sexta-feira, 14 de maio de 2010

O SINGULARÍSSIMO DIA DO NAMORADO

Quando a presente mensagem chegar a este prestigioso jornal é bem possível que não seja publicada. É que já transcorreu o 12 de junho, a data em que se comemora o Dia dos Namorados.
No entanto, a mensagem não é totalmente extemporânea, uma vez que ela pode se adequar ao 12 de junho do ano vindouro. Agora, se contribuísse a mensagem para restaurar, de uma vez por todas, o legítimo significado da data, aí tanto melhor. É terrível como ora interpretam a data!
Vendendo o peixe:
Eu tenho - por fonte absolutamente confiável - que o comércio, ao instituir o dia em questão, apenas pensava em homenagear um peixe malacantídeo da costa brasileira, o Namorado. Outros dias seriam depois criados. O Dia do Badejo, o da Garoupa, o da Cavala (a Cavala, quem diria...) e, assim por diante, até só restar o dia 1º de novembro, o qual, por razão óbvia, seria dedicado a Todos os Peixes.
O Dia dos Namorados funcionaria, pois, como um balão de ensaio. Bem aceito pela sociedade, ensejaria a criação de outros dias. Até todo dia ser dia de peixe.
Mas o plano foi sustado. Ao se observar o seu desvirtuamento - com tendência ao descontrole - a partir do Dia dos Namorado. Enamorados (uma letra, às vezes, é tudo) a trocarem entre si presentes e lembrancinhas... como se deles fosse o dia. A toque de caixa registradora inclusive. Enamorados, por todas as partes, a se tornarem posseiros do dia. Quando o Dia, com "D" maíúsculo, não era mais um dia qualquer, devoluto.
Com isso, o Dia crepusculou, gentil senhorita. Visse-o como ele andava, e anda assim de intrujões, e estes com seus mimos fáceis. Chama-se agora Dia dos Namorados, e o festejo dele é outro. Bem diferente do que o comércio (cujo deus é Mercúrio, o paradigma da honestidade) para ele imaginou.
Aí, diante do acontecido, o comércio, que era quem iscava, jogou fora o samburá. E botou as barbatanas barbas de molho. Desobrigou-se. E, alegando a imprevisibilidade sociológica dos resultados, nunca mais se meteu em assunto de dia... a ver com o peixe.
Particularmente, eu penso de outro modo. Porque acredito no Dia dos Namorado, ainda. No dia restaurado em seu bom, puro e original significado que homenageia um peixe malancatídeo. E, por isso, estou aqui. Para incitá-la, gentil senhorita, a que, no ano que vem, em casa ou no restô, coma o Namorado a 12 de junho.
Assim ou assado, coma o Namorado no seu dia.

Opinião do Leitor, Jornal O Povo, 20/06/1985

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