sexta-feira, 7 de maio de 2010

O ROJÃO DE ROSENERY

O fato é de conhecimento de todos, uma vez que foi transmitido ao vivo por várias redes de televisão. Aconteceu no momento em que o Brasil, com o coração na mão, disputava com o Chile uma vaga para a Copa de 90. Anteriormente, na partida que tinha sido realizada em território chileno, dera empate - com os brasileiros se considerando prejudicados pela arbitragem. Mas, naquele instante, com o escore favorável (1 a 0), o Brasil silenciava o adversário falastrão. E, pelo domínio de jogo que estava apresentando, já se prenunciava um placar ainda mais ampliado. Era só esperar.
Quando o que não devia acontecer... acontece. Aos 28 minutos do segundo tempo, o goleiro chileno cai aparentemente atingido por um rojão. Vê-se o goleiro no chão, em meio a uma fumaça verde que, ao se dissipar, mostra o pior. Que há sangue na fronte do guarda-valas. Exatamente o que os chilenos estavam esperando para, diante da dificuldade em vencer os brasileiros, nos arrebatar extra-campo a vitória. Puseram o companheiro ferido na maca, trancaram-se no vestiário e, alegando violência no estádio, não mais retornaram ao gramado. Onde só tinham a perder, ao contrário do tapetão em que poderiam sair vitoriosos.
O estádio estupefacto: quem foi? quem não foi? E descobre-se que a causadora do quiproquó foi uma moça bonita de Niterói, de cujas mãos partira um foguete sinalizador. Pouco habituada a frequentar estádios, desfazendo-se em lágrimas pelo que acabara de acontecer, Rosenery, este o seu nome, alegou ter recebido de um estranho o foguete - com as instruções de como usá-lo. Então, no momento azarado azado, ela puxou a cordinha, disparando-o. Deixando o Brasil assim dividido: metade considerando-a uma estraga-prazeres e metade tendo-a na conta de uma desmancha-prazeres.
Seguiu-se uma semana de grande expectativa para os torcedores de lá e de cá, com a decisão do resultado da partida a cargo da FIFA. Felizmente, Brasil e Chile não fazem fronteiras pois só Deus sabe a que ponto as animosidades chegariam. De qualquer maneira, o desempenho de Rosinery lhes deve ter mostrado do que é capaz a balística nacional. Outras coisas também nos seriam mostradas, mas aí fica por conta dos acertos da moça com as revistas masculinas.
Quanto ao Rojas (nome que atrai rojão!), o goleiro vai ter que se explicar em Zurique. Negócio seguinte: alguém ser atingido por um foguete luminoso que, no máximo, pode chamuscar (o que não lhe aconteceu no plano físico) e então aparece com um corte no supercílio. Daí, ou estamos diante de um grande prestidigitador ou, então, diante de um azarado que se deixa atingir pelo fecho da própria luva. Correndo o resto do espetáculo por conta de muito mercúrio cromo.
Consumatum est! O Brasil vai estar na Copa de 90. Uma decisão do comitê organizador da FIFA, após considerar que houve abandono de campo por parte dos liderados de Aravena, deu a vitória ao Brasil. Por 2 a 0, conforme estabelece para esses casos o artigo 6 do regulamento da entidade. Como 1 a 0 já estava quando a partida foi interrompida, gol de Careca, não custa nada indicar o autor moral do segundo gol. Agora que o susto já passou, que tal dar o crédito desse gol à Rosenery? À Rosenery que, certamente, vai agradecer esse reconhecimento público não soltando outro rojão.
(1989)

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