia tocá-la: era [uma] merda.
No epigrama acima, completo, o que parecia ser uma torta era na verdade… uma merda. Estava quentinha e não podia ser tocada, o guloso a assopra e, quando vai meter-lhe os dedos, vê que é uma porcaria.
Os franceses, com sua proverbial elegância, se referem à "merde" (merda) como «le mot de cinq lettres» (a palavra de 5 letras), e também a chamam de "le mot de Cambronne", isto é, "a palavra de Cambronne".
O general francês estava sendo derrotado pelos britânicos... Mas Cambronne teria respondido: “A Guarda (Imperial) não se rende jamais!”
Os britânicos teriam insistido e ele teria respondido de forma lacônica: "Merde!"
⤊ Pierre Cambrone escreve seu livro sobre a história da Inglaterra. Sátira antibritânica de Willete (1899)
Este evento foi retratado várias vezes na literatura francesa e até integrou canções de rap. Também apareceu como uma referência irônica nos Smurfs.
"Merde!"
No teatro, "merda" foi (talvez ainda seja) utilizado entre os atores de uma peça para desejar boa sorte ao entrar em cena.
Este costume veio da França pelo fato de o público ter acesso à casa teatral por meio de carruagens a cavalos que, muitas vezes, amontoavam fezes na entrada.
Haver muita merda na entrada do teatro era sinal do sucesso das apresentações
Relacionadas
https://blogdopg.blogspot.com/2011/01/merde.html
https://blogdopg.blogspot.com/2008/10/pour-pater-les-bourgeois.html
https://blogdopg.blogspot.com/2018/07/batidas-na-madeira.html
Original: EM, 15/11/2019

sábado, 30 de novembro de 2019

BUFÕES

O pequenote Percheo
Em Heidelberg, cidade que integra a rota romântica da Alemanha, um ponto turístico imperdível é o Castelo de Heidelberg. É uma das mais famosas ruínas do país e símbolo da cidade.
Chega-se a este castelo por uma estrada ou, de uma maneira mais interessante, tomando-se o funicular.
Uma das atrações do Castelo de Heidelberg é o Fassbau (Edifício do Barril).
Foi mandado construir entre 1589 e 1592, especificamente para acolher o famoso Grande Barril. Estava diretamente ligado ao Salão do Rei, de forma a permitir, durante as celebrações, o acesso direto ao vinho contido no barril.
Percheo e eu
No Fassbau, o visitante se depara com a estátua de Perkeo (no alto da foto), o bufão da corte, símbolo do consumo de vinho, ali colocado por Carlos Filipe III para guardá-lo. Carlos Filipe trouxera Perkeo de Innsbruck, onde tinha anteriormente o seu trono como regente. imperial do Tirol, para a corte de Heidelberg. O rei tinha aprendido a tirar prazer do pequeno tamanho do bufão e de suas piadas espirituosas.
Conta-se que Carlos Filipe III lhe teria perguntado se conseguia beber o conteúdo de um barril sozinho. A resposta parece ter sido "Perché no?" (o que significa "porque não?", em italiano), o que daria origem à sua alcunha: "Perkeo".
