sexta-feira, 22 de abril de 2011

O TAL HORÁRIO DE VERÃO

Chegou outra vez o famigerado horário de verão. A gente que o julgava abandonado e inerte, vai, descobre que ele estava apenas hibernando em Brasília. E que, aos primeiros calores do verão, o tal horário ressurge para atazanar a vida da gente. Lembrando Fênix, mas com uma diferença: é o verão (bem, pode ser também um veranico) que o faz ressuscitar. E, obrado isso, tome ele a encher o saco do brasileiro! Eita malfadado horário!... Ainda bem que, daqui a alguns meses, você bate asas e vai embora.
Vai ser cinzas outra vez, numa gaveta qualquer lá em Brasília... Quando a gente, é uma lástima, já começa a se acostumar com você (Masoch explica).
A rigor, para fazer jus ao nome que tem, o horário de verão só deveria começar no dia 21 de dezembro (quando ocorre o solstício no hemisfério sul). E não no dia 15 deste mês, como estabelece o decreto assinado pelo presidente da República. No entanto, para exercer o seu poder temporal - com a carga de malefícios a que tem direito - o tal horário até chega mais cedo! Talvez... para não perder a má companhia do horário do TSE, o qual já está a nos cacetear pela televisão.
Ora, já temos um sistema de registrar o tempo que é uma mixórdia. Dos babilônios herdamos a hora de 60 minutos; dos egípcios, o dia de 24 horas; dos hebreus, a semana de 7 dias. Quanto aos meses, eles nos foram legados pelos gregos, através dos romanos, com estes últimos ampliando a confusão. Pois Júlio César e seu sucessor, imperador Augusto, em medidas de autolatria, rebatizaram dois meses do ano com os nomes de "julho" e "agosto". Além de cada um deles a fevereiro roubar um dia, a fim de fazer - por uma questão de prestígio - o "seu" mês ter 31 dias.
E o pobre do fevereiro, sem patrono, ficou reduzido a 28 dias (29, nos anos bissextos). Sei não, mas esse negócio de mexer no tempo um dia ainda pode acabar mal. Temos um relógio biológico ultrassensível que o horário de verão, em seu mandonismo deslavado, teima em ignorar. Pouco se dando ao segundo o primeiro ficar que nem um dos "relógios derretidos" do pintor Salvador Dalí. E, como uma decorrência disso, o dono do relógio (biológico) ficar menos coruja e mais cotovia.
Imagino-me, toda manhã, eu querendo sair da cama com o corpo argumentando: "No seu horário ou no meu?". Um puto dilema, não é?! Se respeito o horário oficial, ponho-me fora da cama a tempo de chegar ao trabalho com pontualidade. Não o obedecendo - a outra hipótese - aí ganho uma hora adicional no tálamo, justamente quando o "eretismo" está tinindo... Ah, minhas senhoras, além de atrabiliário não é que o maldito do horário é contra o amor! Não se sabendo o que faz mais estragos nesse campo, se ele ou se a televisão na noite anterior.
O duro é suportar todos os transtornos do tal horário para, no fim das contas, medir o resultado que se obtém. A julgar pelo que aconteceu na vez passada, quando o Nordeste economizou... 0,4 por cento de energia elétrica. Uma economia de palito! O caso até de se praticar a desobediência civil, por meio de umas quantas lâmpadas acesas... Se isso, voltando-se contra o protestador, não lhe aumentasse a conta da luz. Pois é, sorte tem o Norte (onde anda Sting?) que o decreto, em sua versão 89, poupa do vexame. Beneficiado pelo fuso? Ora, alguém está con... fuso.
E o Apocalipse que ninguém sabe quando vai ser? Só tomara que ele, se tiver em breve de começar, não vá se basear no tal horário de verão. Porque aí a gente terá perdido uma hora de vida, bestamente.

DN CARTAS, 19/10/89
O POVO, 21/10/89

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