sexta-feira, 16 de julho de 2010

O FILANTE DE JORNAL

Anos de observação fizeram-me convicto de que existe o tal filante de jornal. Ele não surge assim acabado, da noite para o dia, como o objeto de seu estranho desejo vício. Ao contrário, ele aparece aos poucos, vai crescendo em intromissão até se tornar algo avassalador. Neste ponto, não sai mais de nossas vidas. E vamos ficando privados de informação, enquanto ele, sozinho, pode ser comparado a uma Agência Reuters ou a uma United Press.
No início, ele não passa de alguém simpático e afável, que nos cumprimenta. Mas é aí que mora o perigo. Pois subestimamos o mal que ele pode nos infligir. Depois, já sentimos o seu bafo quente na nuca (fora do contexto sexual, felizmente), ao qual se seguirão atos progressivamente lesivos a nós, suas vítimas. A nós que, em pouco tempo, seremos desapeados dessa Aldeia Global.
A título de alerta, eis como se dá a escalada de um filante de jornal:
  1. Ele pergunta o que há de novo no jornal.
  2. Ele passa a ler o periódico, posicionado atrás de você.
  3. Faz a mesma coisa, só que em voz alta.
  4. Pega o caderno de esportes e vai ler noutra sala.
  5. Já é o jornal inteiro que ele pega para ler em casa.
  6. Devolve no dia seguinte o jornal, depois de recortados os cupões promocionais.
  7. Não devolve mais, pois tem outros usos para a imprensa escrita.
  8. Ele intercepta o entregador de jornais.

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