E o rei: "Vem comigo para Heidelberg. Nomeio-te cavaleiro e camareiro do barril do rei. Na adega do meu castelo está o maior barril de todo o mundo. Se o beberes, a cidade e o castelo serão teus".
O vinho devia ser a única bebida que Perkeo conhecia desde a sua infância. Quando, em sua velhice, adoeceu pela primeira vez, o seu médico aconselhou-o a beber vinho com urgência e recomendou-lhe que bebesse água em abundância. Apesar do ceticismo, Perkeo seguiu o conselho do médico e morreu na manhã seguinte.
Perkeo era uma criatura digna de pena e tinha – como Victor Hugo mencionou – que consumir diariamente quinze garrafas de vinho, caso contrário era açoitado.
Original: EM, 15/03/2017
Triboulet
Os deveres de um bobo da corte medieval eram divertir o rei, sua corte e quaisquer visitantes que o rei quisesse divertir. Ele também era utilizado para animar o monarca (quando o monarca estava deprê), para atuar como confidente e, às vezes, como mensageiro. O termo "bobo da corte" só foi cunhado algum tempo mais tarde (antes disso, eles eram chamados de bufões). Mas o bufão tinha que ser esperto o suficiente para saber que era tênue a linha de separação entre provocar risos e ofender os que tinham poder sobre ele. Essa foi uma linha que o famoso bobo da corte Triboulet (na gravura) cruzou algumas vezes quando serviu Luís XII e Francisco I, reis da França.
Diz a lenda que, entre Francisco I e o Triboulet, aconteceu uma ríspida conversa, na qual ele disse ao rei que um dos membros da corte havia ameaçado matá-lo. O rei supostamente respondeu a isso: "Se ele o fizer, eu o enforcarei um quarto de hora depois". Ao que Triboulet supostamente brincou: "Ah, senhor, não é melhor então que fosse um quarto de hora antes?"
Certa vez, Triboulet não conseguiu se conter e deu um tapa no traseiro do monarca. O rei perdeu a paciência e ameaçou punir Triboulet. Um pouco mais tarde, o monarca se acalmou e prometeu perdoar Triboulet se o bobo pudesse pensar em um pedido de desculpas ainda mais ofensivo do que o desrespeito praticado. Alguns segundos depois, Triboulet respondeu: "Sinto muito, majestade, por não ter reconhecido você! Confundi-o com a rainha!"
Em outro exemplo famoso, ele enfureceu o rei por tirar sarro da rainha, após o que sua execução foi ordenada. No entanto, diz a lenda que, devido a seus anos de bom serviço, ele foi autorizado a escolher o modo de sua morte. Depois de refletir sobre isso, Triboulet disse ao rei: “Bom pai, pelo bem de Saint Nitouche e Saint Pansard, patronos da loucura, eu escolho morrer de velhice". Isso divertiu tanto o rei que ele optou por banir Triboulet em vez de executá-lo.
O mais famoso dos bobos das cortes medievais, Triboulet passou para história com o título de "bobo do rei e rei dos bobos".
Original: EM, 30/10/2019

