Ao menos isso. Pois nada é mais doce do que ouvir o nosso nome da boca de outrem. Essa frase, provavelmente dita por Mel Brooks, constitui uma grande verdade. Não adianta você ser amável, puxar um papo legal, se não sabe tratar o outro pelo nome. E fica meio esquisito pedir uma nova apresentação.
Dou exemplos das pistas que, por vezes, me socorrem: um remédio que obrou milagre (ah, é paciente), uma crônica que viu no jornal (ah, é leitor), uma plenária no sindicato (ah, é colega), um conselho para me cuidar (ah, é minha mãe). Exagero, leitor. Até o momento em que redijo estas linhas ainda não passei pelo último vexame.
Sou levado a apanhar mais da memória quando encontro alguém fora do contexto habitual. Mas acredito que isso não é só comigo. Reconheceria você se encontrasse: o seu açougueiro num restaurante vegetariano? o seu confessor num cabaré? o seu personal trainer num spa?
Sem ser masoquista, apanho ainda mais quando é do sexo oposto. Tantos são os recursos que a mulher usa para se embelezar. Penteados, maquiagem, lentes de contato coloridas, lipoescultura etc. Ah, só a voz é que continua a mesma (como dizia um anúncio na TV). E penso que sou mesmo um inepto para a arte da galanteria.
Parafraseando Terêncio, eu diria que tudo que é humano me é estranho. O nordestino tem um nome para isso: "ariado" (com origem em "alheiado"), que é como eu fico em muitas dessas situações. Longe de ser uma vantagem, constitui o fato um handicap. Eu nunca poderei ser um relações públicas, por exemplo. Político, nem pensar. A não ser biônico, vice ou suplente de senador.
Já notei que duas coisas conseguem me avivar a memória. Uma é receber uma advertência pela má memória. O que me faz caprichar na memorização fisionômica da pessoa para que o problema não mais se repita. A outra é ver a pessoa, ainda que a conheça apenas de vista, metida em alguma confusão...
Diabéisso? Serei eu um filho natural de Candinha?
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