quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O BEIJO

O beijo: taí um tema que anda nas bocas. Descrito como o ato de pousar os lábios em alguém, vá lá, o beijo é um ato de superfície não necessariamente superficial. Ah, a profundidade que ele tem quando o coração está na jogada! (E reparem que eu não estou falando apenas do beijo de uma mulher que pinta os lábios em coração.)
Além do beijo pessoa-pessoa há o pessoa-coisa, não esqueçamos. Quando se beija, por exemplo, um amuleto, uma carta de baralho ou um bilhete de loteria - de olho na sorte grande. O beijo que o pugilista dá na lona, de olho roxo, bem... deve ser uma exceção à regra.
Como surgiu o beijo? Dan Carlinsky, um estudioso do assunto, viu o começo de tudo nas aves que, bico a bico, alimentam seus filhotes. Depois, com um simples aperto na tecla de fast forward, Dan avançou milhões de anos e chegou aos homens das cavernas. Não é que os cavernícolas lambiam, uns aos outros, nas faces, como forma de compensar a carência orgânica de sal?
A civilização nos legou benefícios. Um deles, o de que, com a invenção do saleiro, ficamos todos mais elegantes à mesa da refeição; outro, o de que atrelamos novas razões e emoções ao ato de beijar. Há uma classificação para o beijo: 1) caloroso, 2) afetuoso, 3) religioso e 4) voluptuoso.
O primeiro tipo, o beijo caloroso, é o das pessoas que, em sinal de amizade, beijam-se nas faces. Esbanjado pelos eslavos, vem se universalizando. Os últimos, talvez, serão os esquimós que ainda desconhecem o beijo: eles se contentam em esfregar o órgão do atchim. (Gente fria é outra coisa!). O segundo, o beijo afetuoso, quem tem supermãe tem todos.
Já o beijo religioso é o que se dá, como sinal de respeito, em uma autoridade eclesiástica. O anti-exemplo dele foi o beijo, de triste memória, dado por Judas na face de Jesus. Naquele tempo, Jesus mostrava aos homens o caminho do Céu, o caminho alternativo com relação a todos outros que só levavam a Roma. Deu que os "omes" não gostaram da pregação e resolveram tirá-lo de circulação. Estavam só precisando de um "beijo-duro", quando apareceu Judas, que andava com problema de caixa. Judas entregou o Nazareno e, desde então, tem sido (merecidamente) malhado.
O último tipo, o beijo voluptuoso, o que dizer dele? É o que nos transporta ao céu (da boca, bem entendido), é o que não conhece a barreira da língua (pelo contrário), é o que instaura na gente o princípio do prazer (cujo fim é também o prazer). Bem-aventurados os que têm bons lábios. Bem-aventureiros os que têm boas lábias.
Sinônimo de beijo é ósculo, os dicionários registram. Desculpe-me, minha senhóra, mas ósculo parece beijo de sujeito pedante, daquele que a chama de minha senhôra. Já beijoca, palavra também dicionarizada, soa melhor pois é, exatamente, o beijo com estrépito. O smack dos norte-americanos, o "?" dos brasileiros, que aqui ninguém sabe a ortografia de algo que só existe na tradição oral. Mmmrrrzzz? Pppfffttt? Nnnssslll?
Aconteceu de um cientista calcular a quantidade de germes a serem transmitidos num único beijo. E, com esta descoberta em mente, ele, ao chegar a residência, então evitar o beijo de sua (dele) esposa;
- Não, querida, beijo na boca, não.
- Já sei. Você não quer se arriscar aos 100 milhões de Streptococcus pyogenes do meu beijo.
- Seja compreensiva. Você não está usando pastilhas antissépticas.
- Cafajeste, não exige isto quando vai nos beijos de suas secretárias. No de F., que tem 150 milhões de Staphylococcus aureus, no de B., que tem 230 milhões de Haemophilus influenzae e no de S., que, com 375 milhões de Pseudomonas aeruginosa, mais parece uma guerra bacteriológica.

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