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

PONTOS DE VISTA

PREFÁCIO
Ao compulsar os originais de "Pontos de Vista", que Marcelo me fez chegar às mãos a fim de apensar o prefácio, meu pensamento voou ao distante ano de 1980. Quando um grupo de médicos (em data não exatamente lembrada) reuniu-se no auditório do Centro Médico Cearense (CMC) - a hoje Associação Médica Cearense -, para discutir a ideia da publicação de uma obra literária. O CMC encontrava-se na gestão do Dr. José Aguiar Ramos (1980-1981), que sucedeu ao profícuo período do Dr. Paulo Marcelo Martins Rodrigues (1978-1979), em que foi criado o jornal "CMC Informa" e reformulada a revista "Ceará Médico".
O médico Dr. Emanuel de Carvalho Melo, que vinha exercendo o cargo de diretor cultural da instituição, foi convidado por Aguiar Ramos para implantar a editora do CMC. Com o surgimento desta ferramenta cultural, um grupo de esculápios acorreu à entidade com a intenção de publicar uma coletânea. Dez médicos, com suas produções literárias e a escolha consensual do título "Verdeversos" para uma antologia exclusivamente dedicada à poesia. O professor Adriano Espíndola, que teve o tempo de uma vida para escrever sua "Poesia Presente", honrou-nos com a apreciação dos textos. Então, demos a entrada do calhamaço na Imprensa Oficial do Ceará (IOCE).
Imaginem o que é acompanhar a edição de um livro naqueles tempos em que o setor gráfico não dispunha dos recursos da informática. Numa semana, Emanuel comparecia na IOCE, com os bicos de pena que havia desenhado para as ilustrações. Na outra, era a minha vez. Para conferir se os erros tipográficos anteriormente detectados tinham sido corrigidos. Ou se, à maneira de "memes", haviam se multiplicado. Somos gratos ao funcionário e hoje cineasta Rosemberg Cariry, que condignamente nos recebia nas visitas ao parque gráfico da IOCE.
Lançado o "Verdeversos", em uma noite de autógrafos, muitos autógrafos, na sede do Centro Médico Cearense, seguiriam-se em anos posteriores outros livros: "Isto não se aprende na escola" (1982), com temas médicos, "Encontram-se" (1983), de prosa e poesia, "Psiquiatria Básica" (1984), de Gerardo Frota Pinto, "Temos um pouco" (1984), de prosa e poesia, e "Nomes e expressões vulgares da medicina no Ceará (1985), de Eurípedes Chaves Jr.
O CMC, após o lançamento de "Verdeversos", foi também o palco das articulações para a criação da Sobrames Ceará. Tendo como seu idealizador o Dr. Francisco Dionísio Aguiar, e corporificada ao longo de 1982, ela contou com o apoio de uma comissão de médicos escritores coordenada pelo Dr. Francisco Nóbrega Teixeira, que contribuiu com a elaboração dos estatutos. Autodeclarando-se não escritor, mas empenhando-se a fundo na criação da Sobrames Ceará, Dionísio "sonhou um sonho por nós", no dizer da saudosa Dra. Celina Côrte Pinheiro.
Em 4 de novembro, com a presença do presidente da Sociedade Brasileira dos Médicos Escritores (Sobrames Nacional), Dr. Odívio Borba Duarte, em uma sessão solene realizada no CMC, tomou posse a primeira diretoria da Seção do Ceará da Sobrames. Após a posse, seguiram-se algumas reuniões em que foram estabelecidas metas e tomadas decisões importantes para a consolidação da entidade. Uma delas, a merecer destaque, foi a decisão de que todos os autores de duas coletâneas, "Verdeversos" (publicada em 1981, anteriormente à criação da Sobrames-CE) e "Encontram-se" (1983), seriam considerados seus sócios fundadores.
O colega Emanuel, ao tempo em que foi responsável pela Editora do CMC, foi também o primeiro presidente da Sobrames Ceará (1982-1984). Tendo prosseguido, no período seguinte (1984-1987) em que eu estive como presidente da entidade, como membro de sua segunda diretoria. Por haver Emanuel coordenado, como editor do CMC, as primeiras edições das antologias dos médicos-escritores, sucedeu serem estas chanceladas pelo Centro Médico Cearense e pela Sobrames Ceará (a partir da criação desta última).
Sim, a medicina nos permite a esses voos do espírito em que, dedicados à literatura, criamos histórias, simulamos vidas, transfiguramos a realidade e até inventamos universos autônomos (a partir de verdades que não podem ser medidas pelos mesmos padrões das verdades factuais). Temos um entendimento com a palavra (aliança secreta, diria Cortázar) para não desvanecermos. E, nessa árdua luta para vencer a poeira do tempo, por isso, escrevemos. Existe um caminho de volta que nos leva da fantasia à realidade e esse caminho é a arte, como assinalou Freud.
Assim é que chegamos a 2019, ano em que é dado a lume "Pontos de vista". Um alentado livro de 350 páginas organizado e apresentado pelo Dr. Marcelo Gurgel, com a arte de capa do cirurgião e artista plástico Dr. Isaac Furtado, e contendo poemas, contos, crônicas, causos, ensaios, artigos, reminiscências, discursos e reflexões de seus 64 autores. Destes, 60 são médicos e 4 são sobramistas oriundos de outros ofícios. Suas minibiografias são apresentadas na sequência deste introdutório. Nesta 36.ª antologia da Sobrames Ceará, há autores antigos, novos e um, digamos, "neoantigo". Trata-se de Winston Graça, um dos dez esculápios que estiveram, nos idos de 1981, em colóquio com as musas da poesia nas páginas de "Verdeversos", onde tudo começou.
Que "Pontos de Vista" lhes propicie uma agradável leitura!
É como prefacio.
Webgrafia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Associação_Médica_Cearense
http://preblog-pg.blogspot.com/2007/11/verdeversos.html
http://preblog-pg.blogspot.com/2015/12/antologias-da-sobrames-ceara.html
http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2015/04/por-celina-corte-sobrames-regional.html

