De tempos em tempos ressurge a discussão sobre o famoso dedo mínimo de Lula. Aquele que o líder petista não mais possui, claro, já que o outro, em sua dolce vita na mão normal, não é sequer lembrado. A não ser pelo dono, nos momentos em que ele precisa do mindinho sobrevivente para se aliviar de algum prurido no canal auditivo.
Mais recentemente, a discussão tomou corpo quando o seu principal concorrente na corrida presidencial fez o seguinte: adotou, como símbolo de campanha,uma mão espalmada - com todos os dedos à mostra! Como se fosse uma provocação à Lula que, com desvantagem nesse campo, não reúne condições para responder no mesmo estilo. Sob o risco de estar incidindo em meia-verdade.
Outra preocupação é livrar-se dos comentários maldosos sobre a perda digital. Dos "sem-afetos" que, botando o dedo no suspiro, tentam defini-lo como "um trabalhador burro, por ter se acidentado no trabalho". Ora, então esses atiradores de farpas não ouviram o que alguém disse? Sobre aplicar o mesmo raciocínio no caso de Ayrton Senna, apenas para ver a que esdrúxula conclusão se pode chegar.
Principalmente que Senna, o maior piloto de carros de corridas que o mundo já viu, no circuito de Ímola, perdeu bem mais do que um dedo...
A condição de deficiente físico ao líder "minimalista" só pode carrear muitos votos adicionais. Oriundos dos deficientes físicos existentes no país, mas não da parte dos deficientes mentais. Os votos destes, por uma questão de identificação, já estão tendo outro encaminhamento (pelas barbas de Enéas, não me perguntem para quem!).
Teresópolis à parte, um dedo não é tudo! Com os nove que lhe restam, Lula poderá inclusive inovar quando estiver no poder. Não pagando conta pública que antes não tenha passado na prova-dos-noves. Fazendo, sem se equivocar no número, as novenas para Santa Edwirges etc. Contanto que, estando lá, não nomeie ministros cheios de nove-horas (sob o pretexto de que vão participar da reunião palaciana das nove).
Lula não se propõe tocar harpa (embora o país muito se pareça com uma!). Quer apenas governar o Brasil, um país tão cheio de problemas que qualquer um que se meta a resolvê-los terminará cheio de dedos. E, com menos um, ele já parte com alguma vantagem.
Datas da publicação: 17/06/94 no JORNAL DO LEITOR e 29/06/94 no DN - CARTAS
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