sábado, 14 de junho de 2008

MÉDICOS: POESIA E PROSA

Carlos D’Alge

Em 1995, a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Ceará publicou o seu décimo livro reunindo a produção literária dos seus associados.
Para assinalar essa ocorrência, a Sociedade edita a Antologia Até Agora 1983 – 1996, que será apresentada por ocasião do XVI Congresso Nacional da SOBRAMES.
A Antologia inclui 25 poetas e 22 prosadores, números expressivos que comprovam o traço humanístico desses médicos que, entre os hospitais, as clínicas e o Curso de Medicina, ainda encontram vagas para a literatura.
Vejamos os poetas. São 67 composições, numa média de três por autor. Todos eles figuraram nas antologias da SOBRAMES – CE. Entre eles, há um desaparecido, Caetano Ximenes Aragão, cujo Romanceiro de Bárbara foi muito festejado pela crítica. Caetano era um humanista. Clínico Geral, possuía uma bem selecionada biblioteca. Coerente com as idéias da juventude, nos seus livros registrou preocupação com a justiça social. O médico Geraldo Bezerra oferece um dos poemas desta Antologia a Caetano:

“O poeta montou no seu sonho
E alegre, risonho
Voou para o além.”


Luís Teixeira Neto é o autor do poema mais longo, com o título “Poema sem nome, escrito em 1968”. Emanuel Carvalho de Melo dedica um dos seus poemas a John Lennon, cuja poesia e música embalaram o sonho de muitas gerações. Heládio Feitosa e José Rômulo Barbosa são autores de bem elaborados sonetos. Pedro Henrique Saraiva Leão, poeta, acadêmico, professor e presidente da SOBRAMES –CE, no estilo que já é conhecido, ironiza poeticamente ocorrências que assustam o mais comum dos mortais, como o câncer e o infarto:

“Não tenho medo do câncer
temo que canses de mim.
É preciso que eu esteja farto
quando o infarto chegar
que o carteiro tenha passado
que a festa tenha acabado.”


Finalmente, já que não há tempo nem espaço para citar todos os 25 poetas, destaque-se o poema “In memoriam Sr. Andrade de Tal, um cadáver de estudo”, de Ricardo Augusto Rocha Pinto, e ainda os poemas de Antero Coelho Neto e Hamilton Monteiro.
Os prosadores, em número de 22, são autores de 34 textos divididos entre a crônica e o conto. Não é fácil precisar os limites do conto. A crítica tem procurado estabelecer alguns parâmetros que são discutíveis. Moreira Campos dizia que conto era tudo aquilo que o autor assim denominava. Há os modelos tradicionais: Machado de Assis, Eça de Queirós, Humberto de Campos, que também escreveram crônicas para os jornais. O conto moderno, que nasce com Tchecov e Maupassant, hoje é mais curto e tende a fixar uma situação.
Nos cronistas e/ou contistas da Antologia Até Agora há uma exceção, homenagem ao saudoso médico, fundador da Faculdade de Medicina, e humanista, Newton Gonçalves. A sua aula de abertura dos cursos da Faculdade de Veterinária do Ceará, proferida em 1º de março de 1972, com o título de “Louvação dos Bichos”, é um bem documentado trabalho sobre os animais do nosso cotidiano.
Dos 22 prosadores realço duas interessantes narrativas: “A Heroína de Mossoró”, de Francisco Nóbrega, episódio do tempo de Virgulino Lampião, e a de Marcelo Gurgel que, entre o sentimento de perda e saudade, evoca o médico Paulo Marcelo Martins Rodrigues.
E, para concluir, destaco as crônicas de Roque Muratori (meu colega no Colégio Cearense), Flávio Leitão e Cleto Brasileiro Pontes, e ainda os contos de Paulo Gurgel.

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