Dr. Paulo Gurgel Carlos da Silva
Ex-Presidente da Sobrames-CE
Fortaleza, 9 de outubro de 2019

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

PRIMEIRAS FOTOGRAFIAS: DA LUA, DO SOL, DE UMA ESTRELA E DE UM COMETA

Louis Jacques Daguerre foi o criador do primeiro processo fotográfico de que se tem notícia, o daguerreótipo. Em 2 de janeiro de 1839, ele apontou sua câmera para o céu e fez a primeira foto da Lua.
Mas ele tinha problemas financeiros e não obteve apoio para seu trabalho por não querer revelar a parte fundamental do processo que inventou. Um incêndio em seu laboratório, naquele mesmo ano, acabou por destruir grande parte de seu trabalho, assim como destruiu a primeira foto da Lua.
Um ano depois, em 1840, o estadunidense John Williams Draper fez uma nova foto do satélite natural da Terra, sendo esta a primeira imagem da Lua (fig. 1) ainda preservada.
Em 1845, os franceses Hippolyte Fizeau e Leon Foucault tomaram a primeira fotografia bem sucedida do sol. Usando a tecnologia do daguerreótipo, eles fizeram as primeiras fotografias do Sol. A imagem original, tirada com uma exposição de 1/60 de segundo, tinha cerca de 12 centímetros de diâmetro e capturou várias manchas solares, visíveis nessa reprodução (fig. 2).
Original: Blog EM, 02/01/2018
Na noite de 16 de julho de 1850, Vega se tornou a primeira estrela (além do Sol) a ser fotografada, quando teve sua imagem registrada por William Cranch Bond e John Adams Whipple no Observatório de Harvard (fig. 3).
A foto também foi tirada com daguerreótipo. Para obter esta imagem foi necessário efetuar uma exposição de 100 s. Com a tecnologia existente na época, as estrelas de 1.ª magnitude necessitavam de tempos de exposição superiores a 60 s e as estrelas de 2.ª magnitude por vezes não eram registadas com sucesso.
No relatório de WC Bond sobre este feito, pode ler-se:
"Com a ajuda do senhor Whipple, daguerreotypist, obtivemos várias impressões da estrela Vega (α Lyrae). Temos razões para acreditar que esta seja a primeira experiência bem sucedida deste tipo, tanto em nosso país como no exterior. Pela facilidade com que foi executada, com a ajuda de nosso grande equatorial (telescópio refrator com 38 cm de abertura), fomos encorajados a crer que será uma abertura para novos progressos. Deverá ser bem sucedida, quando aplicada a estrelas do menos brilho do que α Lyrae, a fim de dar-nos fotos corretas de várias estrelas, e suas vantagens serão incalculáveis."
Vega é a estrela mais brilhante da constelação de Lira e a quinta estrela mais brilhante do céu noturno. Emissário do espaço-tempo, a luz de Vega alcançou as lentes do telescópio a uma distância de 25 anos-luz para fornecer uma imagem da estrela como era um quarto de século antes.
Original: Blog EM, 16/07/2019
O cometa Donati foi visto pela primeira vez e recebeu o nome de seu descobridor, Giovanni Battista Donati, em Florença no início do ano de 1858. Foi o segundo cometa mais brilhante do século XIX. Em 27 de setembro, tornou-se o primeiro cometa a ser fotografado (Pat's Blog).
Leitura recomendada: História da Astrofotografia

