sexta-feira, 9 de maio de 2008

MARCHA À RÉ

1
Com o primeiro automóvel fabricado no Brasil surgiu também a imagem ideal para descrever o desempenho da nossa economia.
Vamos lá.
É que coube a JK, no fim dos anos 50, como pai da nascente indústria automobilística, o mérito de engrenar a primeira. E a Jânio (sob os seus protestos de que o veículo não era movido a álcool), a segunda marcha. Quando o veículo, então, tomado de enguiços ocultos, deu pinotes, estancou.
Jango pegou o volante, tendo problemas com a caixa de câmbio. E bastou dar uma guinada à esquerda para fazer o veículo tombar.
A seguir, fardados motoristas se revezaram na direção do veículo. Engrenando a terceira, a quarta... O carro era o "milagre brasileiro". E nós obrigados éramos a usar o cinto de segurança nacional. Sei não, mas como a conjuntura internacional na época se mostrava favorável, sou hoje levado a pensar que o carro estava "na banguela". Ou, então, simplesmente a reboque da economia norte-americana.
Com Figueiredo a farsa acabou. Gostar ou não gostar do cheiro dos cavalos foi a questão do seu tempo.
Nos anos 80, o automóvel só andou com o freio de mão puxado.
E veio a era Collor, com o carro enfrentando uma crise de identidade: provar que não era carroça. Aí, tome marcha à ré nele!
Teríamos recuado muito, não fora o roubo brabo de combustível.
Mas, o fato é que chegamos. De volta ao passado. O homem (ao volante) é Itamar, a mulher pode não existir e o carro é... o fusca.
Cada economia tem o Deus ex machina que merece.
2
O Brasil não tem um animal-símbolo. Como os Estados Unidos que são lembrados pela águia que, a nosso ver, não passa de um símbolo rapinado da antiga Roma. Como também a Rússia, a Grã-Bretanha e a Austrália, importantes nações que, de modo informal, são representadas pelo urso, leão e canguru, respectivamente.
Mesmo a Sereníssima República de San Marino já tem o seu símbolo oriundo do reino animal: a ameba. E a África do Sul acaba de se fixar na zebra, um animal branco de listras pretas (ou vice-versa, conforme o CNA), símbolo mais que perfeito para o país do apartheid!
O Brasil não se chama Peru para estar, por motivos óbvios, dispensado da escolha do seu animal-símbolo. Nem se chama Serra Leoa. Nem República dos Camarões. Por isso, não pode desprezar essa estratégia de marketing, usada há muito tempo por empresas, partidos políticos e times de futebol.
Urge, assim, escolhermos o animal que nos sirva de referencial no chamado concerto das nações. Com todo o merecimento, já que somos o berço do jogo do bicho e que é aqui onde o horóscopo manda ver.
Então, declaremos aberta a temporada de caça ao animal que vai simbolizar o país. Com a esperança de que ele, devidamente subjugado, aceite o espinhoso cargo. Pois, conforme o caso, podemos ameaçá-lo com a jaula, o empalhamento e os nossos estômagos.
Sugestões já estão sendo recebidas. Dentre as quais, a de um nome que, numa seleção ampla e irrestrita, deve se mostrar imbatível.
O caranguejo. Que, igual ao Brasil, tem o aferrado costume de andar para trás.

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