É que, na qualidade de adulterador de dez dos provérbios publicados, quero lá a minha autoria reconhecida.
Foram inicialmente publicados em maio de de 1984, na coluna "Gente e Fatos", do jornalista Edmundo Vitoriano. Depois que José Raimundo Costa, jornalista e também adepto do passatempo de adulterar provérbios, começou a divertida série. Eu recordo que, na época, até criei o nome "paravérbio" para rotular o que estávamos a fazer. Ao inventar essas frases que não transmitiam uma experiência nem davam um conselho, que são os fins usuais dos provérbios. Aliás, chegavam a fazer o oposto, na qualidade de meros produtos do ludismo verbal.
Posteriormente, a José Costa e a mim, juntou-se Lauro Ruiz de Andrade nesse espirituoso ofício de adulterar provérbios. De sorte que somos os três, não obstante o pater semper incertus dos latinos, os autores da lista publicada no livro de Amorim Filho e Expedito Duarte.
Relaciono os meus "paravérbios" que saíram nessa lista:
Prov. - Vaso ruim não quebra.Parav. - Vaso ruim, mão quebra.Prov. - Cada um por si e Deus por todos.Parav. - Cada um por si e deu para todos.Prov. - Antes que cases, vê o que fazes.Parav. - Antes que cases, vê: que pazes!Prov. - Cesteiro que faz um cesto faz um cento.Parav. - Cesteiro que faz um sexto faz um... lento.Prov. - Deus dá o frio conforme o cobertor.Parav. - Deus dá frio: conforme-se com o cobertor.Prov. - A situação está mais pra urubu do que pra colibri.Parav. - A situação está mais pra urubu. Pra que coibir?Prov. - Não adianta chorar sobre o leite derramado.Parav. - Não adianta chorar sobre o leite, desmamado.Prov. - Ao vencedor as batatas.Parav - Ao vencedor as mamatas.Prov. - A fé remove montanhas.Parav. - Maomé remove montanhas.Prov. - Águas passadas não movem moinhos.Parav. - Águas passadas não redemoinham.
Não se trata de nenhuma novidade o passatempo de parodiar provérbios. Fazer jogo de palavras com as expressões e os ditos mais conhecidos, dando-lhes sentido novo, chegou a ser moda no século XIX. E, ao que parece, continua sendo, visto que os humoristas não pretendem abandonar o rico filão. Do qual já foram faiscadas, entre tantas, as seguintes pepitas: "o Brasil espera que todos comprem seu dever", "depois da tempestade vem a ambulância", "quem ama o feio é porque o bonito não aparece", "quem dá aos pobres ou empresta... adeus", "a ociosidade é mãe de todos os vices" e "quem vê cara não vê que horas são" (esta última encontrada pelo Barão de Itararé).
Acerca desse fenômeno humorístico, talvez haja explicações. Uma delas, apela simplesmente para o princípio de que "uma grande verdade é aquela cujo contrário é igualmente uma grande verdade". Outra, como diz Lopes Ribeiro, é porque "a nova forma de viver à pressa tenha trazido como consequência natural a morte dos provérbios, essas muletas do bom senso que condensam uma longa experiência, previnem perigos ou dão bons conselhos". E, como não surgem novos provérbios, é que os "paravérbios" vão tomando o lugar dos velhos anexins.
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