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

GIGANTES E ANÕES

Newton escreveu a Hooke: "O que Descartes fez foi um bom passo." (...) "Se eu já vi mais, é porque estava em (pé sobre) ombros de gigantes".
A carta está na Sociedade Histórica da Pensilvânia:
Isso foi interpretado por alguns escritores como uma observação sarcástica direcionada à aparência de Hooke, que era portador de uma cifose grave. Naquele tempo, Hooke e Newton tinham um bom relacionamento e trocavam muitas cartas em tons de consideração mútua. Só mais tarde, quando o primeiro criticou algumas das idéias do segundo com relação à óptica, Newton ficou tão ofendido que se retirou do debate público. E os dois homens permaneceram inimigos até a morte de Hooke.
É quando me dou conta de que a grande ciência necessita de grandes inimigos. E me recordo das palavras de um Prêmio Nobel de Física, Murray Gell-Mann:
"Se vi mais longe do que os outros, é porque estava cercado de anões."
A metáfora de anões em pé sobre os ombros de gigantes (latino: nanos gigantum humeris insidentes) expressa o significado de "descobrir a verdade construindo sobre descobertas anteriores". Uma imagem presente na mitologia grega em que o gigante cego Orion carrega o servo Cedalion nos ombros para que este funcione como seus olhos.
No mais, aqui vão dois reparos:
A primeira frase em negrito, que se atribui frequentemente a Isaac Newton, por tê-la citado em sua carta para Thomas Hooke, é na verdade de Bernardo "Ombros de Gigantes" Camomensis, o Bernardo de Chartres, um filósofo do século 12. Embora a moeda britânica de duas libras, com a inscrição STANDING ON THE SHOULDERS OF GIANTS em sua borda, denote a intenção de homenagear Newton.
Já a terceira frase em negrito, ela não é minha e sim de Dave Pacheco, um blogueiro estadunidense do século 21, que disse:
"Se eu não tenho visto tanto quanto Isaac Newton é porque eu estava sobre os ombros de uma gigante que usava uma blusa decotada."
Original: EM, 20/07/2018

terça-feira, 30 de julho de 2019

ABUTRES

Descubram seus rostos
Que anjos são esses
Que me espantam os mosquitos do verão
Mas que não se importam
Quando me rondam os abutres?
Original: EM, 26/11/2007
Urubu malandro e os abutres em geral
Todos os anos, em 15 de março desde 1957, a cidade de Hinckley, Ohio, aguarda ansiosamente o retorno dos urubus ao "Buzzards' Roost" (Poleiro dos Abutres), na Reserva Hinckley.
A celebração do retorno anual dos abutres começa cedo (6h30) na reserva de Hinckley do Cleveland Metropark . Liderados pelo "Oficial Buzzard Spotter", o Dr. Bob Hinkle, os madrugadores levantam seus binóculos e câmeras para competir pelo primeiro avistamento. É tudo uma boa diversão e um sinal certo de que a primavera está a caminho.
Original: EM, 02/09/2017
O Piquenique dos Abutres
Para seu trabalho de 2009, "In Ictu Oculi" (Em um piscar de olhos), a artista Greta Alfaro pôs uma mesa do lado de fora, na vila espanhola de Fitero, e filmou um convescote entre 40 abutres.
"Não foi fácil fazê-los chegar à mesa" , disse ela ao Instituto Translocal de Arte Contemporânea. "Eu tive que esperar por uma semana, arrumando a mesa todas as manhãs e desarmando-a ao anoitecer. Os abutres têm uma visão extraordinária, e se um deles perceber que há comida, ele fará círculos no ar para que os outros saibam. Eles se aproximavam da cena todos os dias, mas minha presença ou a presença da mesa impediam que eles se aproximassem".
"Acho que foi importante para refletir sobre a impermanência de quase tudo e sobre o fato de que a vida não pode ser controlada", concluiu Greta.
Original: EM, 10/03/2019
Como os abutres encontram a comida
Em 1833, para mostrar que os abutres encontravam suas presas pela visão e não pelo cheiro, o naturalista John Bachman fez "uma pintura grosseira representando uma ovelha esfolada".
Isso provou ser muito divertido: assim que o quadro foi colocada no chão, os abutres o observaram, pousaram perto, passaram por ele e alguns deles começaram a bicar a pintura. Eles pareciam muito desapontados e, depois de terem atendidos à curiosidade, voaram para longe. Esta experiência foi repetida mais de cinquenta vezes, com o mesmo resultado.
Ele confirmou o resultado colocando a pintura a dois pés de uma pilha de miúdos camuflados em seu jardim. "Eles vieram como de costume, andaram em volta, mas em nenhum momento evidenciaram os mais leves indícios de terem detectado os miúdos que estavam tão perto deles."
Então, Bachman concluiu que, embora os abutres tenham um olfato, eles não o usam para encontrar comida.
Original: EM, 24/07/2019

domingo, 30 de junho de 2019

TARTARUGAS COSMOLÓGICAS

... até o fim
A seguinte anedota é contada a respeito de William James.
Depois de uma palestra sobre cosmologia e a estrutura do sistema solar, James foi abordado por uma velhinha.
"Sua teoria de que o Sol é o centro do sistema solar, e a Terra é uma bola que gira em torno dele, Sr. James, é interessante, porém está errada. Eu tenho uma teoria melhor", disse a velhinha.
"E qual é, madame?" perguntou James, educadamente.
"Nós vivemos em uma crosta de terra que está nas costas de uma tartaruga gigante."
"Se a sua teoria está correta, madame", retrucou ele, "onde a tal tartaruga está?"
"O senhor é um homem muito inteligente, Sr. James, e essa é uma pergunta muito boa", respondeu a velhinha, "mas eu tenho a resposta: a tartaruga está nas costas de uma segunda tartaruga, muito maior e que está exatamente sob a primeira".
"Mas... onde a segunda tartaruga está?" persistiu James, pacientemente.
A velhinha cantou, triunfante:
"Não adianta, Sr. James, há tartarugas até o fim."
– JR Ross, Constraints on Variables in Syntax, 1967
... em todo o caminho
Stephen Hawking incorporou o ditado "Turtles all the way down" (Tartarugas em todo o caminho)" em seu livro de 1988, "Uma Breve História do Tempo":
Um cientista conhecido (alguns dizem que foi Bertrand Russell ), uma vez deu uma conferência pública sobre astronomia. Ele descreveu como a Terra orbita em torno do Sol e como o Sol, por sua vez, orbita em torno do centro de uma vasta coleção de estrelas que é a nossa Galáxia. No final da palestra, uma velhinha nos fundos da sala levantou-se e disse: "O que você nos disse é lixo. O mundo é realmente uma placa plana apoiada nas costas de uma tartaruga gigante." O cientista deu um sorriso superior antes de responder: "Onde a tartaruga se apoia". "Você é muito inteligente, jovem, muito inteligente", disse a velha senhora. "Mas há tartarugas em todo o caminho!"
–  WIKI
Quer você a veja como profundamente metafísica, ou apenas zombando da física, você ainda pode sorrir ao ler sobre essa teoria (das tartarugas até o fim / em todo o caminho).
Original: EM, 23/03/19
Com relação à teoria da Terra sustentada por elefantes, com estes, por sua vez, vivendo sobre o casco de uma enorme tartaruga, como descreviam os antigos:
O que estaria a pensar este quelônio?
"Por que, sendo eu uma criatura do espaço, tenho patas para nadar? Por que há elefantes em minhas costas e mais esta rocha monstruosa? Preciso me acasalar, onde é que estão as outras tartarugas do espaço?"
Original: EM, 11/05/18

quinta-feira, 30 de maio de 2019

WANDA E VÂNDALO

Inspirado em "Jackass" (um programa de TV com brincadeiras perigosas e autolesivas), um grupo de amigos terminou uma festa com a ingestão de peixes vivos de um aquário. Depois que os peixes dourados desceram suavemente, um bagre Corydoras aeneus foi ingerido. Desconhecendo a morfologia e o comportamento antipredador dessa espécie, um homem saudável, mas alcoolizado, de 28 anos, teve uma surpresa. O bagre abriu e travou as espinhas de suas nadadeiras peitorais, alojando-se na hipofaringe do homem. Após várias horas, ele se apresentou no pronto-socorro com disfonia e disfagia. O peixe teve que ser removido por endoscopia. A intubação e a internação na unidade de terapia intensiva foram necessárias devido ao edema laríngeo. Duas semanas após a intervenção que salvou sua vida, o paciente já completamente recuperado doou o peixe para o Museu de História Natural de Roterdã. A publicidade gerada pela exibição pública do peixe não engolido enfatizou o aviso oficial do "Jackass": "não tente fazer nenhuma das cenas de ação que você está prestes a ver".
Entre as referências do artigo que publicou o caso do peixe que não desce redondo, destaca-se: Cleese J, Crichton C. Um peixe chamado Wanda. Beverly Hills (CA): Produção da Metro-Goldwyn-Mayer; 1988.

Original: Nova Acta, xx/xx/xxxx
Um peixe chamado Vândalo
O martelo é comandado pelo peixe para quebrar coisas.
Ver os detalhes de como isto funciona no Robotic Gizmos.
Original: EM, 07/11/2017

terça-feira, 30 de abril de 2019

HUMBERTO GOMES MAGALHÃES

Correspondência
Sou irmão do Humberto Gomes Magalhães, desenhista do jornal A Ferragista. O Sr tem algum acervo do Jornal?
Agradeço pela a atenção. Visitei o seu rico blog, muito bem feito e cheio de cultura. O Preblog é ótimo.
Atenciosamente,
Sérgio Luís Oliveira Magalhães
Olá, Prof. Sérgio Luís.
Lembro-me do Humberto, que desenhava para o jornal A Ferragista.
Dê-me notícias a respeito dele.
Edmilson Alves, proprietário desse house organ, certa vez presenteou a cada colaborador quatro volumes encadernados com as edições do jornal.
Acredito que possa localizá-los.
Em tempo:
ILUSTRADORES PARA CHAMAR DE MEUS (slideshow)
Os desenhos dos slides 12 e 13 (O asteroide da mão estendida, Preblog) teriam sido feitos por seu irmão?
Estou curioso para saber o motivo de seu interesse.
Paulo Gurgel
Muito obrigado pela atenção. Meu interesse é colecionar e guardar a obra do meu irmão, pois seus filho e esposa não a tem. Ele já está entre as estrelas desde de 1986. Faleceu de *** em Limoeiro do Norte-Ce. Somos todos do pequeno município de São João do Jaguaribe - Ce, distante da capital 225 km, aqui no Baixo Jaguaribe.
Sérgio Luís
Olá, Prof. Sérgio.
No edifício em que resido cada morador dispõe de um compartimento na garagem para guardar algumas coisas.
Era minha intenção apanhar os quatro volumes encadernados das edições de "A Ferragista" para doá-las a vocês, familiares de Humberto.
Mas.
Uma desagradável surpresa: estavam completamente destruídos por uma infestação de cupins!
Os biblioclastas! Não foi a primeira vez que eles fizeram isto comigo.
http://blogdopg.blogspot.com.br/2007/04/um-show-que-no-acabou.html#links
Um abraço.
Paulo Gurgel
PESQUISA NA INTERNET
A cultura como resistência nas páginas da revista "O Saco", por Rodrigo C. Vargas
O primeiro número da revista saiu em abril de 1976 com 32 páginas e a colaboração de nomes desconhecidos e outros consagrados nas diversas áreas artísticas que compreendiam "O Saco". No caderno Prosa, conto de Airton Monte titulado "Ave Noturna" com ilustração de Humberto, o diagramador do grupo. Conto de Carlos Emilio chamado "O Labirinto" com ilustração de Pedro Eymar. Conto do Jackson Sampaio chamado "Edifício Vesúvio" com mais uma ilustração de Humberto, que também ilustra o último conto, "Juízo Final", de Nilto Maciel.
A pouca experiência contou para o encerramento das atividades. Raposo era o único que sabia lidar com uma empresa, era proprietário de um grupo livreiro encorpado que funcionava em Fortaleza; mas os outros três eram jovens recém formados. Carlos Emilio ainda morava com os pais. Edmundo de Castro, Estrigas e Humberto Gomes Magalhães ajudaram, mas apenas no campo criativo.
O Vertebral
PerCurso "O Saco": criatividade e resistência
Revista literária formada por Carlos Emílio Correia Lima, Nilto Maciel, Jackson Sampaio e Humberto Magalhães, junto a Manoel Coelho Raposo, "O Saco Cultural" foi uma publicação cearense de curta duração porém de consideráveis impactos na Fortaleza e no Brasil dos anos 1970. Seus 15 meses de atividades foram suficientes para lograr uma distribuição nacional chegando tanto a importantes cidades do Brasil (com tiragem de 15.000 exemplares!) quanto à mesa dos censores e da Polícia Federal em pleno Regime Militar. Neste percurso fizemos um passeio sobre esse importante momento da Cultura no Ceará, conhecendo um pouco mais o ambiente da cidade, a produção literária e os seus intelectuais, "O Saco" e seu conteúdo.
O mediador foi o Carlos Emílio Correia Lima, escritor, poeta, editor, ensaísta, antidesigner, foi um dos fundadores da revista O Saco.
PerCursos Urbanos

sábado, 30 de março de 2019

CLECS E BAMBANGAS

Leite derramado
Aqui não se trata de uma referência a um romance do Chico Buarque. É o título de uma postagem do blog Frases Ilustradas, em que uma frase de Eno Teodoro Wanke é transcrita sob uma belíssima ilustração de Ceó Pontual (como todas as que ele desenha para o seu blog).
A frase citada é a seguinte:
"Mesmo depois do leite derramado é importante pensar que a vida continua e a vaca não morreu."
Eno Teodoro Wanke (Ponta Grossa, PR, 28 de junho de 1929 – Rio de Janeiro, RJ, 28 de maio de 2001), que foi um engenheiro da Petrobrás e poeta, teve uma forte presença no cenário literário brasileiro a partir de 1960. Escrevia principalmente minicontos, trovas e clecs, muitos clecs (como ele chamava os seus pensamentos humorísticos). A frase que foi citada por Ceó é um destes. Eis outros exemplos de seus clecs:
"Quando um adjetivo mente, ele, por castigo, vira advérbio. Folha que se desprende da árvore não volta nunca mais. Melhor perder o trem do que perder a linha. O sol nasce para todos, mas a maioria prefere dormir um pouco mais."
Ainda guardo todos os livros autografados que dele recebi pelos Correios. São onze livros de clecs e minicontos, dois de trovas ("A Trova Literária", um clássico sobre o assunto, e "Antologia da Trova Escabrosa") e ainda um livreto, intitulado "A Ortografia Que Nos Atormenta", no qual Eno Wanke faz uma defesa da ortografia fonética para a nossa língua.
Blog EM, 21/08/2009
Atualização
Pela curiosidade que apresenta, transcrevo o trecho de um artigo de Filemon F. Martins, Quem foi Eno Theodoro Wanke?, postado em "Usina de Letras":
"Como sonetista de primeira, (Eno Wanke) obteve com o soneto "Apelo", 160 versões para 95 idiomas e dialetos. É o soneto em português mais traduzido para idiomas estrangeiros.
Eu venho da lição dos tempos idos /e vejo a guerra no horizonte armada. /Será que os homens bons não fazem nada? /Será que não me prestarão ouvidos? /Eu vejo a Humanidade manejada /em prol dos interesses corrompidos. /É mister acabar com esta espada /suspensa sobre os lares oprimidos! /É preciso ganhar maturidade /no fomento da paz e da verdade, /na supressão do mal e da loucura... /Que a estrutura econômica da guerra /se faça em pó! E que reinem sobre a terra /os frutos do trabalho e da fartura!"
Bambangas
Naquela época, recebia também pelos Correios, com menor frequência, os livros do baiano de Ipojuca, médico e memorialista José Lemos de Sant'Ana. Ainda disponíveis em livrarias virtuais, alguns deles têm os curiosos títulos de "Bambangas", "Outros bambangas", "Mais bambangas" e "Ainda bambangas".